Emily Lima fala sobre estrutura do Brasileirão, prioridade das Sereias na temporada

Para a técnica do time feminino do Santos, a primeira divisão do campeonato deveria ter apenas dez equipes. A treinadora também comentou sobre elenco, base e Copa do Mundo

Por: Nathalia Perez & De A Tribuna On-line &  -  05/04/19  -  16:24
  Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Campeã paulista com as Sereias da Vila no ano passado, a técnica Emily Lima bateu na trave na Libertadores, e, em 2019, quer chegar longe e triunfar em outra competição: o Campeonato Brasileiro. Em três rodadas disputadas este ano, a equipe feminina do Santos acumulou nove pontos. A treinadora admite estar confiante com a sequência de vitórias, mas acha que ainda há o que melhorar no torneio. E não só por parte do Peixe.


Em conversa com a Tribuna On-Line, a treinadora que comandou a seleção brasileira feminina por dez meses entre 2016 e 2017 falou sobre a estrutura e o nível do Brasileirão da categoria feminina, a reformulação de elenco pela qual o Santos passou no início da temporada, adversários que vão bater de frente com as Sereias este ano, a ideia do clube para a recém-criada categoria de base, clássicos paulistas e sobre Copa do Mundo.


São quatro meses de trabalho em 2019 e menos de 30 dias de competições. O calendário do futebol feminino brasileiro teve início na metade de março, com a disputa do Campeonato Brasileiro. Na primeira rodada, o Peixe encarou o Foz Cataratas/Athletico-PR e venceu: 3 a 0 na estreia na temporada.


Na partida seguinte, um clássico de camisas pesadas. As Sereias visitaram o Corinthians e fizeram 2 a 1 na casa do rival. O placar da terceira rodada foi o segundo mais elástico desta edição da competição: um 8 a 0 impiedoso sobre o São Francisco-BA, com direito à hat-trick da meia Rita Bove, que trabalhou com Emily no São José. A outra goleada acachapante foi do Flamengo, ao bater o Vitória das Tabocas-PE por 10 a 0.


A técnica do Santos admite que não esperava que placares com tantos gols a favor de um único time acontecessem na Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino em 2019. "Alguma coisa ainda está errada. Acho que seria ideal diminuir o número de participantes na primeira divisão. Que fossem dez times, mas times competitivos", opinou a treinadora. O Brasileirão da Série A2 conta com 16 clubes atualmente.


Para ela, o nível técnico entre as equipes ainda é discrepante, e melhorar isso no principal campeonato do país da categoria refletiria na seleção brasileira. "Quanto mais alto está o nível das atletas, melhor elas chegam lá. Se você for ver as grandes ligas estrangeiras, elas têm, no máximo, dez times. Se você coloca muita quantidade, perde qualidade", disse.


Hoje, ela vê Flamengo, Ferroviária, Kindermann/Avaí-SC, Corinthians no mesmo degrau que as Sereias, mas destaca equipes que perderam força, como o Iranduba-AM, que lotou estádio e foi uma pedra no sapato do Peixe e do Timão nos últimos anos.


Legenda: Emily passa instruções às jogadoras durante partida contra o Foz/Athletico
Legenda: Emily passa instruções às jogadoras durante partida contra o Foz/Athletico   Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Novo elenco


De cara nova, o elenco das Sereias passou por uma reformulação antes do começo da temporada. Muita gente saiu, muita gente chegou. Jogadoras que estavam há bastante tempo no clube já não fazem mais parte do time, como a atacante Ketlen, que decidiu tirar um ano sabático.


Emily explica que, junto à sua comissão e à presidência do clube, avaliou que o elenco era para ser de, no máximo, 18 meninas, e não 36, quantidade de jogadoras no começo de 2018. Muitas atletas tinham poucos minutos em campo, e, com base nessas estatísticas, algumas foram dispensadas. "Fizemos uma análise técnica e tática. Teve também toda a parte administrativa, de contratos. Colocamos tudo na mesa, os prós e contras, e optamos por reduzir e renovar o elenco", afirmou.


