A magnífica criatividade

Não tenho a menor dúvida de que as almas inquietas e criativas serão sempre as mais criticadas, mas também as mais bem resolvidas pelos caminhos tortuosos da vida que exigem interpretação

Por: Luiz Alca  -  16/08/20  -  13:23

Tenho me batido muito para que as pessoas lutem contra a  preguiça de pensar, hoje instalada na maioria das mentes, quer em nome do utilitarismo da sociedade que leva à falsa imagem de que a concretude é tudo de bom, quer em nome da alucinação tecnológica que parece conter todas as respostas e o domínio da inteligência humana.


Assim, pensar, refletir, conjeturar, trocar pontos filosóficos e tentar chegar a soluções e resultados pelo exercício mental, por questionamentos íntimos e pessoais ou múltiplos em argumentações com os outros, tornou-se raro. É o que pode haver de mais lamentável, já que as pessoas perdem com isso a sua maior arma existencial.


Hoje se tem como certo que jamais se pode colocar em lados opostos o raciocínio e a criatividade, duas forças sublimes da inteligência que caracterizam o homem. E que chamam para o interesse e vice versa. Não consigo entender como é possível que alguém desinteressado de tudo o que possa fazê-lo pensar seja inteligente, já que um é sintonia do outro. Quando ouço, por exemplo, “meu marido é muito inteligente, mas não tem interesse por nada que não seja a rotina de trabalho”. Como é possível, gente?


A criatividade ajuda a que o raciocínio alcance novos rumos e crie abrangências, assim como consiga gerar novas opções e não fique apenas à espera que as coisas aconteçam. Einstein afirmava que “a criatividade é muito mais importante do que a informação” Eis a importância de relacionar o raciocínio com a criatividade em termos de mecanismo mental.


Um é pensamento convergente, a outra um pensamento divergente; um, une movimentos mentais para atingir soluções usando o repertório de saberes já existente. A criatividade desconcentra, digamos assim, aproveitando o advento da idéia para criar novos caminhos. Na reflexão, já definida aqui semana passada, usamos o convergente e o divergente. E então, milagres acontecem em termos respostas a nós.


Uma circunstância e um sentido ajudam muito: a instabilidade em termos externos a inquietação, como chama interna. Em tempos instáveis, sem dúvida nos tornamos mais criativos para poder sobreviver e a benção das almas inquietas provocam a luminosa inconformação.


Nesse processo entram os recursos de dedução e indução. A dedução que provém do raciocínio parte de dados para chegar à conclusões enquanto que a indução, da busca e dos saudáveis incômodos para formar um novo material e renovar conceitos. Dois grandes personagens populares da literatura encaram as duas armas da inteligência: o detetive Sherlock Holmes, de Conan Doyle e o desbravador Robinson Crusoé, de Daniel Defoe. O que se conclui que cada herói usa a sua forma de ultrapassar barreiras e ganhar o mundo. Concordam? Desde que não se acomode...


A magnífica criatividade deriva do descontentamento e subverte estabilidades, sistemas fechados. Daí, ser tão incompreendida, mas altamente recompensadora.


Não tenho qualquer dúvida de que as almas inquietas e criativas, serão sempre as mais criticadas, mas também, as mais bem resolvidas pelos caminhos tortuosos da vida que exigem interpretação.


*Texto publicado em 29/8/2015, na revista Luiz Alca Crônicas, página 52


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