Criança é mordida e agredida por colegas de classe e mãe reclama de omissão da escola em Santos

Vítima agora toma antidepressivos; mãe teme que violência aumente

Por: Diogo Menezes  -  26/04/24  -  16:57
Atualizado em 30/04/24 - 19:14
Menino de 7 anos foi mordido dentro da UME Dr. Fernando Costa, em Santos, por outro aluno, após sucessivas agressões e ofensas
Menino de 7 anos foi mordido dentro da UME Dr. Fernando Costa, em Santos, por outro aluno, após sucessivas agressões e ofensas   Foto: Reprodução

O ano letivo mal começou e a autônoma Nathaly do Carmo, de 37 anos, mãe de um menino de 7, não sabe mais o que fazer devido à omissão com que, segundo ela, o filho tem sido tratado na UME Dr. Fernando Costa, no bairro São Jorge, em Santos. Mesmo recorrendo aos professores e à escola, o garoto vem sendo agredido constantemente pelos colegas. A mais grave das agressões ocorreu no fim de fevereiro, quando o menino recebeu uma mordida tão forte que deixou um grande hematoma e a marca dos dentes do agressor na região do peito.


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A mãe conta que, desde o início das aulas, o filho, que está no 2º ano do Ensino Fundamental, tem sido alvo de xingamentos, ofensas e agressões de um aluno que estudava na mesma sala. Intimidado, o garoto costumava recorrer à professora, pedindo por ajuda e uma tomada de atitude. Quando chegava em casa, contava tudo o que ocorria na escola para a mãe, que, preocupada, também procurou a UME e a professora solicitando uma intervenção. Mas, segundo Nathaly, nada ocorreu.


Em uma das situações, quando o agressor mostrou o dedo do meio para o filho de Nathaly, o menino pediu orientação da professora. No entanto, a resposta o deixou sem ação. “Ela disse que o dedo do meio é igual a todos os outros e que ele não deveria se importar com isso”, conta a mãe.


Preocupada com as agressões, Nathaly matriculou o filho no programa social Sai da Rua Moleque, onde ele aprendeu a se defender nas aulas de caratê. Mas os ataques continuaram e nenhuma solução foi tomada por parte da instituição de ensino, reforça a mãe.


Em 29 de fevereiro, o menino voltou a ser ofendido e agredido, mas, dessa vez, recebeu uma forte mordida no peito. A mãe conta que o agressor cravou os dentes no garoto, que acabou sendo obrigado a bater no menino para ser solto.


Nathaly soube da agressão quando foi buscar o filho na escola. Imediatamente, ela levou o menino para o hospital para receber cuidados e orientação médica.


No laudo médico, foi declarado que “o paciente necessita de auxílio pedagógico inclusivo”.


Nathaly também foi até a delegacia, onde tentou fazer um boletim de ocorrência (BO). Ela chegou a produzir um documento, descrevendo as ofensas e agressões, mas o registro não foi concretizado pelos policiais, porque o agressor era uma outra criança.


Após ser mordida por um aluno, vítima voltou a ser agredida por outra criança na UME Dr. Fernando Costa, em Santos
Após ser mordida por um aluno, vítima voltou a ser agredida por outra criança na UME Dr. Fernando Costa, em Santos   Foto: Reprodução

Mudança

Depois da gravidade do ataque, a escola permitiu que o menino mudasse de turma. Mas o que deveria ser um alívio para a mãe se mostrou um novo momento de pânico. Isso porque, segundo o filho, na nova sala existe um outro garoto agressor e que já está praticando ofensas e violência da mesma forma que a vítima sofria na antiga turma.


Novos pedidos e orientações foram feitos pela criança e pela mãe aos professores e à UME Dr. Fernando Costa, mas, de acordo com Nathaly, até agora nada foi feito.


O menino também foi inscrito pela mãe em outro programa social: o Pró Viver, que oferece diversas atividades recreativas. Mas, para surpresa dela, o agressor dessa segunda turma também frequenta o local.


Por conta disso, o menino vem sendo ofendido e agredido constantemente, sem nenhum tipo de ajuda da escola e do programa, que é administrado pela Secretaria de Educação de Santos.


“Na última sexta (19), o menino deu um soco na boca do meu filho e jogou a peteca na cara dele. Nesta quarta (24), ele puxou os cabelos do meu filho, fazendo com que batesse o supercílio em algum lugar”, reclama Nathaly, afirmando que a criança está com um novo hematoma por conta da agressão.


Remédios e medo por algo pior

Nathaly mora sozinha com o filho e conta que ele está assustado com toda a situação. Por conta disso, está tomando antidepressivos para lidar com a pressão que vive.


Autônoma, Nathaly afirma que já perdeu muitos trabalhos por conta da situação. “Estamos extremamente abalados com isso tudo, por tudo o que está havendo com meu filho. Não tenho paz para trabalhar vendo que ele não está seguro na escola em que estuda”.


Posicionamento da secretaria

Procurada, a Secretaria de Educação de Santos afirmou que a situação está sendo acompanhada por uma equipe gestora da escola, pela supervisora de ensino e pela própria pasta.


A secretária de Educação, Cristina Barletta, garantiu que os pais e responsáveis legais pelo aluno agressor foram chamados para uma conversa, na qual ficaram cientes das agressões.


A secretária garante que metodologias de justiça restaurativa e implementação da cultura da paz e mediação de conflitos, presentes no Projeto Político Pedagógico (PPP), são adotadas em todas as escolas do município.


Cristina ainda se comprometeu a intensificar o trabalho de combate ao bullying e a garantia do respeito ao próximo. "Todos esses registros serão acompanhados de perto a partir de agora", afirma.


“Isso chama atenção para que a gente possa ter um cuidado maior e não possa acontecer com outra criança”, diz, ao relatar que desconhece que tenha havido falta de atitude dos professores e da gestão da escola.


“Nossos professores são orientados a ficar mais próximos do aluno, a ter uma observação maior a respeito da conduta de todos os alunos da sala e é o que eu posso dizer que está acontecendo agora. Um olhar mais apurado em todas as situações, no recreio, saídas, jornada guiada, nos momentos em que existe uma convivência maior entre eles”.


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