Em 1918, Santos teve de encarar a gripe espanhola

Paulistão daquele ano também foi paralisado

Por: Bruno Lima  -  25/05/20  -  12:37
Time de 1917 já com atletas que seriam destaque no ano seguinte
Time de 1917 já com atletas que seriam destaque no ano seguinte   Foto: Divulgação

A pandemia do novo coronavírus não é o primeiro surto a paralisar o futebol no Brasil e no exterior. Em 1918, a gripe espanhola interrompeu o Campeonato Paulista, competição na qual o Santos terminou em quarto lugar e cujo campeão foi o Paulistano. 
Responsáveis pelo podcast Amigos do Urbano, os jornalistas Fernando Campos Ribeiro e Vinicius Cabral viajaram no tempo e fizeram um levantamento sobre o desempenho do Peixe naquele Estadual, à época organizado pela Associação Paulista de Sports Athleticos (APSA).


Ao todo, o elenco alvinegro era composto por 22 jogadores, mas apenas 15 disputaram as 13 rodadas daquele campeonato. Entre eles estavam Urbano Caldeira, que, posteriormente, emprestou o seu nome para batizar o estádio da Vila Belmiro; Ary Patusca, irmão de Araken Patusca e ídolo da torcida santista por ter um faro de gol apuradíssimo, e Arnaldo Silveira, um dos fundadores do clube e autor do primeiro gol da história do Santos.


Arnaldo, aliás, era o jogador mais famoso do elenco, pois já tinha presença na Seleção Brasileira e, em 1919, foi o capitão do time que conquistou o Sul-Americano disputado no Brasil – a vitória representou a primeira conquista oficial da Seleção. 


Assim como ocorreu no Paulistão de 2020, a competição era disputada normalmente em 1918, até a chegada da gripe espanhola no Brasil. Vinicius explica que, antes da paralisação, o Santos havia disputado 13 jogos e ocupava a quinta colocação. 


“Antes da paralisação, as equipes não tinham o mesmo número de partidas disputadas. Enquanto o Santos, por exemplo, tinha 13 jogos, o Paulistano havia atuado em apenas nove. Portanto, utilizavam o critério de pontos perdidos para definir quem, realmente, estava à frente. Vale ressaltar que o Palestra Itália, hoje Palmeiras, desistiu daquele Campeonato Paulista, mas não por conta da gripe espanhola, e sim por se sentir prejudicado por arbitragens”, comenta o jornalista.


Fernando conta que duas das atuações marcantes do Peixe em 1918 ocorreram antes da parada, dentro da Vila Belmiro. 


“A primeira partida empolgante ocorreu no dia 18 de agosto, quando o Santos recebeu o Corinthians e ganhou por 4 a 2. Depois, no dia 15 de setembro, o badalado Paulistano, bicampeão paulista da época, e que se tornaria tri naquele ano, foi à Vila Belmiro. Na ocasião, cerca de 3 mil pessoas compareceram ao estádio, o que era considerado casa cheia, e viram o Santos vencer por 1 a 0”.


Navio Demerara


Dias depois desse confronto, o transatlântico Demerara, vindo da Europa, atracou no porto de Recife e, sem saber que trazia o vírus, desembarcou centenas de passageiros em solo brasileiro.


A partir daí, a pandemia começou a se espalhar pelo Brasil e o Santos realizou apenas mais um jogo antes da paralisação: derrota, em casa, para a Associação Atlética das Palmeiras, por 1 a 0, no dia 6 de outubro. Neste mesmo dia é decretada a pausa no campeonato.


A paralisação persistiu até 15 de dezembro. Em pouco mais de dois meses, o Brasil viveu situações semelhantes às da atualidade, durante a pandemia do novo coronavírus.


“O Governo Federal disponibilizou um auxílio emergencial considerado baixo e que causou tumulto na hora da retirada do dinheiro. O diretor de saúde daquele ano, Carlos Seidl (não existia ministro ainda), minimizava a doença e foi bastante criticado pela imprensa. Também se espalhou um boato de que aqueles que comessem frango e galinha estariam protegendo o sistema imunológico”, diz Vinicius. 


Perda


Nesse período, alguns jogadores do Santos foram contaminados pela gripe espanhola, e Raymundo Marques, um dos organizadores da reunião que resultou na fundação do clube, morreu em razão do vírus.


Fernando Campos Ribeiro e Vinicius Cabral fazem o Amigos do Urbano, podcast dedicado ao Santos
Fernando Campos Ribeiro e Vinicius Cabral fazem o Amigos do Urbano, podcast dedicado ao Santos   Foto: Divulgação

Na volta, nem todos os jogos foram realizados


Em meados de dezembro de 1918, com a pandemia controlada, a APSA resolveu retomar o Campeonato Paulista. Porém, com algumas condições a serem seguidas. 


“A entidade organizadora decidiu que apenas as partidas que tivessem influência direta na briga pelo título seriam disputadas. Assim, os jogos do Santos contra Mackenzie e Ypiranga foram descartados. A única partida confirmada foi contra o São Bento, da Capital. No entanto, a diretoria alvinegra informou a APSA e não compareceu ao confronto, pois alegou que o elenco não estava totalmente recuperado da pandemia. Com isso, os pontos foram para o São Bento”, detalha Fernando. 


Final


Com o Paulistano superando todos os adversários, liderou a competição e, com 24 pontos em 15 jogos, conquista o terceiro título consecutivo. 


O Santos terminou o campeonato em quarto lugar com 18 pontos em 13 jogos, atrás de Corinthians, vice-líder, e Associação Atlética das Palmeiras, terceiro colocado. 


Arthur Friedenreich, atacante do Paulistano, foi o artilheiro do Estadual com 25 gols. Ary Patusca foi o goleador do Santos com 17. 


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