'Eu acredito em uma nova onda de prosperidade para a Baixada Santista', diz Mônica Orcioli

Reitora da Universidade São Judas comenta sobre a o papel do ensino superior no mercado de trabalho

Por: Da Redação  -  06/12/20  -  14:20

“A Baixada Santista poderá viver um novo momento depois da pandemia. Eu acredito em uma nova onda de prosperidade para a região, e é uma crença que não é só minha. A pandemia tem mostrado que é possível morar na Baixada Santista com toda sua qualidade de vida, e trabalhar em outros lugares, como em São Paulo. Baixada Santista e qualidade de vida são quase sinônimos”.


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A fala é da nova reitora da Universidade São Judas, Mônica Orcioli, que assumiu o comando da instituição em meio à pandemia do novo coronavírus. A instituição completa 50 anos em 2021, junto com a Unimonte, que nasceu no mesmo ano e hoje integra o complexo educacional.


Mônica faz sua estreia no segmento educacional, depois de 30 anos de carreira e de passar os últimos nove como CEO da Swarovski Professional da América Latina, um segmento do mercado de luxo. Além de ter contribuído para a gestão de empresas como DuPont, Ogilvy& Mather, AliansceShopping Centers, Natuzzi e Missoni. 


Nesta entrevista, ela fala sobre o papel do ensino superior hoje e da necessidade de haver sintonia fina entre o universo acadêmico e o mercado de trabalho, cada vez mais diverso e tecnológico.


A senhora já passou por cargos de gestão em vários segmentos, entre eles e por último, o de joias raras. O que a levou para a Educação?


Eu tenho mais de 30 anos de carreira e fui a primeira pessoa da minha família a ter curso superior, e talvez por causa dessa oportunidade de poder estudar foi que percebi o que a Educação fez para o meu desenvolvimento. Tudo que eu conquistei de formação devo à Educação. Já há algum tempo venho me dedicando e fazer essa estreia e há dois anos surgiu o convite. Acho que só a Educação vai poder transformar o nosso País. Já trabalhei em vários segmentos, do varejo ao mercado de luxo, mas o poder de transformação pela educação é muito grande. 


E qual a principal diferença entre os demais segmentos pelos quais passou e a Educação?


O potencial que a Educação tem no Brasil, especificamente, é muito grande. Temos um déficit enorme. Entre alunos de 18 a 24 anos, aproximadamente 19% estão no curso superior. A média mundial é de 34%. Temos metas de crescer, mas o ritmo é muito lento. Nosso esforço é no sentido de ampliar esse horizonte, para que mais jovens tenham acesso ao ensino superior. A diferença, então, é o potencial que ela tem no Brasil e o fato de que a maioria das pessoas da Educação trabalha com um propósito muito grande, trabalha realmente apaixonada pelo que faz. Esse sentimento que percebo na Educação não sentia nos demais segmentos onde já trabalhei.


Aqui na Baixada Santista, há uma queda demográfica no número de jovens entre 18 e 24 anos e uma ascensão de pessoas com mais de 60, segundo a Fundação Seade. Essa é uma preocupação para a universidade?


Até 2019, essa era sim uma preocupação, mas eu acho que o cenário agora é outro. Eu acredito que, entre as mudanças que vêm ocorrendo com a pandemia, a Baixada Santista vai ser significativamente beneficiada. A gente sabe que São Paulo sempre atraiu os jovens em busca de trabalho. Acredito que vai ter muita gente indo morar na Baixada para ter melhor qualidade de vida. Gente que é da Baixada e morava em São Paulo para trabalhar, por exemplo, e que agora percebeu que não precisa mais fazer isso, que dá para trabalhar de casa. É um caminho promissor. Estamos apostando bastante nisso.


Dentro dessa perspectiva, quais os planos da universidade para a região?


Aqui na Baixada temos três frentes: a São Judas-Unimonte em Santos, a Faculdade de Medicina em Cubatão e o centro veterinário em Cubatão, o Ceptas (Centro de Pesquisa e Triagem de Animais Selvagens). O campus Unimonte está completando 50 anos junto com a São Judas. É um campus muito tradicional, que tem cursos que são referência. Para 2021, teremos 21 novos cursos. Alguns desses cursos conversam com a nova realidade do mercado de trabalho. 


