Mais votada em Santos, Telma detalha projetos e não descarta presidir a Câmara: 'Seria simbólico'

Eleita vereadora com 8.381 votos, ela pretende trazer mais investimentos para assistência social, saúde e educação

Por: Daniel Gois  -  01/12/20  -  14:34
Autoria de projeto é da vereadora Telma de Souza (PT)
Autoria de projeto é da vereadora Telma de Souza (PT)   Foto: Reprodução

Atenção especial à Zona Noroeste e maiores investimentos em saúde, educação e assistência social. Esses são alguns dos planos da vereadora mais votada de Santos, Telma de Souza (PT), eleita pela quarta vez para o cargo, com 8.381 votos.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal, GloboPlay grátis e descontos em dezenas de lojas, restaurantes e serviços!


Aos 76 anos, ela não descarta a possibilidade de presidir a Câmara dos Vereadores, mesmo que a bancada governista seja maior. Ao lado de Audrey Kleys (PP) e Débora Camilo (PSOL), Telma compõe o grupo de mulheres eleitas para o legislativo santista.



Qual será o seu foco nos quatro anos de mandato? Quais áreas terão mais atenção?


Temos alguns desafios já conhecidos e outros que estão por vir, como a segunda onda da pandemia e o pós-pandemia. Já tínhamos o contraste social em que Santos possui o sexto IDH do Brasil e, também, a maior favela de palafitas do País. Santos tem um déficit habitacional que ultrapassa 11 mil moradias. 


Desde 2016, com a crise política e econômica, o desmonte das políticas públicas e a pandemia, houve o crescimento do desemprego e da pobreza, o aumento de alunos na rede municipal de Educação, já que muitos tiveram que deixar a rede particular; o aumento de usuários no Sistema Único de Saúde (SUS), porque centenas de pessoas não conseguem mais pagar ou, com o desemprego, perderam os planos de saúde.  


Todas as nossas ações possuem uma linha de atuação: construir uma Santos melhor para todos os santistas, não apenas para os que votam em mim. A Cidade precisa de atenção por inteiro, mas há áreas mais vulneráveis como a Zona Noroeste, os morros, o Mercado Municipal e os cortiços da região central, que necessitam de uma atuação mais forte do poder público. 


Por isso, defendemos que o Orçamento Municipal, previsto em R$ 3,2 bilhões em 2021, seja melhor redistribuído. Apresentamos 130 emendas às diretrizes orçamentárias e cobramos mais investimentos nas políticas públicas de Saúde, Educação e Assistência Social. As diretrizes foram elaboradas antes da pandemia e o cenário agora é outro. E precisa ser reconsiderado. 


Como é para você ser a vereadora mais votada em Santos? Sente uma responsabilidade maior?


A responsabilidade, a cada eleição, é sempre muito grande. E ela se torna ainda maior por já ter sido prefeita de Santos, quatro vezes deputada federal, duas vezes deputada estadual e, agora, eleita vereadora pela quarta vez. Acredito, do fundo do meu coração, que ser a parlamentar mais votada, pela segunda vez, é o resultado de uma relação de confiança com o povo santista, que já se aproxima dos meus 40 anos de trajetória política, mas que foi renovada e aprovada pela população em mais este mandato.


Junto com a Audrey Kleys e a Débora Camilo, vocês foram as três únicas vereadoras eleitas em Santos, mas ficaram entre os quatro mais votados da cidade. Como você analisa esse cenário e a participação feminina na política? 


A participação feminina na política é uma das lutas de toda a minha trajetória. Sou pioneira nesse tema, tanto que, até hoje, sou a única mulher já eleita chefe do Poder Executivo em Santos. A partir da minha experiência como prefeita, tivemos a oportunidade de influenciar a abertura de mais espaços para as mulheres da Baixada Santista nas câmaras municipais, nas prefeituras dos outros municípios, na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. 


É importante que mais mulheres sejam eleitas para os espaços de poder institucional, mas esse crescimento da presença feminina ainda é muito tímido. Agora, seremos três mulheres no parlamento santista, com quase 20 mil votos entre as três, mas essa participação precisa avançar. Um exemplo é que o número de vereadoras eleitas na Região subiu de sete para 12, quase dobrou, mas ainda representam apenas 8,8% de 134 vereadores. E esse contraste também acontece nas prefeituras, nas assembleias legislativas, nos governos estaduais, na Câmara Federal, no Senado, nos ministérios, no País inteiro. 


