José Silvério está de volta às narrações a partir deste sábado

Confira entrevista com o Pai do Gol; 'Eu vou soltar a minha voz'

Por: Eduardo Silva  -  12/06/21  -  07:52
  José Silvério voltao às narrações após um ano, no clássico Palmeiras e Corinthians, neste sábado (12)
José Silvério voltao às narrações após um ano, no clássico Palmeiras e Corinthians, neste sábado (12)   Foto: Orion Pires/Divulgação

Um dos mais importantes narradores de futebol do Brasil em todos os tempos está pronto para voltar às transmissões. Depois de um ano longe dos microfones, desde que saiu da Rádio Bandeirantes, José Silvério, o Pai do Gol, como foi batizado pelo radialista Milton Neves, vai estrear na Rádio Capital de São Paulo, no AM 1.040 khz e no FM 77,5 mhz, neste sábado (12), às 19 horas, no clássico Palmeiras x Corinthians, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro. O locutor, um fora de série, é famoso pela precisão de narrar em cima do lance e pela emoção que passa a cada gol. Fã de Pedro Luiz Paoliello, maior nome da narração esportiva entre os anos de 1950 e 1970, de Haroldo Fernandes, que foi titular da Rádio Tupi de São Paulo, e Clóvis Filho, que fez a carreira no Rio de Janeiro, Silvério criou um estilo e tem milhões de fãs em todo o Brasil. Desde o início de carreira nos anos 1960, em Minas Gerais, esse foi o período mais longo dele longe do microfone.


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Já consagrado, você se considerava realizado e aposentado?


Eu estava mesmo a fim de parar. E parei. Definitivamente. Estava tocando a minha vida. Sem fazer nada. Aí surgiu esse convite do Olivério Júnior para narrar pela Rádio Capital e eu aceitei por causa dele, em quem confio há muito tempo. Ele me convenceu a voltar. Nem foi questão financeira. Foi apenas questão pessoal. Ele está começando lá na Rádio Capital, querendo fazer um trabalho. Eu falei: ‘Vamos lá para ver o que vai dar’.


Um profissional da sua categoria e experiência está ansioso antes dessa estreia?


Depois de um ano fora do ar? Claro que tem hora que dá um friozinho na barriga, sabe? Não é uma coisa muito tranquila, não. A profissão de locutor de rádio é uma profissão de muita emoção né? Você nunca consegue ser frio. Eu acho que é uma questão bem pessoal, que se você for frio, você não pode narrar um jogo. É uma profissão complicada, porque você tem um tempo muito pequeno, de você olhar o que o jogador faz lá no campo, falar aqui em cima na cabine e sair no rádio. Isso é uma triangulação muito difícil. Tanto é verdade que não aparece locutor todo dia.


E como explicar tanta emoção em cada jogo?


É uma coisa que não tem explicação. A todas as pessoas que me perguntam, eu sempre disse isso: ‘Eu não tenho nenhuma condição de responder’. E olha que eu irradio futebol desde 1963 e fiquei pouco tempo parado. Então, como você vai explicar o que você faz? Não tem explicação mesmo. É muito de improviso. É muito na hora. Eu não uso roteiro, não escrevo nada e vai tudo na hora. Eu tenho essa sensação porque a narração de futebol no rádio é uma coisa espontânea e momentânea. Algumas expressões surgem na hora. Aí as pessoas gostam e você repete. Eu não me censuro muito para fazer transmissão não. Eu vou lá e faço.


Curiosamente, a sua volta vai ser em um dia especial. A mesma data da final histórica entre Palmeiras e Corinthians, no Morumbi, que tirou o Verdão da fila em 1993, depois de 17 anos sem título. E quem escolheu a partida de estreia foi o chefe da nova equipe de esportes, Olivério Júnior.


Ele disse que tinha tudo a ver, porque é um jogo especial. E foi quando eu usei, pela primeira vez, a expressão ‘Eu vou soltar a minha voz’ na hora de narrar um gol. O próprio Olivério me fez recordar. Na verdade, eu pretendia colocar essa frase numa transmissão desde o final de 1992, mas não surgiu o momento certo. Eu fiquei com aquilo na cabeça e seis meses depois, naturalmente, apareceu a chance. A história é a seguinte: no final de 1992, eu fui ver um show do Cauby Peixoto e me encantei quando ele cantou a música Sangrando, do Gonzaguinha. Dias depois, eu pensei em usar um trecho da música antes num jogo decisivo daquele ano, mas a situação da partida não permitiu. Fiquei com a música na cabeça, mas não preparei nada, até que seis meses depois, na final do Paulistão de 1993, surgiu o pênalti. Aí, pensei. Seis meses atrás eu não falei e ficou entalado. Hoje, como é o Evair que vai bater o pênalti, é um lance para o Palmeiras ganhar o título, acho que hoje vai dar. E foi na hora. Na hora eu lembrei daquele momento seis meses atrás, e fiz aquela homenagem. Ficou eternizado na memória dos palmeirenses, que sempre me agradecem.


