Bairros carentes de Santos, Vila Haddad e Centro lideram casos de Covid-19

Incidência de confirmações de coronavírus a cada 100 moradores nesses locais é mais do que o dobro

Por: Maurício Martins  -  05/04/21  -  08:45
Cortiços do Centro de Santos favorecem transmissão do vírus
Cortiços do Centro de Santos favorecem transmissão do vírus   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Bairros de baixa renda de Santos lideram o número de casos de coronavírus proporcionais à população. Na Vila Haddad, uma área com pouco mais de 200 moradores, que já fez parte do Chico de Paula, na Zona Noroeste, a incidência é de 24,4 confirmações para cada 100 habitantes. No Centro, que tem mais de mil moradores e concentra muitos cortiços, habitações coletivas que favorecem a transmissão do vírus, a taxa fica em 20,3. Nos dois bairros a incidência é mais do que o dobro da média da Cidade, que está em 8,9.


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Além da Vila Haddad e do Centro, na lista dos cinco bairros com mais casos por 100 habitantes estão outros locais carentes, onde o distanciamento é dificultado pela característica das moradias: Morro do Marapé (16,4), Valongo (15,9) e Vila Progresso (14,2). Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde, considerando todo o período desde o início da pandemia.


Já no índice de letalidade, ou seja, quantos pessoas morreram com a doença a cada 100 contaminados no bairro, o Gonzaga fica em primeiro (4,7%), Castelo, na Zona Noroeste, em segundo (4,5%), Boqueirão e Campo Grande em terceiro (ambos com 4,4%) e Aparecida em quarto (4,2%). A letalidade geral em Santos é de 3,2%.


Cortiços


O secretário de Saúde de Santos, Adriano Catapreta, acredita que a diferença entre a disseminação da doença por bairros é pequena e não pode ser levada em consideração para critério epidemiológico.


“Não há predominância da doença em um local ou outro. Claro que nos bairros que têm maior aglomeração a transmissão vai ser maior. No Centro, a gente sabe que tem os cortiços, onde mora muita gente. Chegando o vírus num local desse, é bem delicado”, diz o secretário


A Secretaria de Saúde acha difícil traçar uma estratégia para um determinado bairro, porque o vírus está disseminado em toda a Cidade. “O que podemos fazer é a conscientização das pessoas, é muito importante a ajuda da população. E não só nesses locais. Passei na Ponta da Praia e estava um absurdo (de aglomeração). Decretamos o lockdown, mas a população não aderiu. Nossa taxa de isolamento melhorou pouco, longe do que precisava para ser efetiva”, afirma Catapreta.


Desafio


O médico infectologista Evaldo Stanislau explica que, além das aglomerações, bairros e moradias classificadas como subnormais (como favelas e cortiços), favorecem a transmissão do vírus. “E por se tratar de população já cronicamente com pior acesso aos cuidados de saúde, outras comorbidades contribuem também para um pior desfecho”.


Stanislau ressalta que uma possibilidade nessas áreas é criar, por meio do Programa de Saúde da Família, programas de testagem, rastreio dos contatos e monitoramento. “E uma ação social, como, por exemplo, a transferência para albergues ou hotéis populares, como foi feito no Rio de Janeiro. Seria uma alternativa prática e eficaz”.


O infectologista diz que é desafiador fazer a prevenção nessas áreas de maior adensamento e moradias subnormais, mas não é impossível. “Essas populações precisam de suporte social e econômico. Da atuação contínua dos agentes de saúde. Devem receber máscaras, itens de higiene, educação e, evidentemente, ser prioridade na vacinação”.


O infectologista Roberto Focaccia afirma que aprendeu estratégias de saúde em favelas, cortiços e palafitas quando fez estágio no Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.


“Essa população não responde às campanhas dirigidas ao público em geral, mas seguem lideranças. Então, é preciso utilizar o que eles chamam de multiplicadores de saúde. A educação em saúde deve procurar líderes locais e orientá-los de forma didática para fazer uma corrente de informações preventivas à comunidade onde se inserem”.


Focaccia, porém, acredita que há números conflitantes. “Se a há mais infectados nas áreas mais pobres do Centro e da periferia, como explicar a maior letalidade no Gonzaga? Será que esses infectados (dos bairros carentes) são detectados pelos testes sorológicos rápidos feitos pela Prefeitura? Se for isso, esses testes são de baixíssima acurácia (precisão)”.


Veja os números:


Incidência (casos por 100 habitantes)


Vila Haddad - 24,4


Centro - 20,3


Morro do Marapé - 16,4


Valongo - 15,9


Vila Progresso - 14,2


Santos – 8,9


Letalidade (mortes em relação aos casos positivos por bairro)


Gonzaga - 4,7


Castelo - 4,5


Boqueirão - 4,4


Campo Grande - 4,4


Aparecida - 4,2


Santos – 3,2


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