Hipnose da Autoimagem

Há dois comportamentos fundamentais para se atingir um equilíbrio entre a inferiorização e o convencimento doentio: a autoestima e a humildade

Por: Luiz Alca  -  16/08/20  -  11:24

Um dos comportamentos que surgiram da onda individualista que dominou a Sociedade Sistemática e que hoje é praticado por tantos e tantos, é a Hipnose da Autoimagem, bastante analisada na atitude das pessoas e nos meios psicanalíticos como resultado e consequência da forma de viver atual.


Trata-se de um mecanismo de defesa pré-consciente que leva alguém a se encantar mais da conta com a própria figura, incluindo suas opiniões, seu propalado jeito de ser (que na verdade não é de ser, mas de agir), sua postura diante da existência de forma a julgar que está sempre certo, que possui uma sabedoria nata e um bom senso que dispensa questionamentos. Aliás, um traço claro é esse: achar que não precisa ouvir ninguém e nem acatar propostas ou dicas; conselhos então, nem pensar...


O hipnotizado pela própria imagem demonstra isso com razoável clareza: quando fala, não conversa, troca ou argumenta; apenas declara ou profetiza. Nenhum outro discurso ou prosa o encanta senão o seu e nessas horas, olha à volta como esperando a aprovação e o aplauso. Um misto de vaidade, egocentrismo, convencimento que formam um manto que no fundo esconde uma tremenda insegurança, jamais assumida.


Visões infladas acerca de si mesmo no fundo escondem o pavor de enxergar-se como uma pessoa comum, falha, que comete erros e acertos, e sujeita às pressões e pavores do mundo e marcada pela falibilidade que faz parte do juízo humano.


Tudo bem que seu oposto, a desvalorização personal absoluta também é muito prejudicial. Inferioriza, descredencia valores, inibe qualidades, ignora talentos e desperdiça possíveis dons. O pior é não identificar o precioso da Individuação, essa dádiva que ilumina uma vida e é caminho para mostrar o verdadeiro sentido da nossa passagem por aqui.


Mas quem sofre de Hipnose de Autoimagem também é incapaz de valorizar a Individuação, a verdade maior de cada um de nós. O fascínio que tem sobre o ego (e não o Eu, como sempre os distinguo) vem de recursos externos, de elementos de efeito, da correspondência ao modismo e de criar formas falsas. Geralmente, faz gênero o tempo todo ou se refugia nas tendências da hora, como um corpo malhado, uma atividade que chame a atenção, o status, o poder, o dinheiro.


Há dois comportamentos fundamentais para se atingir um equilíbrio entre a inferiorização e o convencimento doentio: a autoestima e a humildade. Quem os tem na dose precisa nem se acha abaixo e nem acima de ninguém.


E tem a certeza de que afirmação e posicionamento são exercícios diários da inteligência.


*Texto publicado em 29/8/2015, na revista Luiz Alca Crônicas, página 54


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