Em 2021 as aulas continuam remotas ou os alunos voltam às atividades presenciais?


Neste segundo semestre de 2020, temos uma parte das turmas de forma digital, e outra parte, que precisa de práticas presenciais, já de volta à universidade. Em julho fizemos a reposição das aulas práticas do primeiro semestre, e desde o início do segundo semestre temos feito essas aulas na unidade. Os cursos que não precisam de prática continuam de forma digital.


E em 2021?


Vamos aguardar pra ver qual será o direcionamento das autoridades de saúde, mas estamos preparados e prontos para, se for possível, entrar com todas as aulas presenciais. No campus Unimonte, aproveitamos esse período para criar novos espaços, novos laboratórios, bibliotecas, clínicas. Foi um verdadeiro retrofit.


Em outubro, o Grupo  nima, da qual a São Judas faz parte, adquiriu um outro grupo de educação, o Laureate. Esse movimento colocou o  nima como um dos maiores do País. O que muda para a São Judas?


Todos os gestores estão em período de silêncio (imposto pela Comissão de Valores Mobiliários em determinadas transações). Mas assim que esse período terminar, os próprios diretores do Grupo  nima darão os detalhes dessa ação.


Este ano, houve uma queixa por parte dos alunos em função de mudanças no currículo que teriam reduzido a carga horária diária. Também recebemos a informação de que muitos estariam migrando para outras universidades.


Veja, essas informações não são verdadeiras. Fizemos, sim, mudanças na matriz curricular, passando de um modelo onde existiam disciplinas e para outro onde temos unidades curriculares. Essa nova matriz curricular visa acompanhar as reais necessidades do mercado. Em cada semestre, os alunos têm a prática de duas unidades curriculares, ministradas por duplas de professores. Além disso, têm projetos de extensão e mentoria. Têm também interações com empresas e entidades, que acabam contam para o currículo. A carga horária não foi reduzida. Em alguns cursos, tivemos até ampliação de carga. Não sentimos perda de alunos, não. Nossa evasão não tem nada de diferente dos semestres anteriores. O processo de captação foi muito bem-sucedido.


Como a senhora enxerga a Educação superior daqui a dez, 15 anos? Que cenário a senhora enxerga tendo como base essa experiência que vem adquirindo?


Acho que precisamos trabalhar arduamente para conseguir inserir cada vez mais o jovem no ensino superior. Só que o ensino superior tem que acompanhar a demanda do mundo. Em outros tempos, jamais pensaríamos em abrir os cursos que estamos abrindo em 2021, como Criminologia, Design de Animação, Redes de Computadores, Segurança da Informação.


São áreas desse novo mundo..


Exato. Segurança e Sistemas de Informação têm um gap de profissionais muito grande. Os profissionais que estão aí são contratados a peso de ouro. O mercado não dá conta, não tem gente suficiente. Com esses cursos, temos cerca de 60% da base, mas precisamos desenvolver modalidades que estejam acompanhando essa nova necessidade. Modalidades ligadas ao ambiente, ao social e à governança. Falar sobre liderança, por exemplo, é imprescindível dentro da universidade. A Educação precisa acompanhar essas mudanças. 


As mudanças parecem ocorrer mais rapidamente agora do que nos últimos anos ou é só impressão?


A Educação superior ficou igual por quase 200 anos, quando foram fundadas as primeiras universidades, tanto fora como dentro do Brasil. Ela foi estática em termos de desenvolvimento. Só que o aluno evoluiu muito nesse período e precisava de uma forma diferente de aprender, porque senão vai buscar esse aprendizado em outro lugar. Por isso também mudamos nossa matriz curricular. Não podemos focar apenas na grade curricular. As competências acadêmicas vêm junto com a formação das competências socioemocionais. Como ensinar sobre liderança, trabalhar em equipe, resiliência. É uma forma mais colaborativa de aprender e ensinar. E não podemos fechar os olhos para isso.


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