Conheça a história do professor santista que percorre o mundo de bike com seu cão

Carregando Belmiro, seu border collie de 3 anos, professor já pedalou 12 mil quilômetros em mais de 30 países da Europa

Por: Arminda Augusto  -  16/07/23  -  07:04
Atualizado em 16/07/23 - 18:18
Luis Fernando Prestes Camargo e Belmiro partiram de Santos em março do ano passado; na bagagem, apenas 35 quilos e a meta de pedalar 30 mil quilômetros, passando por 70 países
Luis Fernando Prestes Camargo e Belmiro partiram de Santos em março do ano passado; na bagagem, apenas 35 quilos e a meta de pedalar 30 mil quilômetros, passando por 70 países   Foto: Arquivo Pessoal

Tem um santista pedalando pelo mundo com seu cão de estimação a bordo, colecionando um sem-número de fotos e vídeos de paisagens, pessoas, lugares e belezas, além de histórias, aventuras e impressões que, no retorno ao Brasil, vão se transformar em infinitas aulas de História e Sociologia para seus alunos do Ensino Médio. Neste exato momento, eles estão no Cazaquistão, país da Ásia Central que fazia parte da antiga União Soviética.


Esse santista é Luis Fernando Prestes Camargo, de 53 anos, que partiu de Santos em 10 de março do ano passado carregando na mala 35 quilos de bagagem e acompanhado do item mais valioso: o Belmiro, um border collie de 3 anos. Ambos foram pauta de A Tribuna quando a jornada começou, em reportagem publicada dia 6 de março de 2022.


Dezesseis meses depois da partida, parte da meta de pedalar 30 mil quilômetros já foi cumprida. Até agora, Luís Fernando e Belmiro já percorreram 12 mil quilômetros por estradas, caminhos de terra e pedra, avenidas, ruas, becos e vielas de 32 países da Europa e Ásia. Até o final do ano, eles devem chegar a 18 mil quilômetros.


Dezesseis meses depois da partida, parte da meta de pedalar 30 mil quilômetros já foi cumprida.
Dezesseis meses depois da partida, parte da meta de pedalar 30 mil quilômetros já foi cumprida.   Foto: Arquivo Pessoal

Conhecimento pelo mundo
O roteiro do professor e seu fiel companheiro mudou pouco: desembarcaram em Lisboa, Portugal, de lá seguiram para Alemanha, França, Espanha, Bélgica, Holanda, República Tcheca, Polônia, Eslováquia, Hungria, Sérvia, Romênia, Moldávia, Transnístria, Bulgária, Macedônia do Norte, República de Kosovo, Albânia, Montenegro, Croácia, Bósnia, Itália, Suíça (Tour du Mont Blanc, a pé), França novamente (Tour du Mont Blanc, a pé), Itália novamente (Tour du Mont Blanc, a pé), San Marino, Grécia, Turquia, Geórgia, Armênia, Rússia e Cazaquistão.


Para tanto tempo fora de casa, era preciso distribuir entre os 35 quilos de bagagem, acomodados em mochilas que se penduram por toda a bicicleta, roupas para as quatro estações, tanto dele quanto de Belmiro.


Em Batumi, cidade às margens do Mar Negro, capital da Ajária, uma república autônoma no sudoeste da Geórgia
Em Batumi, cidade às margens do Mar Negro, capital da Ajária, uma república autônoma no sudoeste da Geórgia   Foto: Arquivo Pessoal

Na Turquia, pegaram um frio rigoroso, próximo dos 15 graus negativos, e foi preciso parar quatro meses antes de voltar para a estrada. Nesse tempo, a parada foi em hotéis modestos de beira de estrada. Com tanta neve, sair à rua só para o imprescindível. “Levava o Belmiro pra rua todos os dias. Ele fazia o que tinha que fazer em minutos e já pedia pra voltar pra dentro”, brinca o professor.


Aula
Quem acompanha o Instagram de Luís Fernando pode achar que tudo são flores e lindas paisagens. Engano. Além de saber enfrentar o frio, a aventura exige uma dose de conhecimento sobre a história e as relações entre os países onde há zonas de conflito. “A Geórgia é brigada com a Rússia, a Armênia é brigada com Azerbaijão, Azerbaijão se dá bem com a Rússia, mas invadiu um pedaço da Armênia no passado. O Cáucaso (cadeia de montanhas com 1.200 km entre os mares Negro e Cáspio) é um mosaico político cheio de guerras”, diz.


No entrar e sair de países em guerra, nem sempre é possível ficar ileso, conta o professor. “Na Rússia, por exemplo, foi tenso desde a fronteira. A agente russa me chamou assim que mostrei os documentos. Fiquei uma hora sendo interrogado, e com o Belmiro e minhas coisas do lado de fora. No final, perguntaram como era a imagem da Rússia no Brasil, e eu disse que era negativa por causa da guerra. Fui sincero”, conta.


Outro interrogatório foi na Transnístria, que pertencia à Moldávia. Ali, foram três horas respondendo a todo tipo de pergunta dos agentes federais apenas porque estava fazendo fotos de prédios do governo. “Eles têm uma paranoia, um medo grande de atentado”.


Luiz e Belmiro em Pamukkale, na Turquia
Luiz e Belmiro em Pamukkale, na Turquia   Foto: Arquivo Pessoal

Brasil e mundo
Embora transitando por zonas de conflitos e guerra, Luís Fernando faz uma comparação relevante. “No Brasil, a gente vive com medo, não anda com celular na rua pra não ser assaltado. Em todos os países por onde passei, em nenhum momento tive medo, em nenhum momento soube de algo violento como assalto ou latrocínio”. E como tem sido viajar com um cachorro pelo mundo? Luís Fernando conta que Belmiro é a alegria por onde passa, faz amizade com todos e é o primeiro ponto de ligação e empatia com os diferentes povos, com exceção de alguns países onde o islamismo predomina, pois os cães são considerados “impuros” e não recebem o tratamento comum aos pets.


Outra dificuldade é com ração, nem sempre fácil de encontrar em cidades pequenas. Nessas, a solução é racionalizar a ração misturando a carnes ou frango.


Gentileza
A viagem também tem desconstruído preconceitos que Luís Fernando sempre ouviu sobre alguns povos. “Diziam que os russos são frios e ríspidos. Não são. Na Europa rica, a empatia foi pequena. As pessoas sequer se aproximam da gente. Do antigo leste europeu para a Ásia, a empatia é tão grande que às vezes emociona e tenho que respirar fundo... nos oferecem de tudo: comida, frutas, água, suprimentos. Uma ajuda espontânea e sincera, muito emocionante”.


A viagem está só na metade. As próximas paradas devem ser China, Vietnã, Afeganistão, a depender das condições de segurança. A meta é finalizar depois de 70 países visitados.


Para acompanhar
Quem quiser acompanhar a aventura de Luís Fernando e Belmiro pode seguir no Instagram (@pedalandonahistoria). E quem quiser fotos, vídeos e minidocumentários exclusivos pode contribuir com qualquer valor neste link. “É uma forma de viajar com a gente”, diz.


Logo A Tribuna
Newsletter