Sem resultado de exame, hospital de Santos atesta Covid-19 como morte de paciente
Ana Costa, em Santos, considerou o quadro para a declaração de morte; teste ficou pronto depois e deu negativo
Uma idosa, de 82 anos, morreu na semana passada, no Hospital Ana Costa, em Santos, vítima de Covid-19. Essa informação consta como uma das causas colocadas na declaração de óbito fornecida pelo hospital. Porém, o documento foi feito antes do resultado do exame, que deu negativo para a doença.
A família da idosa conta que há seis anos ela sofria os efeitos do Mal de Parkinson e o quadro se agravou recentemente. Internada no Ana Costa, a mulher não resistiu. Os familiares estranharam a anotação de causa da morte, porque não foram avisados sobre a Covid-19 pelo hospital, até para tomarem precauções, já que tiveram contato com a paciente.
“Ficamos chocados. Já havíamos optado por cancelar o velório, por conta própria, por causa da pandemia. Mas esse atestado improcedente nos impediu de realizar uma cerimônia de cremação”, explica a irmã da paciente, que prefere não ter o nome divulgado.
Em nota, o Hospital Ana Costa informou que está em contato com a família para esclarecimentos. E reforça que familiares foram informados sobre a suspeita de covid-19 no momento da internação, “conforme termo de ciência assinado, em que constam as orientações de isolamento e restrição de contato”.
O hospital não respondeu por qual motivo atribuiu a morte por covid-19 sem que se tenha a confirmação e nem se vai retificar a declaração de óbito.
A família, contudo, contesta a declaração do hospital. Segundo ela, o único documento assinado foi um termo padrão para autorizar internação e/ou atendimento hospitalar, sem qualquer menção à suspeita de covid-19 ou orientação sobre como proceder nesses casos.
Resultado negativo
A Secretaria de Saúde de Santos informa que a Seção de Vigilância Epidemiológica (Seviep) recebeu, na quarta-feira (12), a declaração de óbito e o resultado de teste para covid-19 (laboratório privado) do caso citado pela Reportagem, o qual “descartou o diagnóstico da doença”.
Segundo a Prefeitura, de acordo com as orientações do Ministério da Saúde, o médico que atesta o óbito tem responsabilidade ética e jurídica pelas informações registradas. “Se no momento do preenchimento a causa da morte ainda não estiver confirmada para covid-19, mas houver suspeição, o médico deverá registrar o termo suspeita de covid-19”.
A recomendação tem por objetivo captar todos os óbitos possíveis pela doença. A confirmação ou descarte ficará sob a responsabilidade das secretarias municipais e estaduais de Saúde.
De acordo com as orientações do Ministério da Saúde para codificação das causas de morte no contexto da covid-19, é possível a confirmação da morte pelo critério clínicoepidemiológico, mediante criteriosa discussão do óbito. “Nessa discussão, deve-se considerar a clínica e os resultados de exames de imagem, como a tomografia computadorizada”.
Ainda conforme a Prefeitura, os óbitos pela covid-19 ocorridos durante internação devem ser notificados pelos hospitais à Seção de Vigilância Epidemiológica (Seviep) e são investigados. “Somente quando todos os documentos relacionados ao óbito são enviados – declaração de óbito e resultados laboratoriais – e checados pelo setor é que são inseridos nos sistemas oficiais, sendo imediatamente informados à população e imprensa pelos boletins diários”.
A Administração Municipal informa também que há casos apontados nas declarações de óbitos que podem ser descartados posteriormente, após resultados laboratoriais ficarem prontos.
