Orfandade

A orfandade é uma situação psicológica e não uma circunstância medida. Ela existe em qualquer tempo da existência independente de termos ou não, nossos pais por aqui

Por: Luiz Alca  -  16/08/20  -  13:37

Ao contrário do que temíamos na infância e adolescência e ao que pensam os concretos e céticos que só conseguem raciocinar diante do fato, do tangível, não ficamos órfãos apenas quando perdemos nossos pais fisicamente, por sua partida deste mundo.


A orfandade é uma situação psicológica e não só uma circunstância medida. Ela existe em qualquer tempo da existência independente de termos ou não, nossos pais na presença física. Sentimo-nos órfãos sempre que, estando carentes ou vazios, precisamos de um beijo, de um abraço, da exata compreensão às ânsias e necessidades, numa determinada medida, na hora certa, no momento exigido pelas emoções que clamam por entendimento, cobertura, apoio ao sufoco, carinho, respostas ou ouvidos dispostos a escutar. 


E isso não acontece. Diante dessas colocações, incautos da complexidade humana ou aqueles concretos mencionados acima, poderão dizer “mas isso é exigência absurda” ou “você nunca vai encontrar essa medida”.


Sem dúvida que não, por isso somos órfãos...naquela hora, no dia que a carência bate, nas situações que precisamos tanto de um suporte. Também não há a menor dúvida de que temos que aprender a lidar com essa ausência, com as frustrações, com o vácuo. E entender que nem sempre as pessoas à volta podem nos suprir, nos dar aquilo que precisamos, mesmo as mais dedicadas e na certeza, do afeto. Até porque têm as suas próprias carências, muitas vezes, nem percebidas ou escondidas atrás de uma capa de defesa.


Mas aí é que vem o importante deste apelo: aprenda que nem sempre poderemos receber do outro o que precisamos; só não podemos, de jeito nenhum, em nome disso ou das acusações alheias de capricho, exigência desmedida ou mimo, descredenciar as nossas próprias necessidades. Esse é o caminho certo para levar a auto-estima para baixo, para se tornar uma pessoa mal amada por si mesmo.


Se você não valorizar os seus anseios, não respeitá-los, não avaliar a importância para o sonhado equilíbrio, quem vai fazê-lo? Como esperar respeito dos parceiros, parentes e amigos íntimos à sua individualidade e busca se isso não parte de você? Da consciência da própria unicidade que nasce do autoconhecimento?


E mais, por favor: não permita que ninguém chame de “bobagem” aquilo que é importante para você, mesmo não o sendo para ela. Essa é a desconsideração máxima! Se você vê como fundamental a sua sessão de terapia e o seu marido classifica aquilo como bobagem e você permite, desculpe, mas o erro é seu. Ele, no máximo, não foi sensível; você se deixou aviltar.


Creio e adoto hoje como um código de vida, já ter batalhado o suficiente em termos de manter a autonomia pessoal, profissional e financeira para não admitir mais isso, vindo de quem venha. Na certeza e constatação de que nunca vem das pessoas que sentem os meus significados. Justamente por isso, tenho-lhes profunda amizade ou amo. 


O que é importante para mim, como princípio de vida ou condição para o meu equilíbrio emocional ou prazer não tem que ser obrigatoriamente para ou outro e jamais imponho isso, mas não admito que estenda esse julgamento a mim. 


Só eu sei das minhas importâncias e essa é a base da autoestima e do autorespeito que hoje cultivo como preciosidades.


Neste momento, acha que sabe das suas?


*Texto publicado em 29/8/2015, na revista Luiz Alca Crônicas, página 40


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