Exemplo e fantasma

As pessoas têm muito medo daqueles que personificam tudo aquilo que elas não tiveram coragem de viver e queriam muito, mesmo sem o descobrir, em alguns casos

Por: Luiz Alca  -  11/10/20  -  19:49
Atualizado em 19/04/21 - 17:45
  Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

Uma pessoa me fala da hostilização que sente por parte de uma cunhada, a quem nada fez de mal e com quem não teve qualquer atrito, mas que sempre demonstra má vontade e a agride com palavras, assim como tenta desvalorizar suas opiniões, em tudo, sempre que estão juntas.


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Outra, sente a marginalização de um colega de trabalho de forma ostensiva, sem qualquer motivo plausível, ainda que tenha lhe elogiado à distância para um outro colega por sua coragem de assumir certas posturas, o que ela julga ser também a sua verdade e que o cara esconde através de uma postura rígida e intransigente.


Casos assim são muito mais comuns do que podemos avaliar e passam uma certeza comportamental: as pessoas têm muito medo daqueles que personificam tudo aquilo que elas não tiveram coragem de viver e queriam muito, mesmo sem o descobrir, em alguns casos. E esses que personificam acabam sendo o antiespelho que incomoda, irrita, faz um mal danado porque, de uma forma ou de outra, mostra a covardia ou a insegurança de alguém.


Eis porque muitos incomodam os outros sem perceber e é claro, sem qualquer explicação ou justificativa, aparente. Não pelo que fazem, mas pelo que são ou representam na ordem dos valores existenciais.


É assim que surge a homofobia, a maledicência, a perseguição política e profissional e tantas outras atitudes abomináveis da condição humana. Se um cara está resolvido com sua sexualidade porque vai debochar ou ridicularizar um homossexual?


Se uma mulher (ou um homem, claro) sabe do que quer em termos de fidelidade e a pratica por opção, porque jogar lama na moral dos outros, e vivenciando a fofoca maldosa a ponto de tentar destruir?


O que vale para tudo em todas as circunstâncias. Quem está reconciliado com suas questões mais fortes ou tomou consciência de que lhe cabe cuidar de si (e olhe lá), já fazendo muito, não persegue e nem censura. No máximo, opina, já que é quase impossível não julgar internamente.


Há certas atitudes libertárias, corajosas, dignas, retas, decididas que acabam sendo uma ofensa pessoal para quem está à volta e não consegue atingir uma postura diante do mundo que no fundo inveja, sendo incapaz de admirar, já que isso é um privilégio de quem não tem mais nada a provar para ninguém ou não mais precisa de desculpas para as atitudes, assim como para os erros, de repente vistos com clareza.


Os que personificam o que os outros gostariam de ser e não conseguem, precisam entender isso. Com toda a humildade, mas com a convicção de que ninguém serve de exemplo para ninguém, quando não se quer, mas que pode servir de fantasma.


*Texto publicado em 29/8/2015, na revista Luiz Alca Crônicas, página 34


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