Irmãos de Santos driblam a crise para seguir com comércio com mais de meio século na cidade

Kátia e Renato herdaram a loja dos pais e usam a criatividade para continuar crescendo, mesmo na pandemia

Por: Jean Marcel  -  04/07/21  -  11:06
   O que começou como brincadeira de criança, se tornou responsabilidade dos irmãos
O que começou como brincadeira de criança, se tornou responsabilidade dos irmãos   Foto: Arquivo Pessoal

Kátia e Renato são os responsáveis por manter a tradição familiar que atravessa mais de meio século de um comércio em Santos. Eles são filhos de Eunice e Libório, das Lojas Couraça. A história começou em 1948, quando um casal de portugueses veio para o Brasil e abriu a antiga Loja Couraça e Rochedo. O pai dos jovens foi casado com a filha desse casal, e acabou assumindo a loja depois da morte da sogra. Agora, com a pandemia e a crise, os irmãos precisam se reinventar para seguir com o funcionamento do comércio na família.


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"Manter a empresa viva e saudável em meio à pandemia foi, e ainda está sendo um grande desafio. Precisamos nos reinventar, buscar alternativas", conta Kátia. Para seguir com a tradição da família e ter a saúde na empresa foi preciso novas possibilidades: "Tivemos que investir mais em vendas on-line, aproveitar as novas tecnologias, usá-las ao nosso favor. O WhatsApp e o Instagram se tornaram fundamentais para nossa comunicação e interação com os clientes", explica Renato.


A comerciante explica que com a maioria das pessoas em casa, e o trabalho em home-office, algumas inovações acabaram acontecendo, e muitos passaram a fazer receitas novas. "Vários dos clientes ficaram mais tempo em casa e repararam, também, que poderiam investir, ou simplesmente trocar os utensílios de cozinha que possuíam. Isso aumentou muito a procura pelos nossos produtos", conta Kátia.


Entender o mercado, e procurar atender da melhor forma, parece ser a receita que vem atravessando gerações: “O bom atendimento é a chave mestra para qualquer bom negócio. Cliente satisfeito volta sempre e traz outros", diz o pai Libório, que mesmo aos 83 anos de idade, ainda ia por vezes ao comércio, antes da pandemia.


"É uma loja com clientes leais e fiéis, que assim como nós, também passam a tradição de comprar conosco por várias gerações em suas famílias", conta Libório. E completa: "Sinto-me muito grato e orgulhoso pelos meus filhos darem continuidade. Com muito esforço podemos manter nosso negócio, sempre inovando e modernizando".


História na cidade


A Couraça é parte da história de Santos. Libório conta que, em 1948, Rubens Monteiro de Andrade, sua esposa Benedicta Leme de Andrade e a filha Cornélia Leme de Andrade vieram morar na cidade. Foi quando abriram uma loja de artigos de utilidades domésticas e presentes, no centro, à rua João Pessoa, 161.


Em 1965 Libório casou-se com a filha do casal. "Um ano depois meu sogro faleceu e Benedicta, Cornélia e eu ficamos à frente dos negócios. Tivemos dois filhos, Cláudia e Ricardo. Ele nos ajudava no comércio, e Cláudia seguiu outros rumos", relembra o comerciante.


Empreendedor nato, ele reparou que a maioria dos comerciantes ligados ao ramo de bares e restaurantes faziam suas compras na capital. Foi então que a loja começou a se diferenciar das outras, continuando com utensílios domésticos e presentes, mas focando principalmente nos que os bares, restaurantes, hotéis e fornecedores de navios mais precisavam.


Quando Cornélia faleceu, Libório comprou a parte da sogra e assumiu o comércio. Em 1983 casou-se com Eunice, e nasceram Kátia e Ricardo. No ano seguinte ele ampliou a loja, ainda no centro da cidade, e uma outra foi aberta no número 39 da avenida Washington Luiz. "Em 1999 tudo ficou concentrado na rua João Guerra, e agora tivemos a mudança recente para o bairro Gonzaga", explica Ricardo.


   Libório com os filhos Kátia e Renato e a família anos depois, em frente à loja
Libório com os filhos Kátia e Renato e a família anos depois, em frente à loja   Foto: Arquivo Pessoal/Claudio Vitor Vaz

Brincadeira que ficou séria


"A gente adorava ir à loja e brincar de sermos comerciantes", conta Kátia, que desde pequena ia com o irmão ao comércio. "Eles nem sabiam, mas mesmo crianças já estavam trabalhando no negócio da família", diz a mãe, Eunice.


Em 2006, o que começou como diversão para as crianças ficou sério. "Meu pai iniciou tudo do zero, mas acabou perdendo suas conquistas por erros administrativos e por má índole de algumas pessoas. Era o momento de fazer algo", explica Renato. Foi quando ele e Kátia tomaram a frente do comércio.


"Foi preciso também muita força e esperança de que valeria a pena persistir. Foi fazendo trabalho de formiguinha, com cada venda efetuada sendo comemorada. Era a esperança de que seria possível manter o negócio", relembra Kátia.


   Encarando novo desafio, Kátia e Renato inauguram a atual loja, no Gonzaga
Encarando novo desafio, Kátia e Renato inauguram a atual loja, no Gonzaga   Foto: Arquivo Pessoal

Futuro


A mudança neste ano de 2021 para o Gonzaga, foi um novo desafio para os jovens. Kátia relembrou a sensação: "Ficamos assustados de início, pois o investimento foi alto, mas o tempo que conseguimos nos manter abertos nos mostrou grande potencial de crescimento. Continuamos a luta seguindo a lição herdada da família, mantendo um trabalho honesto e incansável, com muito amor e dedicação".


Mesmo diante dos desafios, Libório é aquele ‘paizão’, que traz sempre uma palavra de força não só para os filhos, mas para todos: "Meu desejo é poder ver e saber que apesar das dificuldades, dos tempos difíceis que estamos vivendo, que ninguém jamais desanime e continue trabalhando com honestidade, determinação e garra. Espero que os desejos de todos possam ser agraciados pela concretização de seus sonhos e objetivos", finaliza.


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