Os outros 500 do gol 1000

Nos 50 anos do feito histórico de Pelé, ex-companheiros de Santos relembram ansiedade que precedeu a festa

Por: Régis Querino & Da Redação &  -  19/11/19  -  14:18
Jogador foi carregado por repórteres após ter acertado gol de pênalti
Jogador foi carregado por repórteres após ter acertado gol de pênalti   Foto: Divulgação

Um gol. Que já deve ter sido assistido milhões de vezes por gente de todo o mundo. De pênalti. Que provocou a invasão de campo. Não por torcedores, eufóricos pela conquista de um título. Mas por repórteres, ensandecidos, que carregaram Pelé nos ombros naquela noite de 19 de novembro de 1969.


O palco não poderia ter sido mais propício para imortalizar o milésimo gol do Rei do futebol: o Maracanã, no Rio, que registrou a presença de 65.157 torcedores, testemunhas de uma noite de gala. 


A vitória do Santos sobre o Vasco por 2 a 1, pela primeira fase do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (antecessor do Campeonato Brasileiro) foi o menos importante. O tento que garantiu o triunfo, no entanto, jamais será esquecido. 


Foi um momento mágico, o milésimo gol do maior jogador de todos os tempos. Tive o privilégio de jogar ao lado dele naquele jogo com a camisa 9”, disse o atacante Edu. 


Contagem polêmica


As controvérsias em torno do famoso gol perduram 50 anos após o feito. Alguns pesquisadores afirmam que o gol mil teria sido marcado em um amistoso contra o Botafogo-PB, no dia 14 de novembro de 1969, em João Pessoa. 


O próprio Pelé, em entrevista ao repórter José Carlos Gomes, então na rádio CBN Santos, em outubro de 1995, deu margem à dúvida. “Se procurar direitinho, (o milésimo) pode ter sido na África ou na Ásia”. 


O camisa 10 relembrou outro componente desta estória. “Tem essa confusão de Dorval, Pelé e Coutinho, três crioulos. Se ninguém visse o número da camisa, é capaz de ter tido gol de Dorval pra mim, gol meu pro Dorval...”, brincou. 


A condicional que marcou o jogo na Paraíba também entrou em campo no jogo seguinte do Santos. No dia 16 de novembro de 1969, a Fonte Nova, em Salvador, poderia ter sido o palco do milésimo gol. Não fosse um coadjuvante. 


"Nós tabelamos, ele (Pelé) driblou o goleiro e ia fazer o gol, mas o zagueiro (Nildo) tirou a bola e levou uma sonora vaia”, recordou Edu. “A torcida queria matar o zagueiro”, corroborou o volante Clodoaldo. 


O peso do mundo


Para a história, porém, o gol marcado na Paraíba foi o 999º e o milésimo, no Maracanã. Tento que, como disse Pelé para A Tribuna na semana passada, o deixou aliviado. “No pensamento vinha a responsabilidade de não jogar mal, de fazer o gol. A coisa mais difícil foi antes (do gol)”. 


Quem estava ao lado do Rei lembra da pressão. “Foi a primeira vez que o vi nervoso”, comentou Edu sobre os momentos que antecederam a cobrança do pênalti. 


“O Carlos Alberto pediu que a gente recuasse ao meio de campo. ‘Não vai ter rebote. Vamos deixar ele comemorar o gol’, disse ele” , lembrou Clodoaldo. 


“Antes de bater, ele dá uma olhadinha e não vê ninguém (do Santos)”, afirmou Edu. “O capita (Carlos Alberto) fez positivo, se vira aí (risos)”, divertiu-se Clodoaldo. 


“Finalmente (após o gol) foi uma explosão, como se tirasse alguma coisa das costas da gente, e principalmente, da dele”, completou o atacante Manoel Maria. 


Consumado mais um recorde na carreira do Rei, os companheiros o aguardaram no centro de campo, até que os repórteres o liberassem após a celebração. Carregado nos ombros pelo goleiro Agnaldo e cercado pelos súditos, Pelé deu a volta olímpica no Maracanã. 


A noite seria longa. “Fomos pro Canecão, onde teve um show do Wilson Simonal. Foi uma festa, parecia que tínhamos ganhado um título. Fazer mil gols não é pra qualquer um”, ressaltou Edu. 


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