São Vicente é marcada pelo pioneirismo e liberdade
Cidade teve primeira eleição do continente
A história de São Vicente se confunde com a própria história do Brasil. Considerada a primeira Vila Oficial do País, São Vicente foi vista pelos portugueses como um local estratégico para as ambições lusitanas de tomar posse das novas terras descobertas além-mar. À época, em 22 de janeiro de 1532, data de fundação da Vila, os territórios do continente americano eram dominados pelas nações europeias que se lançaram às grandes navegações, como Portugal e Espanha.
“São Vicente era o último ponto antes de chegar na região do Prata, e considerado um porto seguro, principalmente para o reabastecimento das embarcações. Porque estamos falando em uma viagem que demorava entre 40 e 60 dias para atravessar e as embarcações chegavam bastante exauridas de víveres. Não havia recurso e eles encontraram na região de São Vicente um ponto muito favorável para se fixar”, explica o historiador Leandro Alonso, professor doutor da Universidade Católica de Santos (UniSantos).
Segundo Alonso, depois de ter passado pela Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, em 1531, Martim Afonso viaja mais ao Sul e funda a Vila de São Vicente em 22 de janeiro de 1532, firmando o marco colonizador, com a instalação da Câmara Municipal, do pelourinho e de uma igreja. “Isso acabava conferindo à região status administrativo de Vila”, diz o historiador.
No mesmo ano da fundação, em agosto, a Vila seria palco de um acontecimento importante na história das Américas, com a realização das primeiras eleições. “Embora saibamos que os homens que fazem parte da Câmara de Vereadores nesse período são relacionados à produção, têm terras e poder político, é interessante frisar que, de certa forma, em São Vicente tivemos as primeiras eleições populares do continente americano”, aponta Alonso.
Ascensão e queda
De acordo com o historiador, a Vila de São Vicente – posteriormente, Capitania de São Vicente – teve relevância durante o período em que a produção de cana-de-açúcar era um dos pilares da economia portuguesa na colônia. Mas, com o passar dos anos, alguns fatores contribuíram para que a região perdesse importância.
“Por mais que supostamente tivéssemos condições climáticas e de solo que favorecessem esse tipo de produção, o porto da Capitania de São Vicente era muito distante da Europa. Em se tratando dos séculos 16 e 17, o custo de transportar mercadorias da América para a Europa era muito elevado. Isso fazia com que a cana-de-açúcar do Nordeste fosse mais acessível”.
Valorizado no mercado internacional, o açúcar era produto de luxo e dado como presente em casamentos de nobres, segundo Alonso. Para piorar o cenário, a produção brasileira passou a enfrentar concorrência dos holandeses, que expulsos do Nordeste do Brasil em 1654 passaram a produzir cana nas Antilhas, na América Central.
Legado
Apesar da influência exercida pelos portugueses na formação de São Vicente nos aspectos cultural e religioso, com a presença dos jesuítas, e na arquitetura, com marcos como a Biquinha e a Casa de Martim Afonso, Leandro Alonso destaca que a relação da antiga Capitania com a Coroa Portuguesa deixou um grande legado para a formação do povo brasileiro.
“É importante lembrar que a interação entre os jesuítas e a população nativa rendeu um processo de aculturação sobre os indígenas. Mas ainda hoje, o que é um ponto muito positivo, diante do contexto em que vivemos, a Secretaria de Cultura de São Vicente promove a preservação de um patrimônio imensurável, a cultura indígena. Eu considero um dos legados mais positivos que São Vicente tem. Essa resistência frente à destruição cultural que enxergamos acontecer no Brasil como um todo”.
Diversas culturas exerceram forte influência na formação da população vicentina ao longo dos séculos
