'Quero marcar história no Santos, deixar um legado. Não me vejo em outro clube', diz João Paulo

Com 26 anos, o goleiro tem o desejo de permanecer toda a carreira na meta alvinegra

Por: Bruno Lima  -  06/12/21  -  07:32
João Paulo quer igualar feitos de Marcos e Rogério Ceni, que só jogaram por um time
João Paulo quer igualar feitos de Marcos e Rogério Ceni, que só jogaram por um time   Foto: Ivan Storti/Santos FC

Principal jogador do Santos na luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, João Paulo completou dez anos de clube nesta temporada. Em entrevista para A Tribuna, o goleiro revelou que sonha em virar um ícone da meta santista, mas que ainda se vê longe de alcançar o status de ídolo. Dono da camisa 34, o atleta falou sobre as dificuldades do time no ano, responsabilizou gestões passadas pelo momento da instituição e rebateu aqueles que o acusam de não sair bem do gol em jogadas de bolas aéreas.


O Campeonato Brasileiro está perto do fim. Quem são os três principais goleiros da competição?


(Risos) pergunta difícil, hein?! Acho que o Everson, do Atlético-MG, fez um grande campeonato, tanto que é o campeão. O Marcos Felipe, do Fluminense, e o Weverton, do Palmeiras, também foram bem. Mas o campeonato teve grandes destaques na posição.


Estamos a praticamente um ano da Copa do Mundo. Dá tempo de conquistar um espaço na Seleção?


Não fico pensando muito nisso. Se acontecer, vai acontecer naturalmente. O meu objetivo e foco estão aqui no Santos. A gente sempre sonha, mas isso não tira o meu sono. Hoje o Brasil tem grandes goleiros.


Como é ser o principal jogador do clube no ano?


Foi um ano difícil, de reconstrução. Mas fico muito feliz de ter ajudado. Estamos em busca dos nossos objetivos no campeonato ainda, que é classificar para uma competição internacional, mas é verdade que passamos muitas dificuldades. Algumas que a gente nem merecia, porque sempre trabalhamos bastante. Graças a Deus nessa reta final as coisas começaram a acontecer. Individualmente, defino esse como um ano de gratidão. No começo de 2021 defini que nessa temporada precisava me firmar. No ano passado tive uma sequência de jogos, mas sempre fica a dúvida se aquilo era apenas uma fase. Por isso queria me firmar. Creio que pude fazer isso e fiz bem feito.


Já se sente ídolo da torcida do Santos?


Não, longe de ser ídolo ainda. Na minha percepção, ídolo é aquele jogador que conquista títulos e fica marcado na história do clube. Ainda estou tentando marcar a minha história no Santos.


João Paulo usou a temporada 2021 para se firmar como um dos principais goleiros do país
João Paulo usou a temporada 2021 para se firmar como um dos principais goleiros do país   Foto: Ivan Storti/Santos FC

Por que o Santos passou tantas dificuldades no ano?


É uma sequência de fatores, é difícil apontar um único motivo. Muitas coisas ocorreram por más gestões passadas, que acabaram afundando o Santos. Agora temos uma diretoria que veio para reerguer o clube e colocar o Santos em condições de voltar a brigar por títulos. A gente tinha grandes jogadores, mas, por razões do futebol, acabamos perdendo muitos deles. Por conta das diversas saídas, muitos meninos subiram da base para o profissional. No primeiro ano dos garotos é sempre muito difícil. Se pegarmos a época do Neymar, por exemplo, o primeiro ano também foi difícil.


A faixa de capitão do Santos tem um Z em referência ao Zito, conhecido por não poupar nem mesmo Pelé das broncas. O que representa para você poder atuar com ela em algumas partidas?


Usar a braçadeira de capitão é um sinal de confiança do técnico no jogador, e quando tenho a oportunidade de usá-la fico muito feliz. Tento dar o meu melhor sempre. É um momento único você ser capitão de um time como o Santos, que tem uma história gigante.


E como é ser uma liderança do elenco?


É engraçado isso, porque as coisas aconteceram muito rápido. A gente tinha grandes jogadores no elenco, que eram verdadeiros líderes, mas acabaram negociados. Quando fui perceber, já era considerado um dos líderes. Fico feliz, porque é um sinal de confiança. Procuro fazer o meu trabalho. Cobro quando tem que cobrar e brinco quanto tem que brincar.


