Filho de Pelé e estudante de Educação Física, Joshua sonha em um dia trabalhar no Santos

Em entrevista para A Tribuna, ele fala sobre a relação com o pai e os motivos que o fizeram desistir de ser jogador

Por: Bruno Lima  -  31/07/19  -  11:57
  Foto: Carlos Nogueira/A Tribuna

Até o próximo dia 12 o CT Rei Pelé contará com uma presença ilustre. Cursando o último semestre de Educação Física nos Estados Unidos, Joshua Seixas Arantes do Nascimento, de 22 anos, aproveita as férias acadêmicas para realizar um mês de estágio no Departamento de Fisiologia do clube. Em meio ao trabalho e ao aprendizado, o filho de Pelé atendeu A Tribuna e falou sobre a decisão de não seguir a carreira do pai, o Santos e, é claro, o Rei.

Em qual momento você decidiu não seguir a carreira de jogador de futebol?
Acho que há dois ou três anos, quando mudei para os Estados Unidos para fazer faculdade de Educação Física. Eu tinha saído do Santos, estava com 18 anos e, na ocasião, estava em dúvida sobre continuar jogando futebol ou estudar. Optei por fazer os dois. Mas na metade do segundo ano do curso fiquei sem receber muitas oportunidades. Por algum motivo, que não sei qual, a minha relação com o treinador não estava tão boa. Tive a opção de mudar de faculdade para continuar jogando, mas estava bem habituado com aqueles professores, com os amigos, e então optei por parar. Entendi que já tinha dado tudo que tinha que dar. Decidi apenas estudar. 

Qual faculdade você cursa e quando irá se formar?
Estudo na University of Tampa (Universidade de Tampa), que fica a uma hora da cidade de Orlando. São quatro anos de curso e estou no último semestre. 

Você atuou na base do Santos dos 16 aos 18 anos. Assim como o seu pai, também era atacante?
Sempre joguei de atacante, mas aberto pelo lado, como um ponta-esquerda. Cheguei a fazer a lateral também, porque era rápido. 

Por ser filho do Rei do Futebol, você sofreu com cobranças ou pressão enquanto tentou ser jogador?
Não havia pressão. Eu que me cobrava um pouco, é obvio. Quando você vem para o clube em que o seu pai fez história, é natural você se cobrar. Costumava me perguntar se estava correspondendo às expectativas das pessoas por ser filho de quem sou. Queria melhorar sempre. 

Você torce pelo Santos? Costuma assistir aos jogos?
Torço muito pelo Santos. Sou apaixonado. De uns quatro, cinco anos para cá, tento não perder nenhum jogo. A minha mãe fica doida, porque às vezes a gente sai para fazer alguma coisa e quando vai se aproximando a hora da partida logo aviso: 'Mãe, temos que voltar para casa, porque vai começar o jogo do Santos' (risos). 

E quem é o seu ídolo como jogador do Santos? (Não vale responder Pelé)
Quando estava crescendo e acompanhando o Santos, com mais entendimento gostava muito do Kléber Pereira, do Molina (meio-campista colombiano) e do Léo, que não era da minha posição. Mas o meu ídolo de verdade é o Robinho. Acompanhei ele desde que eu era pequeno e tive a oportunidade de treinar com ele aqui no Santos. É uma pessoa extraordinária. 

No período em que treinou com o Robinho, você falou para ele que era fã dele?
Nunca falei isso pra ele, porque a gente fica tímido quando está perto do ídolo (risos). 


Joshua tem colocado em prática a teoria aprendida na faculdade, nos Estados Unidos (Foto: Carlos Nogueira/A Tribuna)

Por que você escolheu estudar Educação Física?
Essa decisão está ligada ao fato de sempre ter feito esportes. Sou muito ativo. Fiz de tudo na vida, de judô a natação. Quando era pequeno e ia passar férias nos Estados Unidos, tinha contato com muitos esportes. Lá não se pratica só um. Além disso, quando cheguei à base do Santos nunca tinha feito academia direito. E me apresentaram esse aspecto da preparação física. Como sofri muito com lesões, pude ver como é o processo de recuperar a lesão, ganhar força e, após essa recuperação, observar os meus números crescendo por conta da parte científica. Tudo isso me fascinou. 