Tem a intenção de presidir a Câmara dos Vereadores?


Seria simbólico para a Cidade ter uma mulher à frente do Poder Legislativo, neste momento do País e das lutas pela participação feminina na política. Em toda história de Santos, somente uma mulher presidiu a Câmara, a ex-vereadora e ex-deputada Maria Lúcia Prandi. Como tive a honra de presidir o Poder Executivo, na condição de única prefeita de Santos, seria também simbólico, enquanto vereadora mais votada, presidir o Poder Legislativo.  


No entanto, sabemos que a bancada de oposição da próxima legislatura tem somente três vereadores e a bancada governista possui 18. É natural que a bancada de situação se articule para pleitear a Presidência da Câmara.  


Como será o seu diálogo com o Poder Executivo?


O nosso mandato é pautado na defesa do povo santista. Fazemos uma oposição contundente, mas também construtiva, propositiva, com diálogo, respeito e civilidade. Já fui prefeita de Santos e, até pela experiência e por ter essa responsabilidade, todas as vezes em que faço alertas ao Poder Executivo, apresento propostas e caminhos. Não faço oposição por oposição. Meu compromisso é com a Cidade. Se o governo precisar da minha ajuda, naquilo que for correto, apoiarei. 


Quais projetos de lei você já tem em mente para propor?


Temos muitos projetos para apresentar e outros em tramitação, que daremos continuidade. Propusemos que as contrapartidas de obras da iniciativa privada sejam destinadas à revitalização de áreas degradadas e de vulnerabilidade social, a necessidade de leitos de UTI no Hospital da Zona Noroeste, a requalificação do atendimento em Saúde Mental e das policlínicas, criados pela nossa gestão à frente da Prefeitura de Santos, há 30 anos. 


Também apresentamos a criação e fomento da Política de Economia Solidária, a criação do Fundo Municipal de Combate à Desigualdade, a introdução de alimentos orgânicos na merenda escolar, a proibição de um incinerador de lixo em Santos e continuaremos propondo leis que priorizem as políticas públicas para que tenhamos uma Santos mais justa e solidária. 


Vamos propor mais projetos, utilizando e associando a tecnologia, os serviços públicos, abrindo ainda espaço para os munícipes participarem das decisões. É preciso mais transparência e ouvir a população. 


Qual a importância de se ter maior pluralidade na política? (negros, população LGBT, religiosos, mulheres, etc). O que pode ser feito para melhorar esse cenário?


O Tribunal Superior Eleitoral divulgou que o número de prefeitos e prefeitas que se declararam pretos e pardos subiu de 29 para 32% nesta eleição.  


Tradicionalmente, a Política ainda é majoritariamente ocupada por homens mais velhos, brancos e ricos. E a nossa luta é para quebrar paradigmas e defender a diversidade na representatividade política. 


O campo progressista, do qual faço parte, sempre trabalhou o fortalecimento das bases, para que mais pessoas, de diferentes origens, despertassem para a necessidade de ter consciência política. 


É com o investimento nas políticas públicas de Educação e Cultura, e também com um trabalho de base e formação nos partidos políticos, que atrairemos mais pessoas, de diversos segmentos, para dar voz e representatividade a todos. 


Você já foi prefeita de Santos, vereadora, deputada estadual e federal. Como é para você continuar na vida pública aos 76 anos? Será o último mandato? Pretende concorrer a outros cargos?


A minha paixão por Santos é o que me dá estímulo e me trouxe até aqui.  E, felizmente, sinto que essa conexão é recíproca. Fico até emocionada com o reconhecimento das pessoas pelo nosso trabalho. Depois de toda essa trajetória, neste ano atípico com a pandemia, a descrença na política representada em mais de 100 mil abstenções, receber o voto de confiança de 8.381 eleitores renova o meu compromisso, a minha responsabilidade e a possibilidade de continuar seguindo em frente, com sonhos e esperança.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter