Um mês após a tragédia que deixou 45 mortos em três cidades da Baixada Santista, moradores de áreas de risco ainda têm pesadelos com a noite e a madrugada de chuvas intensas que provocaram deslizamentos em diversos morros no começo de março. E lutam para ter direito ao auxílio-moradia.
Na Barreira do João Guarda, em Guarujá, o rasgo no morro está lá para não apagar as lembranças e alertar sobre riscos futuros. O local foi o mais afetado em Guarujá, com o registro de 29 mortos. Depois de vivenciarem um pesadelo, hoje a palavra mais utilizada é abandono.
O autônomo Guilherme Thoia, 21 anos, estava no banho na hora em que a terra desceu levando tudo. Por sorte, entulho, pedras e árvores pararam no quintal dele. Mas a casa, na qual gastou pelo menos R$ 55 mil entre compra do terreno e material para construção, foi condenada pela Defesa Civil e será demolida.
Depois de agradecer pela vida dele e da mulher, grávida de oito meses, vive indignado com o que chama de descaso do poder público. Até agora, não recebeu auxílio-moradia. Teve de alugar um imóvel, pagando R$ 850,00. Valor que o benefício não cobrirá, uma vez que o auxílio será de R$ 500,00, somados recursos do Município e do Estado.
“Há casas que não apresentaram problemas e as pessoas já estão recebendo o auxílio. E quem ficou sem moradia mesmo não teve acesso ainda ao benefício”.
Segundo ele, a Defesa Civil de Guarujá analisou o imóvel na época e informou que uma assistente social passaria pelo local em seguida para confirmar os dados. Até hoje, nada.
“Ninguém sabe informar nada. Se a gente tem direito, tem que resolver. Quero que nos coloquem em programa de moradia, para ter uma casa, e não só um benefício por 12 meses. Eu tinha uma casa e agora não tenho nada” .
Pesadelo
A dona de casa Sthefane Brito Lima, 19 anos, conta que ela e o marido, Everaldo Santana, 21 anos, têm pesadelos quase toda noite depois que voltaram para a Barreira. Ele, inclusive, ajudou a salvar um morador que estava nos escombros após os deslizamentos na madrugada de 3 de março.
O casal ficou na casa de parentes, mas decidiu voltar ao barraco onde mora e esperar pelo auxílio-moradia para buscar um novo endereço. “Tenho o comprovante da Defesa Civil de que minha casa não possui condições. É perigoso. Tenho medo. Cada chuvinha que cai, estamos atentos. Mas, até agora, ninguém fala nada. Fica saindo lista atrás de lista, com poucos nomes. Faz um mês que tudo aconteceu e eles não conseguem tomar providências. É muito descaso com a gente”, desabafa Sthefane.
Everaldo diz que nem o caminhão pipa voltou ao morro para auxiliar a população com abastecimento de água. “A gente está pegando água da fonte”.
Santos tem 24 famílias vivendo em abrigos após o temporal do começo de março. Outras 83 já recebem auxílio-moradia. No Município ocorreram oito mortes por conta de deslizamentos.
Para evitar novos desastres, a Prefeitura começou trabalhos dia 20 do mês passado. São obras, com seis frentes, no Morro São Bento. “No momento, as equipes executam sondagens para identificação do tipo de solo, a fim de definir as intervenções ideais em cada local”, informa, em nota.
Haverá ainda intervenções nos morros São Bento, Santa Maria, Cachoeira, Fontana, Pacheco, Marapé, Penha e Jabaquara. Para isso, o Município terá uma ajuda de R$ 14,8 milhões do Estado, que são liberados de acordo com o andamento dos serviços.
São Vicente
A Prefeitura já enviou projetos para de recuperação de danos causados pelo forte temporal do início do mês, no qual três pessoas morreram. Falta agora a assinatura de convênio para início das obras.
A Cidade terá direito a R$ 10 milhões dos R$ 50 milhões destinados pelo Estado à Baixada. “O recurso será destinado à recuperação dos danos causados pela chuva, como intervenções em escolas, canais e unidades de saúde e também na pavimentação de vias”.