Morador de rua sonha com uma prótese dentária para voltar a trabalhar

Desempregado, Luiz Carlos dos Santos vive nas ruas e junta dinheiro para conquistar os novos dentes. Acha que, com isso, terá mais oportunidade

Por: Matheus Müller & Da Redação &  -  24/10/19  -  16:24
Vendendo balas, Luiz afirma ter R$ 350,00 guardados com um amigo
Vendendo balas, Luiz afirma ter R$ 350,00 guardados com um amigo   Foto: Carlos Nogueira/ AT

Sem grande parte dos dentes, Luiz Carlos dos Santos, de 47 anos, fica tímido em frente à câmera. Não quer mostrar o que lhe causa vergonha e o impede de conseguir um emprego. Ele sonha com uma prótese. O plano está traçado: vender balas de eucalipto e economizar para conquistar o objetivo – não apenas estético, mas a oportunidade de um recomeço.  


Natural de Macaparana (PE), onde trabalhava na roça, ele se mudou para São Paulo há 20 anos por melhor condição de vida e por ter se separado da mulher, que ficou no Nordeste com sua filha, Taís Cavalcante, de 21 anos, que não vê há 12. “Hoje, vejo que fiz escolhas erradas e gostaria de mudar de vida”, conta ele, que há cinco meses dorme nas ruas de Santos.  


Na Capital, trabalhou por dez anos na cozinha de um restaurante no Aeroporto de Congonhas. Morava de aluguel e tinha vida tranquila. Ao perder o emprego, veio para Santos, onde também foi cozinheiro, até ficar desempregado.  


Sem motivo para sorrir 


Desde então, nos últimos nove anos, tem vivido como andarilho, entre Santos e Pernambuco, com um bico ou outro. Mas a situação piorou: sem-teto há cinco meses, teme nunca mais ter boas noites de sono.  


O principal problema para conseguir um novo emprego, diz ele, é a falta dos dentes. “É a aparência. Não consigo trabalho. Cheguei a arrumar emprego na cozinha de um restaurante em Peruíbe, mas eles desistiram”, emociona-se.  


“Vendo balas à tarde, após o almoço, para juntar dinheiro e comprar minha prótese. É o meu sonho. Não consigo morder uma maçã, não consigo emprego. Quero ter dentes para poder mudar de vida”, conta ele, que diz ter R$ 350,00 guardados com um amigo. 


Hoje, ele passa a maior parte do tempo no Centro de Santos, próximo ao Fórum e na Praça José Bonifácio, onde a Reportagem o encontrou deitado na grama. “Tinha descansado um pouco, porque à noite não dormimos direito.”  


Ele afirma não usar drogas ilícitas, mas costuma beber à noite para ficar acordado e esquecer os problemas.  


Auxílio 


A venda de balas garante, em média, R$ 15,00 por dia a Luiz Carlos. O dinheiro é suficiente apenas para economias e comprar mais doces. As roupas, velhas, o incomodam, pois prejudicam as vendas. 


Depois de falar com A Tribuna, ele foi para o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua da Prefeitura, o Centro Pop, onde tomou banho e fez um lanche. Pela manhã, toma café no Bom Prato, onde também costuma almoçar.  


Luiz Carlos relata já ter contado sua história para a Assistência Social de Santos, que o encaminhou para tratamento dentário. Mas, ali, foi informado de que levaria cerca de três anos para conseguir a prótese. “É muito tempo. Deixei meu nome, mas vou continuar economizando para colocar meus dentes.” 


Como ajudar  


Sem celular e só com RG e CPF no bolso, Luiz Carlos diz que os interessados em ajudá-lo podem deixar recado em uma pastelaria na esquina da Praça José Bonifácio com a Avenida São Francisco. Ele costuma frequentar o local. 


Tratamento 


A Prefeitura de Santos disse, em nota, que Luiz Carlos é atendido pelo Centro Pop e foi encaminhado à Policlínica Vila Nova, onde pediu informações sobre prótese dentária. Lá, recebeu orientações sobre os procedimentos e etapas do atendimento odontológico.  


“(O tratamento) Consiste, primeiramente, na avaliação e no tratamento bucal inicial na policlínica, cujo prazo depende das necessidades de cada paciente e pode ultrapassar um ano. Posteriormente, é feito o encaminhamento do paciente a um dos centros de Especialidade Odontológica (CEOs), para atendimento específico e, se necessário, confecção de próteses, que é realizada em até três meses, em média.” 


A Prefeitura destaca que, após receber as informações, Luiz Carlos deixou a policlínica, e que o tempo de espera total depende do tratamento odontológico necessário, pois um paciente só pode usar prótese dentária se não apresentar cáries, por exemplo, entre outros problemas bucais.  


“O senhor Luiz Carlos dos Santos Silva também foi informado que a agenda da Policlínica Vila Nova para tratamento odontológico abrirá em 13 de novembro. Caso tenha interesse, ele pode fazer o agendamento na unidade.” 


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