Ex-nadadora Joanna Maranhão dá lição de vida em Santos

Quinto lugar na prova dos 400 m medley dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, a ex-atleta da seleção brasileira participou do Sesc Verão 2019

Por: Sheila Almeida  -  06/01/19  -  15:12
  Foto: Irandy Ribas/AT

Não respire na primeira braçada. Faça exercícios batendo o dedo no fundo da piscina e mantenha os cotovelos sempre ao alto. Essas foram algumas das dicas dadas na piscina do Sesc Santos ontem por Joanna Maranhão, dona do melhor resultado em Jogos Olímpicos – quinto lugar nos 400 m medley, em Atenas, em 2004 – da natação feminina brasileira. Mas os alunos da aula prática compareceram após se emocionarem com outra lição. Um dia antes, ela falou da importância de formar atletas de alto rendimento e, ao mesmo tempo, cidadãos.


Tanto que, antes de entrar na água, Joanna ganhou presentes. Não porque anunciou o fim da carreira de atleta em 2018. Aliás, no ano passado ela engravidou, mas sofreu um aborto espontâneo e descobriu o câncer de mama da mãe. Os presentes foram pela história de vida. A mulher invicta nas provas do nado medley (desde 2002), com oito medalhas pan-americanas, oito recordes sul-americanos e quatro participações em Jogos Olímpicos, contou que o título que prefere um 15º lugar do “pior momento” da carreira, quando, em 2008, revelou que tinha sido estuprada aos 9 anos de idade por um treinador.


Por causa dela, há seis anos, os crimes sexuais no Brasil só começam a contar para os 20 anos de prescrição após a vítima completar 18 anos. Abraços e presentes foram levados pelas realizações e pela atuação em organizações não governamentais (ONGs) que ensinam natação e dão suporte a vítimas de pedofilia, com ações preventivas.


Há três meses na Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Recife, Joanna Maranhão também atua na melhoria do esporte regional. “Tenho muito orgulho de ter sido a quinta melhor do mundo, mas eu era uma Joanna que não reconhecia a minha própria história. Fama? Eu me inundava para não pensar”, contou ela, antes de cair na água do Sesc. “Prefiro o 15º lugar que tive depois, porque foi com o reconhecimento de que as melhores e piores histórias da minha vida tinham acontecido no mesmo lugar. Aprendi a balancear”, comenta.


Como fazer hoje?


Humanização é o que a ex-atleta olímpica tenta passar, apontando o que os profissionais precisam para ajudar as crianças. “A sociedade fraterna começa com adultos educando jovens de maneira mais fraterna”.


Sobre a principal lição, Joanna ensina a não só cobrar resultados. “Esse é o maior problema, junto com a desumanização do alto rendimento. Tem que vir de forma natural”, conta.


A atleta ainda lembra que violência sexual precisa ser debatida, para que quebrar o silêncio não seja um tabu. “Só na adolescência que a criança vai descobrir, pelos amiguinhos, o que aconteceu. Família não fala, escola não assume esse papel social e educacional que é preventivo. Mas é a melhor maneira de evitar que crianças sofram abusos e traumas. Admitir problemas, fatos, falhas, precisa ser comum. O mundo de aparências não pode fazer com que a gente tenha a obrigação de se mostrar perfeito o tempo todo”.


Logo A Tribuna
Newsletter