Falsa virtude

Falsa virtude é você se revestir de uma qualidade eleita pela sociedade e acreditar nela piamente

Por: Luiz Alca  -  29/11/20  -  13:34
Atualizado em 19/04/21 - 17:48
  Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

Falo muito aqui e em todo o meu trabalho comportamental, na importância de se lutar humildemente para evoluir, a razão primeira, na minha modesta opinião, de estarmos aqui. Evoluir não é crescer e muito menos, se destacar ou se tornar alguém que se julga pronto ou além das misérias humanas; sequer imune às quedas e fraquezas. Muito pelo contrário.


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É, sim, aprender dos erros, lutar para e tentar de todas as formas não deixar que os deliciosos hábitos matem o interesse, esse "lúmen naturale" (luz natural) que nos mantém atentos, perceptivos e que renova a inteligência em qualquer fase ou idade. O que acaba de ser provado.



Também procurar dar o valor certo para as coisas, não se prender ao pó e à mesquinhez, driblar o egoísmo e assim, ter alguns encontros - e nunca alcançar ou conquistar com dizem os pretensiosos - com a maturidade. Como diz Frei Betto "Maturidade é não dar mais a menor importância ao que não tem a menor importância".

Um dos itens também primordiais é tomar todo o cuidado possível para não se atrair pela falsa virtude, hoje muito comum, tanto em nome das exigências de perfeição quanto da insegurança que nos ronda e precisa ser escondida por biombos cor de rosa que possam dar a impressão de que está tudo bem, de que somos ótimos e que...somos felizes e realizados todos os dias, negando a saudável insatisfação.

Falsa virtude é você se revestir de uma qualidade eleita pela sociedade e acreditar nela piamente. Como afirmar convictamente que é uma pessoa generosa, que não liga a mínima para o dinheiro (e de repente, ter atitudes absolutamente sovinas sem registrar), que é a melhor amiga que os amigos têm (e nos mínimos gestos demonstrar um egoísmo enorme) ou que é o mais responsável do mundo (e esquecer até o compromisso do dia seguinte).

Justamente porque forma uma imagem positiva: é legal desprezar dinheiro num mundo ganancioso e mercantilista, considerar-se o amigo mais certo numa sociedade infiel e vendida e o melhor profissional do mercado num cenário tão incompetente como se vê hoje.

O problema de alguém se manter nas falsas virtudes é que não consegue se corrigir e assim, consequentemente, evoluir, aprendendo dos erros, assumindo as falhas e avaliando defeitos tão humanos. Essa é a razão de nunca vestir a carapuça e de não aproveitar uma crítica vinda do outro, mesmo com a melhor intenção.

Tenho muito medo de me tornar assim, até pelos elogios recebidos. De perder o bom senso e a autocrítica, fascinado por uma imagem incensada numa sociedade rápida e muitas vezes, hipócrita, que enaltece por ser muito mais fácil e descompromissado.

Não que relegue as virtudes ou não as reconheça. Sei que tenho umas poucas - a falsa modéstia é outro prejuízo - e louváveis, mas também sei que não posso deitar e rolar sobre elas só pela validação alheia.

Uma consciência lúcida e forte: somos seres patéticos entre nossas misérias e riquezas, o que nos faz interessantes. Desde que longe das falsas virtudes.


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