Funcionários denunciam negligência do banco Santander após casos da Covid-19 em Santos

Bancários relatam medo de contaminação, chantagem, cobranças, falta de máscaras de proteção e trabalho clandestino convocado por gestores em agências infectadas

Por: Nathalia Perez  -  02/05/20  -  11:03
  Foto: Fabiano Couto/Sindicato dos Bancários de Santos e Região

Funcionários de agências do Santander em Santos denunciam negligência por parte do banco e de seus gestores após casos confirmados da Covid-19 no quadro de empregados, com medidas tomadas - ou a falta delas - que colocam a saúde dos trabalhadores e dos clientes em risco.


As denúncias são sobre funcionários com sintomas de coronavírus que estão trabalhando, agências infectadas abertas, trabalho clandestino em prédios que não foram evacuados, chantagens sobre demissões, realocamento de bancários que tiveram contato com colegas doentes para outras agências e a não disponibillização de máscaras de proteção.


Os relatos se tornaram públicos graças ao Sindicato dos Bancários de Santos e Região, que emitiu comunicado, na última semana, explanando as situações. Um delas é o fechamento de três agências que tinham funcionários que testaram positivo para o novo coronavírus, que só teria se dado mediante uma intervenção feita pelo sindicato.


O protocolo do Santander é que as agências entrem em quarentena assim que houver a confirmação do exame feito por algum dos bancários, o que, para o sindicato, é arriscado, já que a demora para obter o resultado dos testes de coronavírus é um dos maiores problemas da pandemia no Brasil.


Há também acusações graves por parte dos bancários vinculados ao Santander, que temem ter suas identidades reveladas, feitas ao sindicato. Gestores teriam convocado funcionários que estavam trabalhando em regime 'home office' para trabalhar em prédios onde houve casos da doença e não foram evacuados.


O banco também teria transferido funcionários sem sintomas aparentes para outras unidades da Baixada Santista, ignorando se houve ou não contato com colegas infectados e o fato de que muitos pacientes da Covid-19 são assintomáticos, segundo as denúncias.


Na última quinta-feira (30), dois diretores do Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Marcio Fidencio e Fabiano Couto, visitaram um prédio na Rua Brás Cubas que abriga duas agências do Santander, sendo uma 'Select', com um total de 17 bancários dividindo o mesmo espaço.


"Apuramos que a gerente geral da unidade Santander Coliseu trabalhou com sintomas da Covid-19 e problemas pulmonares. (...) Espalhar o vírus é o que o Santander pode fazer por você hoje? Isso é inadmissível e faz do banco um potencial disseminador da doença para toda a população", critica Couto em comunicado publicado pelo sindicato.


Procurado por ATribuna.com.br, o diretor do sindicato, que é funcionário do Santander há 27 anos, ainda comentou sobre o temor que funcionários têm sentido em função de ameaças e do risco de contaminação no ambiente de trabalho.


A reportagem, então, conversou com um empregado de uma agência do Santander em Santos, que preferiu não se identificar e ceder detalhes do local em que trabalha. Ele confirmou que o tratamento com os funcionários é de cobrança intensiva. "É coisa do tipo: Se não baterem as metas agora, quando acabar a pandemia, vai todo mundo para a rua", contou.


Segundo o funcionário do Santander, o banco também não disponibilizou máscaras de proteção aos funcionários, o que obrigou um dos gestores a comprar por conta própria o item para toda a equipe.


"Eu sinto que minha saúde está em risco. As máscaras são insuficientes. Em nenhum momento, o banco colocou na agência que eu trabalho aqueles acrílicos que os supermercados colocaram", constatou.


ATribuna.com.br questionou o banco Santander sobre as normas definidas pela instituição em casos confirmados do novo coronavírus em suas agências e se as denúncias seriam apuradas. O banco respondeu, através de nota da assessoria de imprensa, que "reitera que tem adotado todos os cuidados e procedimentos necessários para preservar a saúde de seus funcionários e clientes".


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