Falhas e trocas

Todos parecem muito compreensivos e criticam exigências alheias, desde que tenham garantida a sua própria vantagem

Por: Luiz Alca  -  06/12/20  -  11:27
  Foto: Imagem Ilustrativa/Unsplash

"Gosto muito de você, Luiz, porque nunca me faltou quando eu precisei". A frase dita muitas vezes por pessoas conhecidas, já me encantou no passado; achava o máximo ouvir isso, ao mesmo tempo em que me esforçava cada vez mais para agradar, atender a todos os pedidos e solicitações, mesmo os difíceis, quase impossíveis dentro das minhas humanas e parcas possibilidades.


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Hoje, ouvir isso, se não me desagrada, causa certo incomodo, ainda que reconhecendo, por um lado, o modo de dizer e por outro, a boa intenção da pessoa ao enaltecer uma postura minha diante dela. Por que? Pelo simples e grande motivo de que um dia, de um jeito ou de outro, vou falhar, não sendo perfeito, não conseguindo agradar sempre, por ter os esquecimentos naturais, por estar assoberbado, enfim. E aí, como é que fica, a pessoa não gosta mais?


Deixo de ser alguém especial que ela admira? Saberá compreender essas falhas e não alterar a estima, o bem querer ou a partir de então, a nossa relação muda. Será isso amizade ou uma troca conveniente. Temos uma solidez de relacionamento ou ele vai até a página 20?


Aliás, dá para perceber isso nas relações humanas, desde o mimo a que muitos estão acostumados a caprichos que permanecem num comportamento que chamo de puberdade eterna. Percebo muito claramente isso e na maioria das vezes, finjo ignorar. Em fase que estou organizando um evento, por exemplo e me desgasto ao máximo para atender a todos, até exagerando em meu próprio prejuízo físico e mental.


Todos parecem muito compreensivos e criticam exigências alheias, desde que eles tenham garantida a sua própria vantagem. Cheia a ser cômico, para se cair no trágico...


Em nome de tudo isso, uma clareza que nos ajuda a sofrer menos, a não deixar que as decepções se aprofundem, a diminuir o efeito das frustrações - que sempre vão surgir de uma forma ou de outra: é legal a gente ser gostado pelo que faz, mas muito mais importante ser estimado pelo que se é.


Há amigos em que sinto claramente esse despojamento, embora poucos. Percebo que não só convivem e entendem as minhas falhas, principalmente aquelas relacionadas com a impossibilidade de tempo de estar presente, como demonstram um sentimento livre de condições ou até mesmo de compromissos.


Ligam apenas para saber como estou, facilitam as coisas, não criam problemas e colocam acima de tudo, o relacionamento de carinho que temos e essa troca maravilhosa muito além de pendências ou favores.


O que torna tudo não só mais fácil, assim como mais amplo e gratificante, em sendo a compreensão a o ato interativo maior em qualquer circunstância e elemento fundamental contra a solidão.


Ser amado pelo que se é e não pelo que se faz é muito bom, restaura nossa confiança no afeto integral.


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