O tradicional Clube XV completou 150 anos em junho, mas a festa continua. Em homenagem a uma das entidades mais longevas do País, os Correios lançam na sexta-feira (11), um selo comemorativo pela data.
Em tanto tempo de história, o clube participou de diversos fatos marcantes de Santos e do Brasil. Em meio aos avanços tecnológicos e mudanças de hábitos da sociedade, luta para manter vivo o nome, a história e a tradição. “Queremos que dure mais 100, 150 anos”, almeja o presidente Gilberto Ruas.
A Reportagem foi recebida em uma sala repleta de fotos dos presidentes, entre eles o primeiro, Antonio de Pinho Brandão, um dos 15 fundadores – daí o nome do clube. A casa de Brandão, que ficava na Rua Direita, hoje Rua XV de Novembro, é considerada a primeira sede da entidade, fundada em 12 de junho de 1869.
As lembranças do passado nas salas e corredores da 10º sede, inaugurada em 2010, lembram a rica história do clube, que nasceu após uma tumultuada assembleia da Sociedade Carnavalesca Santista, formada por jovens da alta sociedade, que promoviam a festa na Cidade.
Insatisfeitos, 15 jovens seguiram para a casa de Brandão, onde resolveram criar uma entidade com a mesma finalidade. A princípio, o nome seria Clube dos Quinze, mas para não restringir a participação de outros, foi batizado de Club XV, seguindo a tendência de nomes em inglês da época – só depois de um tempo passou a ser chamado de Clube XV.
Sócia há mais de 40 anos, a diretora Alzira Esteves Ayres Gomes de Mattos conta que nos primeiros anos o Club XV se propôs a realizar bailes e desfiles de Carnaval, que eram considerados os melhores.
Com o tempo, quando já estava em sua segunda sede, na Rua General Câmara, a entidade começou a servir como ponto de encontro de famílias de prestígio na Cidade, pessoas com influência na política e cultura santistas. Estes se encontravam para ler e discutir os rumos do Município.
Alzira conta que foram muitos os assuntos marcantes debatidos na sede do clube. Entre os temas mais relevantes: a luta contra a escravidão. Ela ressalta que os escravos foram libertos em Santos, antes da a assinatura da Lei Aurea, pela Princesa Isabel.
Nos salões do Clube XV ocorreram inúmeros debates a favor ou contra o movimento republicano, de forma livre. “O clube orgulha-se de ter recebido, durante décadas, todas as autoridades oficiais que visitavam a Cidade”.
Manutenção
Foram muitas as sedes, 10 ao todo, mas os tempos do glamour e do extenso quadro de associados (chegou a ter mais de mil), não se mantiveram. De acordo com o vice-presidente administrativo e financeiro, Milton Ferreira de Araújo, a mudança de hábitos da população, a tecnologia, e os prédios, hoje com áreas de lazer, foram minando o convívio social das pessoas e atingiram em cheio os clubes.
O presidente Gilberto Ruas lembra que a entidade precisou abrir mão de muitas coisas para continuar a existir. O terreno, na Avenida Washington Luiz, 565, no Boqueirão, entrou como parte de um acordo com empresários que construíram duas torres no local. Em troca, o clube ficou com o 4º e 5º andares de um dos prédios.
Sublocação
Diversos espaços dos 7 mil m² precisaram ser sublocados a outras empresas para a arrecadação de recursos, já que o quadro de sócios está menor – são cerca de 200 pagantes e 350 remidos.
Além do snooker e carteado, tradicionais desde os primórdios do clube, agora a entidade conta com outras atrações, trazidas por essas empresas, como academia, balé, artes, pilates, entre outros serviços aos quais os sócios têm descontos. “Foi a forma que encontramos para continuar com o clube. Além das festas promovidas em nossos salões”.
Situação
O Clube XV tem em torno de 550 sócios, sendo que cerca de 350 são remidos (não pagam mensalidade). A sede fica dividida entre o quarto e quinto andares de um conjunto localizado na Avenida Washington Luiz, 565, no Boqueirão, em uma área útil de 7.133 m².
A construção da nova sede levou 10 anos para ser concluída e ocorreu após acordo com uma empresa que ergueu duas torres no terreno, que ainda pertence ao Clube XV. Apesar disso, o clube deve condomínio, por usar parte da estrutura do prédio.
Segundo o advogado da instituição, Fernando Bonavides, a situação caminha para ser resolvida com um acordo, em que o condomínio devido é perdoado e nenhuma nova cobrança será feita. Em troca, o quinto andar, onde fica o salão de festas e a piscina do clube, viraria área comum do conjunto de edifícios.