Moradores relatam como e morar no bairro Iriri, em Santos

Com 60 moradores, região fica na Área Continental da cidade

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  16/05/19  -  01:52
Às margens da Rodovia Rio-Santos, o bairro se situa em uma área de Mata Atlântica a 40 min do Centro
Às margens da Rodovia Rio-Santos, o bairro se situa em uma área de Mata Atlântica a 40 min do Centro   Foto: Rogério Soares

Nem mesmo o trânsito contínuo na Rodovia Manoel Hypólito do Rego (Rio-Santos) interrompe a orquestra de 82 espécies de pássaros já identificadas na área de Mata Atlântica próxima. O canto deles faz companhia aos pouco mais de 60 moradores do Iriri, bairro na Área Continental de Santos. A paisagem bucólica contrasta com o ritmo incessante do porto mais movimentado da América Latina e do restante da Cidade, uma das mais urbanizadas do País.


Encravado entre os quilômetros 235 e 237 da rodovia, que dá acesso ao Litoral Norte, e um oleoduto da Petrobras, o povoado mantém rotina similar à de quem vive em áreas mais afastadas dos centros urbanos. As casas, com terrenos extensos, possibilitam uma alimentação mais natural: quase todas as residências têm hortas para o cultivo de frutas e hortaliças.


A água, por exemplo, é captada de um rio próximo, que nomeia o bairro. Com esses atributos, o Iriri é denominado “santista por natureza”, como bem resume a placa de boas-vindas ao bairro.


Apesar de estar perto de uma das mais urbanizadas áreas metropolitanas do Estado e a apenas 40 minutos de carro do Centro, o núcleo guarda fragmentos de uma vida mais simples. E não só por estar cercado de vegetação nativa e animais. É como se o tempo fosse mais lento quando se caminha nas três ruas do bairro, o último de Santos a ter recebido luz elétrica – em 2008, 129 anos após o inventor norte-americano Thomas Edison inventar a lâmpada elétrica.


Paz e modernidade


“Aqui é pequeno e sossegado. Todo mundo se conhece pelo nome. As amizades são mais sólidas. Não troco meu cantinho por nenhum apartamento de frente ao mar”, resume a diarista Maria Aguiar, de 60 anos.


Ela recorda que, antes de o bairro dispor do fornecimento de energia elétrica, a sensação de estar em uma área rural era maior: lampiões, velas, lanternas e baterias eram utilizados ao cair da noite.


Ouvir rádio ou conservar alimentos na geladeira só era possível ao se acionar um gerador movido a diesel. “A chegada da luz elétrica foi um marco para a localidade”, recorda um dos mais antigos residentes da localidade, Erivaldo Vieira de Melo.


Com isso, outro fenômeno passou a ser visível no bairro cercado por natureza: a instalação de antenas parabólicas. “Sem ela, não tem como ver TV”, comenta a dona de casa Maria Moreira.


Apesar dos últimos anos com eletricidade regular, são raros os que aposentaram os antigos geradores movidos a combustível. Maria Aguiar afirma serem comuns quedas no fornecimento do serviço.


“Como agente está afastado de tudo, já ficamos mais de três dias sem luz. Parecia que o bairro nem estava no mapa”, diz.


Segundo a concessionária CPFL Piratininga, o prazo para restabelecimento do serviço em área urbana é de 24 horas, e para áreas rurais, de 48.


Isolados


Encoberto por rica vegetação às margens da Rodovia Rio-Santos, o Iriri aparece após uma curva acentuada, marcada por um maciço de rocha na estrada.


Por estarem no meio do caminho entre zonas urbana e rural, os moradores relatam dificuldades para compras simples, como as de mantimentos e de remédios.


Isso ocorre porque a localidade não tem nenhum estabelecimento comercial, posto de saúde ou escola pública. “Sempre que preciso de algo, vou para Vicente de Carvalho (em Guarujá)”, diz o pedreiro Jorge Moreira, que há um ano deixou Bertioga.


“No café da manhã, a gente come pão de forma ou bolacha. Pão fresco é artigo de luxo”, explica a mulher de Jorge, Maria Moreira. A padaria mais próxima fica a 15 quilômetros dalí, já na chegada da vizinha Bertioga. “Se acabar a margarina de noite, ficamos sem. Não tem como ir comprar.”


Outro problema, segundo moradores, é o baixo número de coletivos que passam por ali. “Quando perco um ônibus, vale mais a pena voltar para casa (a pé), pois o próximo passará depois de uma hora”, diz Maria Aguiar.


Logo A Tribuna
Newsletter