Santistas denunciam mau estado de sepulturas de figuras históricas em Cemitério do Paquetá

Túmulos de Vicente de Carvalho e Esmeraldo Tarquínio apresentam danos físicos e um deles foi alvo de furto

Por: Victor Barreto  -  21/04/24  -  07:35
Moradores protestam contra o mau estado dos túmulos de Vicente de Carvalho (esquerda) e Esmeraldo Tarquínio (direita), enterrados no Cemitério do Paquetá
Moradores protestam contra o mau estado dos túmulos de Vicente de Carvalho (esquerda) e Esmeraldo Tarquínio (direita), enterrados no Cemitério do Paquetá   Foto: Victor Barreto/AT

O mau estado de conservação dos túmulos do poeta Vicente de Carvalho e do ex-prefeito Esmeraldo Tarquínio, no Cemitério do Paquetá, motiva reclamações de munícipes.


Na manhã de quinta-feira (18), a Reportagem constatou que, na sepultura de Carvalho, não há mais o busto do poeta nem a placa de bronze: teriam sido furtados. Na de Tarquínio, a peça de mármore na parte traseira está quebrada.


Quem notou a situação da sepultura de Vicente de Carvalho foi o professor de História Luiz Canuto, que visitou o cemitério na segunda-feira. “Vários túmulos e jazigos encontram-se na mesma situação, e vários deles são tombados como bens históricos e culturais”, diz.


Às vésperas do centenário da morte do poeta, a ser completado amanhã, o professor lamentou o estado de conservação. “O Cemitério do Paquetá deveria ser tratado como um ponto turístico e cultural, um museu a céu aberto, pois ali estão enterrados (os restos de) nomes importantes da história de Santos e do Brasil.”


O ex-vereador Martinho Leonardo também contatou A Tribuna para denunciar como está o túmulo de Esmeraldo Tarquínio, primeiro negro eleito prefeito de Santos, em 1968, e cassado antes da posse. “Se um próprio municipal está sendo vilipendiado, a responsabilidade é da Administração pública. Vejo como uma falta de respeito a uma figura nobre da Cidade de Santos que, para nós, é referência”, protesta.


Explicações

Em nota, a Prefeitura de Santos afirma que a Guarda Civil Municipal (GCM) reforçou as rondas aos três cemitérios municipais — os outros são os da Filosofia, no Saboó, e o da Areia Branca — para coibir furtos de fios e outros objetos.


Segundo a Administração, a GCM apoia forças-tarefas policiais em estabelecimentos como ferros-velhos, visando ao combate ao crime de receptação de materiais de cobre, muitas vezes furtados dos cemitérios.


A Prefeitura acrescenta que, para ampliar a segurança nos cemitérios, foi aberto pregão eletrônico para a contratação de profissionais de segurança patrimonial, mas sem empresas interessadas.


O Município cita que a Secretaria de Prefeituras Regionais estuda abrir nova licitação com a mesma finalidade. O objetivo é que os profissionais futuramente contratados atuem 24 horas por dia nos cemitérios.


Nada, porém, foi dito sobre o mau estado de conservação dos túmulos, a despeito de questão enviada por A Tribuna.


Historiador salienta relevância dos personagens

De acordo com o historiador Dionísio de Almeida, da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), tanto Vicente de Carvalho quanto Esmeraldo Tarquínio são figuras de grande relevância histórica para a Cidade.



Vicente de Carvalho foi poeta, jornalista, advogado e político. Nasceu em 5 de abril de 1866, em Santos, e morreu na Cidade, em 22 de abril de 1924. Tinha o mar e a natureza como fonte de inspiração para seus escritos e se destacou em áreas além da poesia.



“É uma pessoa que merece toda a consideração dos santistas, porque contribuiu muito com a cultura da nossa Cidade e com a defesa do meio ambiente. Podemos dizer, até mesmo, que a existência dos jardins da orla da praia devemos a ele”, afirma Almeida.


Em 1921, Vicente de Carvalho edereçou uma carta ao presidente Epitácio Pessoa, que visitava a Cidade, a qual propunha que os terrenos fossem cedidos para que o Município construísse os jardins. A carta foi publicada na edição de A Tribuna de 22 de agosto de 1921.



“O medo dele era que houvesse uma ocupação nesse espaço à beira-mar, já que se iniciava uma especulação imobiliária”, explica o historiador. O pedido foi atendido pelo então presidente, e a área foi desapropriada para a construção dos jardins, que desde 2002 são registrados pelo Guinness World Records como o maior jardim de praia do mundo.



Política e luta

Esmeraldo Tarquínio nascido em São Vicente, em 12 de abril de 1927, e morreu em São Paulo, em 10 de novembro de 1982, em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Além da carreira política, Tarquínio atuou como advogado e jornalista.




Em 1968, foi eleito prefeito de Santos, mas foi cassado pelo regime militar antes de tomar posse. “Ele ficou marcado como um político que tinha grande prestígio na Cidade. Hoje, ele é uma das pessoas reverenciadas pelo movimento negro santista por causa de seu envolvimento na política da Cidade e pelas lutas que desenvolveu na época”, diz Almeida.


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