'Não há nada mais importante neste momento do que a vida das pessoas' , diz prefeito de São Vicente

Pedro Gouvêa (MDB), em entrevista exclusiva para A Tribuna, anunciou a abertura de pelo menos 85 leitos de UTI

Por: Nathála de Alcantara & Da Redação &  -  02/05/20  -  15:19
Gouvêa relatou que homem teria atacado a sua esposa, e por isso reagiu
Gouvêa relatou que homem teria atacado a sua esposa, e por isso reagiu   Foto: Alexsander Ferraz/AT

O prefeito de São Vicente, Pedro Gouvêa (MDB), em entrevista exclusiva para A Tribuna, anunciou a abertura de pelo menos 85 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para atendimento de pacientes com novo coronavírus no Hospital Municipal de São Vicente e na Área Continental. Falou ainda sobre a Cidade estar entre as 20 do Estado com o maior índice de isolamento social durante a quarentena por conta da pandemia. Sobre o comércio do Município, um dos mais fortes da região, destacou que multas e juros não serão cobrados com relação a tributos municipais durante esse período. Abaixo, confira a entrevista na íntegra.  


AT - Desde que teve início o sistema inteligente de monitoramento por meio de celular, que indica a taxa de deslocamento nos municípios, São Vicente tem se mantido entre as 20 do Estado com o maior índice de isolamento social. A que o senhor atribui essa marca significativa?  


PG - Ao trabalho de conscientização que estamos fazendo. As nossas maiores armas nesse momento são o isolamento e o uso de máscaras. Temos de passar essa informação para a população, sobre a importância de respeitar a quarentena. As pessoas que estão nas ruas têm recebido máscaras da Prefeitura. Há duas semanas, São Vicente tinha68%de adesão ao isolamento social e fechamos nos últimos dias em 61%. É o número mais positivo dentro da Baixada Santista, ao lado de Itanhaém.  


AT - Como o senhor avalia a decisão da Justiça que suspendeu o decreto municipal que flexibilizou a abertura de alguns setores do comércio?  


PG - Não tem muita coerência nessa decisão, mas eu respeito e vou continuar trabalhando. Entrarei com recurso para fazer uma revisão em parte das atividades que considero importantes. Eu não vou mencionar aqui nenhuma atividade que possa continuar fechada nesse momento, porque foi a tarefa que dei aos secretários e à procuradora. Eles estão fazendo um levantamento e a gente ainda terá mais uma discussão antes de peticionar esse recurso na segunda-feira. Eu fiquei surpreso, até porque as medidas de São Vicente são menos impactantes do que as que estão sendo tomadas na Capital. Essa decisão será respeitada e iremos cumpri-la assim que formos notificados oficialmente, mas segunda-feira já estamos nos programando para recorrermos parcialmente. Algumas atividades que eles estão proibindo são essenciais. Com uma loja de tecidos fechada, onde comprarei tecido para fazer máscaras em casa?  


AT - Na sua opinião, existem atividades que podem seguir fechadas?  


PG - Há determinadas atividades que, de fato, a gente pode segurar mais um pouco. Precisamos ter a humildade, num momento difícil como esse, de flexibilizar tanto no sentido de retroceder quanto no de avançar. É uma situação nova no mundo todo e não tem uma receita ou cartilha que fale ‘faça assim ou faça assado’. De acordo com os números, a gente vai trabalhando. Nosso decreto de flexibilização do comércio foi baseado exatamente na política adotada na Capital, que é o município do Estado mais alinhado como governador.  


AT - Como o senhor avalia as decisões tomadas pelo Governo Estadual?  


PG - Acredito que 95% das ações do Governo do Estado estão voltadas para a Capital. Eu, por exemplo, não vi empenho com bloqueio de acesso às cidades da região. Por qual motivo só se preocupam com a Capital? Por que só a Capital pode flexibilizar? A Baixada Santista deve ter uma autonomia diante da realidade que estamos vivendo, que é muito diferente da enfrentada em São Paulo.  


AT - Recentemente, o prefeito de Santos e presidente do Condesb, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), revelou que 40% das internações na cidade de pacientes que moram em outros municípios são de pessoas que residem em São Vicente. Como o senhor avalia esta situação e quais têm sido as ações de São Vicente para ampliar a capacidade de leitos clínicos e de UTI? 


