Porque a vida não é brinquedo

Cena de um menino puxando um ferro de passar como um carrinho tocou o coração de Duca; hoje, ela tem a própria oficina de Papai Noel

Por: Sheila Almeida & Da Redação &  -  31/10/19  -  20:49
Marline Pugles Shimbaku, a Duca, tem 79 anos e há 30 repara brinquedos e ou confecciona suas partes
Marline Pugles Shimbaku, a Duca, tem 79 anos e há 30 repara brinquedos e ou confecciona suas partes   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

A cena de uma criança arrastando um ferro de passar roupa pelo chão, como se fosse um carrinho, inquietou o coração de Marline Pugles Shimabuku, de 79 anos. A moradora de São Vicente assistiu a cena em Miracatu, no Vale do Ribeira, quase 30 anos atrás. Resolveu fazer algo. Desde então, transformou a própria casa, na Vila São Jorge, na própria oficina do Papai Noel.


Mais conhecida pelo apelido de Duca, a dona de casa conta que, primeiro, aprendeu alguns dons de artesanato para ajudar o marido Augusto Shimabuku, de 83 anos, hoje aposentado. Ela chegou a ter 52 alunos em cursos de artesanato, pintura e crochê, tudo nos fundos de casa.


Um dia, as alunas se reuniram e levaram quitutes e algumas artes para o Lar Vicentino, décadas atrás. Lá, se vestiu de Papai Noel pela primeira vez, mas nunca tinha pensado em arrecadar presentes a crianças.


“Comecei porque a gente tinha um sítio em Miracatu e lá eu vi um menino. Ele puxava um ferro elétrico com uma corda. Na cabeça dele era um carrinho. Na minha, não. Levei um carrinho para ele e vieram várias crianças na minha porta pedir também. Resolvi voltar para São Vicente e arrecadar brinquedos e ir lá todo Natal”, conta, sobre o primeiro dezembro diferente, com 46 crianças.


Papai Duca Noel


Como isso faz cerca de três décadas, muito mudou desde então – desde a forma de trabalhar até o local. Antes, dona Duca e seo Augusto pediam brinquedos de até R$ 2,00 para os amigos, diz. “A gente ia no clube Cecon [Centro de Convivência do bairro] e pedia lá. Quem dava, comprava vários brinquedos”, lembra ele, contando que o Papai Duca Noel começou a presentear por lá também.


Com o passar dos anos, as doações foram aumentando e a saúde para dirigir até Miracatu, diminuindo. Foi então que o casal fez outra ação inesperada.


“Eu não tenho plano de saúde e uma vez o pessoal da UBS Praça Vitória salvou minha vida. Em gratidão, enchi duas caixas de brinquedo e fui para lá de Papai Noel. Nós dois, sozinhos. Hoje, nossa equipe é linda. A maioria de médicos e enfermeiras, mas fixo temos Nanci, Selma, Claudinha, Wilson e Ângela”, diz Duca, sorrindo e mostrando fotos.


Doação de hoje é uma boneca? Pois Duca vai para a máquina de costura e tece um vestido à peça
Doação de hoje é uma boneca? Pois Duca vai para a máquina de costura e tece um vestido à peça   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Meta


“Sabe qual é minha meta? 600 sacos de brinquedos. Este ano, acabou o Réveillon e eu já estava na máquina. Recebo doação até de São Paulo, lavo tudo, faço a roupa das bonecas, penteio, visto, separo, embalo. O papai [marido] arruma os carrinhos. Não temos vida social. A gente vive para isso”, diz ela.


Para ajudar, a Duca Noel conta que não precisa de muito. As pessoas doam tecidos e enfeites (mas a casa tem um cômodo inteiro repleto deles), brinquedos – estes alojados em todo o chalé que precisaria de ampla reforma. Hoje, o que mais faltam são pilhas e apetrechos do próprio Noel.


“Uma coisa que eu queria pedir é a roupa de Papai Noel, com a bota tamanho 40. Meus pés incham e a minha bota não entra mais. Minha roupa é a mesma todos esses anos. Será que devo pedir?”, pergunta ela sem graça, mais acostumada a doar. 


Quem quiser ajudar com brinquedos, pilhas, botas ou uma roupa de Papai Noel pode agendar pelo (13) 3561-3328.


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