João Paulo se diz orgulhoso por usar a braçadeira de capitão do Santos em alguns jogos
João Paulo se diz orgulhoso por usar a braçadeira de capitão do Santos em alguns jogos   Foto: Ivan Storti/Santos FC

Você aprendeu a ter essa liderança com esses jogadores que acabaram negociados ou essa é uma característica sua mesmo?


A gente sempre aprende. Fui capitão no sub-17, sub-20 e sub-23, mas isso é um aprendizado do dia a dia com cada jogador que passou e está no Santos. Quando subi para o profissional, o capitão do time era o Edu Dracena e eu tinha nele um espelho muito grande. Depois tivemos o Alison. Só tenho a agradecer a todos eles por me ajudarem a crescer.


Você tem o Arzul como preparador de goleiros, que é muito elogiado. O que tem a falar do trabalho dele com você e o que sabe dele como goleiro de futebol e futsal?


Tenho uma longa amizade com o Arzul. Foi ele que me aprovou quando vim fazer avaliação aqui no Santos e desde a base tive a oportunidade de trabalhar com ele. Quando ele subiu para o profissional tive a felicidade de vir junto. Sei que ele foi um grande goleiro no futsal e no campo também, atuou no Juventus, da Mooca. O pessoal comenta que ele foi um grande goleiro na época.


Tão bom quanto o João Paulo?


(Risos) pelo que vi foi melhor do que eu.


Em quais fundamentos você entende que ainda precisa evoluir como goleiro?


O goleiro precisa estar sempre em evolução. Sempre tem um algo a mais que podemos estar melhorando, como saída de gol e trabalho com os pés.


Preparador de goleiros do Santos, Arzul foi o responsável por aprovar João Paulo na base
Preparador de goleiros do Santos, Arzul foi o responsável por aprovar João Paulo na base   Foto: Ivan Storti/Santos FC

Concorda com os torcedores que dizem que você tem a saída do gol, principalmente em bolas aéreas, como ponto fraco?


Para quem fica sentado no sofá é fácil falar. Se essas pessoas estivessem lá dentro, iam ver o quanto é difícil. Mas fico bem tranquilo em relação a isso. Procuro aprender e melhorar para mim, não para os outros.


Como foi lidar com o emocional tendo que brigar para não cair nos campeonatos Paulista e Brasileiro, sendo que o Santos foi vice-campeão da Libertadores ainda em janeiro.


Em janeiro a gente tinha um time e em fevereiro era praticamente outro. Quando começou a temporada, nós fizemos um planejamento que exigia foco na pré-Libertadores. E isso fez a gente deixar o Campeonato Paulista um pouco de lado. Por conta desse planejamento, muitos garotos da base que nunca tinham jogado no profissional fizeram a estreia do Santos no Paulista já como titular. O objetivo era chegar na fase de grupos da Libertadores e conseguimos, mas a conta veio no Estadual. Joguei apenas três jogos no Paulista, os três últimos. Não esperávamos a briga contra o rebaixamento no Paulistão, mas passamos aquele perrengue. E durante a temporada tivemos trocas de treinadores, reformulação do elenco, um elenco bem jovem. O bom é que conseguimos assimilar a pressão e ter uma reta final de Brasileirão mais tranquila.


Na crise vivida no Campeonato Brasileiro teve algum resultado que te deixou preocupado em relação ao rebaixamento?


Não, porque gente sempre soube do nosso trabalho aqui. É claro que quando os resultados não vêm é normal ficarmos preocupados. Nós ficamos mais de 10 jogos sem vitórias. Apesar disso, a gente sempre comentava que se conseguíssemos duas vitórias seguidas, sairíamos dessa situação, e foi o que aconteceu.


Ao longo deste ano foi falado do interesse do Flamengo na sua contratação. Pensando em uma transferência para o mercado interno, você jogaria em algum outro clube brasileiro?


Hoje jogo no Santos e sempre deixei claro o carinho e respeito que tenho por esse clube. O meu foco está aqui e não me vejo jogando em outro clube.


João Paulo titular em parte da campanha do vice-campeonato do Santos na Libertadores 2020
João Paulo titular em parte da campanha do vice-campeonato do Santos na Libertadores 2020   Foto: Ivan Storti/Santos FC

O Santos passa por dificuldades financeiras. Passa pela sua cabeça ser envolvido em uma negociação com clubes do exterior ou do Brasil para trazer dinheiro aos cofres do Santos?