PG - É importante a gente ressaltar que nenhuma dessas pessoas de São Vicente que estão internadas em Santos ficam em hospitais custeados pelo município, mas sim do Estado. Existe uma central de vagas do Estado para atender os municípios da Baixada. Se colocarem hospitais estaduais em São Vicente, também vou atender toda a demanda regional. Não tem coerência nessa fala, só para número, estatística. Continuaremos usando as vagas do Estado em hospitais em Santos. Eu deixo aqui muito claro que essas vagas não são de Santos, mas de toda a região.  


AT - O que a Cidade tem feito para ampliar o número de leitos? 


PG - Estamos fazendo a nossa lição de casa. Estamos montando um hospital na Área Continental com um centro de triagem ao lado. Serão cerca de 85 leitos criados para a covid-19. No Hospital Municipal de São Vicente, um andar inteiro estará reservado para esse pacientes, com nove leitos de UTI e 20 de retaguarda. A previsão é que o atendimento comece a ocorrer nos próximos dias. Estamos esperando chegar alguns materiais para que isso aconteça. Só na Área Continental são 40 leitos que podem ser transformados em unidades de UTI e colocados estrategicamente para uso, caso haja essa necessidade.  


AT - O comércio de São Vicente é considerado por muitos um dos mais importantes da região e do próprio Estado. O que a Prefeitura tem feito para apoiar esses comerciantes?  


PG - Nós criamos, com apoio da Câmara, uma série de medidas e não estamos isentando ninguém de responsabilidades tributárias. Porém, esticamos isso para três meses. Durante esse tempo, não serão cobradas multas e juros de atraso desses tributos. O comércio em São Vicente é extremamente forte e importante. Temos cerca de 9 mil comércios na cidade. Mas não há absolutamente nada mais importante neste momento do que a vida das pessoas. Comércio nenhum, força política nenhuma e pressão nenhuma são mais importantes do que a vida e a Cidade vai continuar trabalhando para cuidar da vida.  


AT - Pagamentos de tributos e renovação de alvarás foram prorrogados?  


PG - Todos os alvarás foram prorrogados, assim como os pedidos de isenção da pessoa física. Estão todos sendo revalidados automaticamente.  


AT - Quanto tempo o senhor acredita que levará para que o comércio da Cidade se recupere após o término da quarentena?  


PG - Será uma tarefa muito difícil para todos e temos conversado muito com a Associação Comercial. Esse é o maior desafio enfrentado na economia do nosso País. Vamos estar junto com eles, ajudando e reforçando todo o trabalho que seja necessário para darmos essa força na retomada das atividades, que esperamos que seja o mais breve possível.  


AT- Como a Cidade vai lidar com a perda de receita e o que tem sido feito para tentar reduzir ao máximo a queda na arrecadação?  


PG - Cortamos algumas situações que sobrecarregavam a folha de pagamento. A última folha foi fechada na quinta-feira e com muito sacrifício já. Tivemos uma perda de 30%daarrecadaçãomunicipal com ISS e IPTU e 50% nos repasses de Estado e União. A gente precisa se reinventar todos os dias para conseguir fazer com que essa queda de arrecadação não interfira nos serviços prestados do dia a dia dos vicentinos. Continuo fazendo a manutenção das atividades da saúde, a zeladoria da Cidade e as nossas responsabilidades contratuais.  


AT - Na segunda-feira, as aulas da rede pública de São Vicente serão retomadas a distância, por meio de aplicativos e material impresso. A Prefeitura garante que todos os alunos terão acesso às atividades?  


PG - Nós pensamos nisso, embora grande parte da população tenha acesso à internet. Quem não tiver poderá pegar nas unidades escolares já na segunda-feira as apostilas com o mesmo conteúdo das plataformas.  


AT - E a reforma da Ponte dos Barreiros? Segue dentro do prazo?  


PG - Estou muito, mas muito otimista mesmo com a obra. Nós finalizamos esta semana 18colunas totalmente reformadas, de um total de 52. O ritmo das obras está acima do que estabelecemos. Teríamos de finalizar tudo em 90 dias após o início das obras. Isso daria dia 28 de junho. Mas terminaremos antes dessa data. Essa obra deveria ter sido realizada 20 ou 10 anos atrás por conta dos problemas identificados e laudos realizados, mas nunca foi feita. 


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