Vida corrida: Aos 56 anos, santista Valmir Nunes fala da paixão que definiu seu destino

Ultramaratonista começou aos 14 anos, nas aulas de Educação Física na escola. Esporte tomou conta de toda a família

Por: Régis Querino & Da Redação &  -  03/02/20  -  11:49
Entre as conquistas, o santista fala com orgulho das participações na Spartatlon
Entre as conquistas, o santista fala com orgulho das participações na Spartatlon   Foto: Matheus Tagé/AT

Nascido para correr. Esse poderia ser o lema ou a hashtag do santista Valmir Nunes. Aos 56 anos, mais de 40 deles correndo, ele acredita que, entre treinos e provas, tenha atingido o equivalente à circunferência da Terra, calculada pela linha do Equador: 40.075 quilômetros. 


O início, aos 14 anos, foi nas aulas de Educação Física na escola. Corria provas nos campeonatos escolares até que se encantou com as vitórias de José João da Silva na tradicional São Silvestre, na década de 1980. 


“Queria correr igual a ele, só que ele era mais rápido do que eu”, recorda Nunes, que antes de virar corredor profissional atuou em várias frentes para garantir o sustento. 


“Eu fazia muamba no Paraguai, vinha com uma sacola com 40 pares de tênis pra vender. Tive lanchonete, fui vistoriador de contêiner, estivador, massagista, fui um monte de coisa (risos)”, diverte-se. 


Depois de se aventurar em provas de rua e em maratonas, Valmir Nunes decidiu partir para desafios mais, digamos, quilométricos. Em 1990 lá foi ele correr a sua primeira ultramaratona de 100 km, em Uberaba-MG. 


“Meu treinamento focava muita intensidade, mas depois eu descobri que pra correr rápido, não precisava treinar rápido. Eu trabalhava pouco volume e mais intensidade. Eu nasci pra correr 100 km”, decreta.


Não parou


A experiência no interior mineiro o motivou a ir à Espanha, no final daquele ano, para disputar a ultramaratona de Santander. Terminou a prova de 100 km em terceiro lugar. 


Dali em diante, Valmir não parou mais de competir e, desde então, tem um parceiro que o acompanha há três décadas. “Eu sou patrocinado pela Memorial há 30 anos. O seu Pepe (Altstut) está comigo há 30 anos, fui o primeiro atleta da Memorial”, gaba-se. 


Campeão na Spartatlon


Foram tantos feitos nas últimas três décadas, em diversos pisos e locais do mundo, que o bate-papo com Valmir poderia ter durado horas na tarde da última terça, na mesinha de concreto da orla da praia, em frente à Igreja do Embaré.


Entre as conquistas, o santista fala com orgulho das participações na Spartatlon, dura prova de 246 km entre Atenas e Esparta, na Grécia, onde ele foi campeão em 2001. 


Lá ele também tem um terceiro lugar e um vice-campeonato, em 2003, quando foi acompanhado pela equipe de reportagem da TV Tribuna durante o percurso. 


Desafiando limites, Valmir Nunes completou 273 km numa pista de 400 metros em 2003, em Taiwan. Vencia quem acumulasse a maior marca correndo durante 24 horas. Ele venceu.


Tempo de recuperação


Entre idas e vindas aos Estados Unidos, para competir ou para visitar a filha, Natasha, de 30 anos, que reside no país, Valmir aproveita a temporada no Brasil para tratar uma lesão no joelho esquerdo. 


Um microtraumatismo o incomoda há tempos, mas não o impede de dedicar-se a provas de trilhas nos últimos anos. “Quero ficar bom e depois pensar em correr de novo. Gosto de fazer as coisas bem feitas. Se der eu vou, se não der, a vida continua. Eu amo o que eu faço, mas vamos ver, Deus é quem sabe”. 


Esporte tomou conta de toda a família


A paixão pelas corridas não se limita a Valmir. A esposa, Kelly Regina Bastos Nunes, de 50, e a filha Natasha, de 30, não são adeptas de competições, mas fazem uso intenso do verbo correr. 


Kelly iniciou o hábito quando tinha 25, 26 anos. “Corria com as amigas na praia, era por lazer e qualidade de vida. Corria os 10 KM da Tribuna, provas de 21 km e um dia, há dez, doze anos, decidi correr a Maratona de Porto Alegre”.


Quando chegou na capital gaúcha, Kelly ficou doente, com dor de garganta e 40 graus de febre. “Era medo, ela estava com medo”, brinca Valmir. Apesar da indisposição, Kelly foi à pista e terminou a prova.


“Não sofri muito, corri bem. Ah, pensei, agora vou fazer aquela corrida de 75 km de Bertioga a Maresias. Corri três vezes essa prova. Depois corri uma maratona com a minha filha nos Estados Unidos”, conta.


Kelly acompanha o ritmo de Valmir: após dar um tempo nas pistas, correu 50 km nos Estados Unidos
Kelly acompanha o ritmo de Valmir: após dar um tempo nas pistas, correu 50 km nos Estados Unidos   Foto: Matheus Tagé/AT

Sonho americano


Após dar um tempo nas pistas, para comemorar os 50 anos, Kelly correu 50 km nos Estados Unidos. Depois de passar um período no Brasil, ela vai retornar ao país onde mora a filha. Com bons motivos para tanto.


“Lá tem provas todo final de semana. De 50km, de 100 km, de trilha”, aponta Kelly, que tem uma razão ainda mais especial para ficar por mais tempo em Rock Hill, pequena cidade da Carolina do Sul onde mora Natasha: o neto Enrique.


“Ele começou a andar com 10 meses e agora está com um ano e três meses. E já começou a correr, não tem o equilíbrio total, mas corre”, diz a avó, acompanhada pelo sorriso de satisfação de Valmir. 


Logo A Tribuna
Newsletter