Temos que ver o que é melhor para o clube. Se o presidente achar que o melhor é me negociar, a gente vai sentar e conversar. Preciso ver o que melhor para a minha carreira também. Mas estou bem tranquilo em relação a isso. O presidente é uma pessoa bem honesta, tem palavra e nas oportunidades em que conversamos foi tudo muito transparente.


Os grandes rivais do Santos têm goleiros que marcaram época. Marcos no Palmeiras, Rogério Ceni no São Paulo e Cássio no Corinthians. Você pensa em ser essa referência do Santos?


Esse é um dos meus objetivos. O Santos sempre teve bons goleiros, mas, baseado no que me lembro, nenhum grande goleiro do Santos foi criado no clube e jogou praticamente a carreira toda aqui. Então, esse é sim um dos meus objetivos. Quero marcar história no clube, deixar um legado.


Então, atuar no futebol europeu não é um grande desejo?


O meu foco é aqui. Se isso acontecer, vai ser naturalmente. Não é um objetivo.


Por que você usa o número 34? Pensa em um dia adotar a camisa número 1?


Quando o Santos começou a fixar os números os goleiros sempre escolheram os números 1 e 12, e ficaram alguns outros. Peguei o 34. Não tinha nenhuma motivo especial, mas me acostumei e aprendi a gostar dele. Sei que a torcida pergunta os motivos de não usar o número 1, mas o 34 agora tem um significado para mim, foi o número da minha estreia e quero ficar com ele. Me sinto bem com ele.


Dono da camisa 34, João Paulo não pensa em mudar de número no Santos
Dono da camisa 34, João Paulo não pensa em mudar de número no Santos   Foto: Ivan Storti/Santos

O ano foi duro, mas temos visto uma garotada começando a se destacar. Já é possível ver o Santos buscando coisas maiores em 2022 tendo esse meninos como espinha dorsal da equipe?


Com certeza. Por mais que o ano tenha sido de dificuldades, foi também de aprendizados, e certamente esses meninos mais novos, de 16, 17 anos aprenderam bastante. Viram a responsabilidade de jogar com uma camisa tão pesada quanto a do Santos. E a gente sonha sim em fazer um ano que vem mais tranquilo, sem dificuldades na parte de baixo da tabela, e brigar por títulos.


Tirando o amistoso contra o Benfica, em 2016, você ainda não tinha atuado com a presença do público na Vila Belmiro. Como tem sido essa experiência e como tem sido ouvir a torcida cantar o seu nome?


Quando a gente vai jogar fora de casa, me concentro bastante, fico tranquilo. A torcida adversária fica xingando e costumo entrar na brincadeira. Sempre tem um que vem e me chama de frangueiro e respondo: 'sou mesmo'. Levo na paz. Mas quando tenho oportunidade de jogar em casa, com a Vila Belmiro lotada, com a torcida cantando o meu nome, é algo diferente. É algo que eu sonhava um dia viver.


Qual foi a partida em que você falou 'hoje fui sensacional'?


Já tive a oportunidade de fazer grandes jogos. Se for para selecionar uma partida específica selecionaria aquela contra o Independiente, na Argentina, pela Copa Sul-Americana, neste ano. Pelo momento que estava vivendo ali.


Depois desse jogo você comentou sobre a doença da sua mãe, que está com câncer. Como tem sido lidar com isso praticamente àadistância, em razão das viagens do Santos? E como ela está atualmente?


Por mais que a gente viaje bastante, tenho estado perto, porque trouxe os meus pais para morar comigo. Desde o princípio ela tem se comportado muito bem. A forma como ela reagiria era uma das minhas maiores preocupações, mas ela sempre se manteve muito forte e guerreira. Graças a Deus estamos passando por mais essa. Ela hoje está bem, está forte, falta apenas fazer a cirurgia. Queríamos fazer ainda neste ano, mas vai ficar para o início de 2022. Deus abençoando ela vai ficar muito bem.


O empate com o Independiente, na Argentina, foi a atuação preferida de João Paulo
O empate com o Independiente, na Argentina, foi a atuação preferida de João Paulo   Foto: Ivan Storti/Santos FC

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