No entanto, como o time é praticamente todo novo, ainda há muito o que encaixar. "Estamos ganhando entrosamento. Os resultados são importantes para ganhar confiança. Não é porque ganhamos as três partidas que está tudo ok. Tem muita coisa que a gente pode melhorar. Estamos tirando alguns vícios das jogadoras dentro do nosso modelo de jogo, que é muito apoiado, de muita posse de bola. São detalhes que levam tempo para serem acertados", comentou.


Clássicos


As Sereias não estrearam com vitória no Campeonato Paulista. Elas voltaram a enfrentam o Corinthians, no Parque São Jorge, e, dessa vez, perderam por 3 a 1. Emily deixou claro, porém, que a prioridade desta temporada é vencer o Campeonato Brasileiro, já que principal ambição da equipe é voltar a disputar a Libertadores, torneio em que o Santos foi segundo colocado em 2018.


Embora o São Paulo e o Palmeiras tenham retomado suas equipes femininas em 2019 por conta da exigência feita pela CBF para que clubes que competem a Série A no futebol masculino tenham times formados por mulheres, os as duas equipes não duelam com Santos e Corinthians no Paulistão.


O regulamento do torneio estadual coloca o Timão e o Peixe em um grupo separado ao em que estão o Verdão e o Tricolor. Portanto, as Sereias só terão outros clássicos paulistas no ano caso ultrapasse a primeira fase do Paulista, assim como seus rivais, que jogam a Série A2 do Brasileirão.


De olho na base


Um dos 11 novos rostos das Sereias não chegou de outro clube. A atacante Amanda Gutierres, de 17 anos, é a primeira Menina da Vila a ser promovida ao time principal. A jogadora é fruto de uma parceria que o Santos fechou, no ano passado, com o projeto Meninas em Campo, o qual é desenvolvido com a Universidade de São Paulo (USP), para ter uma equipe sub-17.


De acordo com Emily, a ideia do clube é fazer com que mais meninas da base possam seguir os passos de Amanda. "O custo é bem menor. Estamos formando atletas para nós mesmas", falou a comandante. A coordenadora do projeto associado ao time de base, Sandra Santos, é ex-preparadora física da equipe principal.


"Quase que diariamente estou em contato com o técnico da categoria (Ricardo). Ele sempre me passa o nome de algumas atletas, e aí eu vou aos jogos. Quando não sou eu, vai o Júlio (analista de desempenho), e quando não vai o Júlio, vai o Guilherme (auxiliar técnico). Estamos sempre acompanhando o sub-17, para que, em uma renovação, a gente possa subir alguma outra garota para o principal”, complementou.


Legenda: À beira do gramado, a então técnica da seleção orienta o Brasil contra a Itália, pelo Torneio Internacional
Legenda: À beira do gramado, a então técnica da seleção orienta o Brasil contra a Itália, pelo Torneio Internacional   Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Copa do Mundo


Enquanto atleta, Emily Lima, ex-volante, atuou em alguns clubes europeus. Um deles foi o Napoli, da Itália, onde encerrou sua carreira, há dez anos. A seleção italiana é uma das adversárias do Brasil no Grupo C da Copa do Mundo de Futebol Feminino, que será realizada na França, entre junho e julho deste ano. Austrália e Jamaica compõem a chave.


Mesmo que sua vivência no futebol italiano não tenha sido tão longa, ela acredita que a Itália dará trabalho às brasileiras. Quando era técnica da seleção, ela confrontou a Azzurra, e, já naquela época, a equipe já se mostrava forte tecnicamente. 


"Acho que elas vão endurecer. O Brasil tem muita dificuldade de jogar com times organizados por conta do trabalho de verticalizar o jogo, fazer muita bola direta para o ataque e fazer com que a Marta e a Cristiane resolvam tudo. Mas acho que as brasileiras vão se classificar. Não sei se em primeiro ou segundo, porque tem a Austrália, o grande bicho papão do grupo. Mas as chances são grandes", considerou.


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