Você não se considera um saudosista, mas lembra com muita saudade de uma época especial do rádio paulistano, quando estava na Jovem Pan, Osmar Santos, na Rádio Globo, e Fiori Gigliotti, na Bandeirantes...


Era uma época de ouro. Com as rádios investindo muito, tinha uma disputa muito interessante, porque eu e o Osmar Santos competíamos na mesma faixa de público. E o Fiori na Bandeirantes tinha outra faixa de audiência. Era muito bom. Sinceramente, eu fiz minha vida nessa época. Eu ganhei muito dinheiro na Rádio Jovem Pan. Não fiquei milionário, mas ganhei bastante pra quem não tinha nada. Eu posso dizer que eu sou um privilegiado de grande sorte em termos salariais. Eu tive momentos muito bons.


E a convivência com Osmar Santos?


O rádio era muito forte e era muito legal porque eu e o Osmar éramos muito amigos. Não tínhamos essa competição fora do microfone, a nossa competição era profissional. E era assim, eu abria o microfone da Jovem Pan e fazia aquilo que eu sei fazer até hoje. O Osmar abria o microfone da Globo e fazia o que ele tinha que fazer. Nenhum provocava o outro. Não tinha nenhum resquício de rivalidade pessoal, nem tínhamos rivalidade profissional. Cada um fazia o seu. E cada emissora fazia o máximo. Essa concorrência valorizou demais o rádio daqueles tempos.


Você acompanha os narradores novos?


Todos que eu conheço do rádio são do meu tempo. Não tenho visto muitos novos surgirem. Até porque os jovens já começam pensando na TV. E aí, na TV fechada, eu gosto do Gustavo Vilani, do Sportv, que eu vi começar na reportagem de rádio e sempre passava na minha cabine de rádio pra conversar. E o Everaldo Marques, que agora também está no SporTV, que começou na Jovem Pan. Também está se destacando. Fora os mais experientes, que já estão consagrados.


E agora você vai trabalhar com jovens profissionais, especialmente, na locução e reportagem...


Quando eu falei com o Olivério nas primeiras vezes, eu já perguntei: ‘você já tem jovens na equipe?’ Eu quero voltar, mas estava um pouco reticente por causa da idade. Eu só vou acrescentar num momento pra chamar a atenção para a Capital, mas eu não posso dizer que sou um locutor de futuro. Que ainda vou ficar muitos anos. Eu gostaria muito que a minha missão também valesse pra formação de novos talentos profissionais, porque eu tenho um medo danado que o rádio esportivo esteja morrendo. Isso eu não nego, não. Eu acho que o caminho para o rádio no futebol é muito duro, muito áspero, mas ainda existe caminho para o rádio. Para quem fala que o veículo acabou, é porque não conhece o interior imenso deste País. Esse interior mais humilde, que é gigante no Brasil, necessita e muito do rádio. Tem lugares em que o rádio é uma salvação. A gente vê por esse lado aceitar o desafio de voltar a transmitir.


E você vai narrar a próxima Copa do Mundo, no ano que vem, no Catar?


Eu não sei. Não posso dizer nada. Você sabe o que acontece? Eu tenho 75 para 76 anos, então eu não posso planejar muita coisa na minha vida, não. A vida da gente muda tanto, não é? Eu aprendi que o amanhã a Deus pertence, mas se eu puder narrar a próxima Copa do Mundo, eu vou achar ótimo, porque aí seria a minha 12ª vez num Mundial. Parar com uma dúzia de Copas seria muito legal.


E como José Silvério se define?


Eu sou um cara muito simples. Muito humilde, de origem paupérrima. Fui criado por minha mãe, sem pai. Por causa disso, eu tive que me virar sozinho, desde cedo, na vida. Sou um cara absolutamente normal. Não me acho nada demais, mas garanto que eu sei narrar futebol no rádio.


Fãs Famosos


“Perfeito. Exato. Preciso. José Silvério é o narrador mais fiel aos fatos. Sempre no tempo da bola, muitas vezes até antevendo o gol. E o mais incrível é que essa precisão sempre esteve de braços dados com a emoção”

Pedro Bassan, repórter do Grupo Globo


Silvério tem patente para locutor esportivo. Nas frases, no ritmo, na entonação. Marca registrada José Silvério. Um dos mais precisos do rádio”

Cleber Machado, narrador do Grupo Globo


“O José Silvério tem a capacidade de dizer o que está acontecendo na hora exata. Você ouve e consegue ver a jogada. Ele une a técnica com a velocidade do jogo sem perder a precisão da narração”

Claudio Zaidan, comentarista do Grupo Bandeirantes


“Um dia, eu falei: José Silvério, o Pai do gol. Aí ele não falou nada. Eu também não, mas naquela fração de segundo eu pensei: ‘Ué, isso ficou bom’. Ele falou: ‘Também achei’. E hoje é uma das grandes marcas, talvez a maior de um narrador esportivo do Brasil”

Milton Neves, apresentador do Grupo Bandeirantes


“José Silvério é uma máquina de narrar futebol. Técnico, preciso, em cima da bola. Voz própria e marcante. Um enorme talento do microfone. Um Pelé da locução esportiva”

Paulo Soares, apresentador dos canais Disney


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