Você está fazendo estágio esse mês aqui no Santos e no final do ano estará formado. Pensa em trabalhar no clube?
Sou santista desde pequeno e a minha família tem história no clube. Se um dia puder trabalhar aqui será ótimo. Mas essa é uma pergunta que eu ainda não sei responder. Preciso parar e pensar bem. Moro nos Estados Unidos há quatro anos e me acostumei muito com a rotina e a qualidade de vida que tenho lá. Com os amigos. A minha mãe está lá. Seria ótimo se pudesse voltar, mas não sei se será algo que vou fazer logo após concluir a faculdade. O que eu sei é que em algum momento da minha vida eu quero trabalhar aqui. 

Quais outros esportes você costuma acompanhar nos Estados Unidos e gostaria de desenvolver?
Acompanho a NBA. Não torço por um determinado time. Gosto de acompanhar todos. Não sou modinha, mas gosto do Golden State, que está bem. O Toronto Raptors esse ano acabou com a hegemonia dos Warriors. O basquete é um esporte de que gosto bastante. A fisiologia por trás desse esporte deve ser bem interessante. Assim como o futebol americano. 

Como está o futebol nos Estados Unidos?
Estão investindo bastante. A cada dois anos surgem times novos e eles estão contratando jogadores famosos. São atletas em final de carreira, mas que dão bastante visibilidade.

Qual foi a reação dos companheiros de time nos Estados Unidos ao descobrirem que você era filho do Pelé?
Na faculdade, quando fui jogar futebol e a galera descobriu que eu era filho do Pelé, ninguém acreditou. Muitos foram perguntar para o técnico. E vinham conversar comigo. Falavam: 'Como assim você é filho do Pelé?'. 'O que você está fazendo aqui? Você poderia estar em qualquer time do mundo! É muito bacana. Sou suspeito para falar, porque é o meu pai, mas é bonito ver como ele é admirado.


Na faculdade as pessoas não acreditavam que Joshua é filho de Pelé
Na faculdade as pessoas não acreditavam que Joshua é filho de Pelé   Foto: Carlos Nogueira/A Tribuna




 



 


Lembra de algum episódio engraçado na faculdade?
Na sala de aula teve um episódio em que o professor estava falando sobre o Brasil e eu disse que era brasileiro. Aí ele começou a perguntar como eram as coisas por aqui, queria saber se eu gostava de bossa nova, se jogava futebol, porque aqui tinha o Pelé, e eu falei: 'É... o Pelé é o meu pai'. Aí ele paralisou e começou a repetir que não acreditava. Foi no Google pesquisar e, ao ver que era verdade, me fez diversas perguntas. 



Você tem contato frequente com o Pelé?
Ele fica no Guarujá, porque lá tem mais espaço. Tem sido corrido, porque estou ficando quase todo o tempo aqui no Santos. O encontrei na semana passada, na casa da minha tia. Infelizmente, não o vejo todos os dias. Apenas nos finais de semana. Mas dia sim, dia não, estou com ele no telefone. Tenho tentado aproveitar tudo ao máximo. Tanto esse estágio no Santos quanto a companhia dele. 

Qual foi a reação do seu pai quando soube do estágio no Santos?
Ele achou que eu ia voltar a jogar futebol. Pediu para não ficar parado. Às vezes ele acha que eu ainda estou jogando (risos). E ele tem dificuldade para entender que não estou fazendo fisioterapia, e sim fisiologia. Mas, até eu me formar, ele vai entender (risos).

O que você pensa quando falam que o Messi e o Cristiano Ronaldo são melhores do que o Pelé?
Me irritava quando falavam que o Maradona era melhor do que o meu pai. Hoje não mais. São fenômenos da bola. Cada um na respectiva época. Se olharmos números, gols pela seleção e títulos de Copa do Mundo, vamos constatar que meu pai é o melhor de todos os tempos. Se formos falar de épocas, aí chegaremos à conclusão de que cada um foi bom no seu tempo.


Logo A Tribuna
Newsletter