Santos assume pagamento de R$ 4 mi a empresa que intermediou Mecanismo de Solidariedade de Neymar

FK Sports substituiu a Quantum, contratada pelo ex-presidente Modesto Roma, e travava briga judicial com o Peixe desde 2018

Por: Bruno Lima  -  04/04/21  -  10:45
  Foto: Divulgação/Twitter PSG

A transferência do atacante Neymar para o Paris Saint-Germain, em agosto de 2017, resultou em uma despesa de mais de R$ 4 milhões ao Santos. Em dezembro do ano passado, o clube reconheceu na Justiça uma dívida com a FK Sports, empresa de Santana do Parnaíba, que cobrava pela intermediação para que o Alvinegro recebesse 5% do valor total da transação.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!

O time parisiense adquiriu o brasileiro do Barcelona por 222 milhões de euros (R$ 820 milhões na cotação da época), e o percentual em questão é referente ao Mecanismo de Solidariedade - dispositivo da Fifa que dá aos clubes formadores até 5% do valor das transferências.

A disputa entre Santos e FK Sports se arrastava desde 2018. O ex-presidente José Carlos Peres se recusava a fazer o pagamento, pois entendia que a intermediação foi realizada sem necessidade na gestão do ex-presidente Modesto Roma Júnior, uma vez que o Mecanismo de Solidariedade é uma obrigação automática dos clubes compradores.

Porém, no acordo assinado em 4 de dezembro de 2020, ao qual ATribuna.com.br teve acesso, o Santos, representado pelo ex-presidente Orlando Rollo e dois advogados, confessou e reconheceu, “em caráter irrevogável e irrefutável, ser devedor da FK Sports, no valor de R$ 4.104.000,00 a título de renegociação da dívida”, que motivou a ação.


Neymar custou 222 milhões
Neymar custou 222 milhões   Foto: R$ 820 milhões

Além disso, o Alvinegro reconheceu e assumiu o pagamento referente aos honorários dos advogados da empresa no valor de R$ 456 mil.

O acordo entre Santos e FK Sports foi homologado pelo juiz Joel Birello Mandelli da 6ª Vara Cível de Santos.

Forma de pagamento

Em razão deste processo, a Justiça mantinha bloqueada uma conta bancária do Santos com R$ 2.707.583,94 penhorados. Diante do acordo, a FK Sports levantou 50% do saldo na conta (R$ 1.353.791,97) para o pagamento inicial da dívida. Assim, a pendência com a empresa ficou em R$ 2.750.208,03.

Dos 50% restante na conta alvinegra, também foram retirados os honorários dos advogados da empresa. Com isso, restaram R$ 897.791,97, que foram desbloqueados e liberados para uso da diretoria alvinegra já na época do acordo.

Os mais de R$ 2 milhões a serem quitados com a FK Sports foram divididos em 10 parcelas mensais de R$ 275 mil. Os pagamentos começaram em janeiro e terminam em outubro deste ano. As prestações vencem todo dia 10.

Início do imbróglio

Para contar com Neymar, o PSG depositou o valor da multa rescisória na conta do Barcelona e, sob a justificativa de que a transferência havia se concretizado sem negociação com o clube espanhol, os dirigentes franceses teriam se recusado a fazer o repasse do Mecanismo de Solidariedade ao Santos.

Diante desse posicionamento, Modesto firmou um contrato com a Quantum Solutions Limited, empresa de Malta, para conseguir receber 5% do negócio. Após a ida de Neymar para o PSG, a FK Sports substituiu a Quantum na cobrança aos santistas.

No contrato assinado com a Quantum, ficou definido que, em caso de sucesso no serviço, o Santos pagaria 5% dos valores recebidos dos franceses à empresa. O percentual representava R$ 1,7 milhões.


O ex-presidente Modesto Roma Junior foi excluído do quadro associativo do Santos
O ex-presidente Modesto Roma Junior foi excluído do quadro associativo do Santos   Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Meses depois da transferência, o PSG fez o pagamento de R$ 33 milhões ao Santos e a Quantum, que alegou participação fundamental no recebimento da quantia, acreditava que o Alvinegro faria o repasse dos 5% combinados imediatamente. Porém, isso não ocorreu.

Sem ver a cor do dinheiro, a FK Sports ajuizou a ação cobrando o percentual firmado no contrato mais juros de 1% ao mês, e isso fez a dívida ultrapassar os R$ 4 milhões.

“De jeito nenhum”

Em 2018, o ex-presidente José Carlos Peres iniciou a gestão e não aceitou fazer esse pagamento à empresa, pois entendia que não havia motivos para isso.

“Até aonde sabemos, a questão é muito simples. O Santos não teria de jeito nenhum que pagar nada, porque o próprio departamento jurídico do clube poderia ter feito essa liberação do dinheiro. Era só fazer um protocolo de solicitação da transferência, porque o dinheiro já estava separado. Houve uma intermediação muito estranha”, disse Peres à Reportagem em fevereiro de 2018.

Em 24 de novembro do mesmo ano, Peres foi mais uma vez questionado sobre a quitação da dívida e seguiu decidido a esperar a sentença final da Justiça: “Não vou pagar de jeito nenhum. O direito de bater o pé é legítimo, mas este caso é uma vergonha”, bradou.


  Foto: Ivan Storti/Santos FC

Ao apresentar a sua defesa na Justiça, no segundo semestre de 2019, o Santos, sob administração de Peres, apresentou documentos e acusou o ex-presidente Modesto de agir em conluio com a empresa para obter enriquecimento ilícito.

Modesto, porém, rebateu: “O Santos, por meio dessa diretoria, está, como sempre, evitando os compromissos do clube e usando qualquer argumento. Então, terão que provar o que estão dizendo. E a Justiça é que vai dizer quem está com a razão. Tenho a consciência tranquila de tudo o que foi feito, foi feito para o melhor do clube”.

Por causa do episódio envolvendo a Quantum e da reprovação das contas de 2017, Modesto foi expulso do quadro de sócios. Ele tenta anular a punição na Justiça, mas no meio do mês passado o Tribunal de Justiça de São Paulo negou a ele uma liminar.

Em determinado momento do processo, a FK Sports pediu à Justiça parte do dinheiro da venda de Rodrygo ao Real Madrid.

Diminuir o valor

Também procurado, o ex-presidente Orlando Rollo explicou que o acordo foi firmado por já haver decisão judicial contra o Santos, pela qual o clube teria que pagar R$ 4,6 milhões.



Além disso, a proposta foi apresentada pela superintendência financeira do clube e aprovada pelo Comitê de Gestão, já que o acordo diminuiria o valor devido e desbloquearia a conta do Santos.

Rollo também ressaltou que, após cumpridas as exigências estatutárias, foi realizado o acordo, assim como vêm sendo realizados acordos pela atual gestão, exemplo: Doyen.

Por fim, o ex-presidente disse que o acordo possibilitou, com o valor excedente, pagar compromissos financeiros atrasados e ganhar tempo para pagar o acordo feito com a empresa.

O imbróglio teve fim em 9 de dezembro do ano passado, antes da sentença, com o juiz da 6ª Vara Cível de Santos julgando o processo extinto diante do acordo entre as partes.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter