Orelhões dão visibilidade a histórias de mulheres trans em Santos

Exposição itinerante "ClanTransDestina" está no Gonzaga e segue para a Zona Noroeste no começo de março

Por: Egle Cisterna  -  22/02/20  -  12:09
Orelhões dão visibilidade a histórias de mulheres trans em Santos
Orelhões dão visibilidade a histórias de mulheres trans em Santos   Foto: Vanessa Rodrigues / AT

Orelhões – aquelas antigas proteções dos telefones públicos – têm despertado a atenção pelas ruas de Santos e fazendo com que o equipamento, customizado, volte a ser um lugar de escuta. Esta é a intenção do projeto "ClanTransDestina", cuja instalação artística itinerante está na Rua Dr. Othon Feliciano, no Gonzaga, onde busca chamar a atenção e dar visibilidade para mulheres trans em situação de rua ou de abrigo. 


Dentro de cada um dos cinco orelhões estão as histórias de cinco mulheres, que, por meio de áudios, revelam situações do seu cotidiano, trazendo relatos de amores, afetos, violências, opressões e preconceitos. Em cada cabine existe um QRCode (código que pode ser interpretado pelo celular) que, quando escaneado, permite que a pessoa ouça as gravações das personagens reais Natália Viana, Ana Paula Barbosa, Kelly McCauer, Marcela Ramos e Jéssica Aceoli. 


A ideia do projeto é do fotógrafo e artista plástico Rodrigo Montaldi que, pesquisando sobre o assunto, encontrou o dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), levantamento que mapeou, por meio das notícias publicadas na imprensa nacional, o número de pessoas trans assassinadas no Brasil.


“Me chamou a atenção a quantidade. É o País que mais mata trans e são mortes cruéis. Eu queria provocar uma reflexão na sociedade, através das artes plásticas. São pessoas que têm sonhos, desejos e vontades e estamos impedindo esse sonho de ser realizado”, destaca ele. A Antra aponta que, de 2017 a 2019, mais de 500 travestis e transexuais foram assassinadas.


Para colocar em prática sua intervenção, ele contou com a consultoria para pesquisa de Taiane Miyake, presidente da Comissão Municipal de Diversidade Sexual de Santos. “Nestes tempos que estamos vivendo de retrocesso e intolerância, dar voz a essas pessoas é muito importante. Tínhamos a ideia inicial de colocar pessoas com notoriedade, mas definimos dar visibilidade para quem não tem voz, quem está à margem da sociedade”, explica Taiane.


A equipe, formada ainda pelo produtor Platão Capurro e o designer Betinho Neto, começou com um trabalho de escuta com personagens da Baixada Santista, que ilustrassem esse cenário. E o ponto de partida para encontrá-las foram os Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) de Santos e de São Vicente.


Antes de ir para o Gonzaga, os orelhões passaram pela Praça dos Andradas, no Centro e, na primeira semana de março, de 1º a 5, devem ficar na Praça da Paz Universal, na Zona Noroeste. O projeto foi contemplado pelo 7º Concurso de apoio a projetos culturais independentes de Santos pelo Fundo de Assistência à Cultura (Facult) e também está prevista, numa contrapartida, uma série de oficinas para fortalecer o projeto de jornal dos Centros Pop, envolvidos na pesquisa.


Logo A Tribuna
Newsletter