Após 12 anos, médico descobre que advogada se apropriou de R$ 88 mil de ação movida em Santos

Ela alegou que tentou localizá-lo, mas não o encontrou, e teria usado o dinheiro para comprar prótese para a mãe

Por: ATribuna.com.br  -  16/04/24  -  07:29
Á esquerda, o médico Marcos Caseiro; à direita, comprovante de depósito do dinheiro
Á esquerda, o médico Marcos Caseiro; à direita, comprovante de depósito do dinheiro   Foto: Arquivo pessoal

O médico infectologista, Marcos Montani Caseiro, de 61 anos, teve o dinheiro de uma ação judicial levado pela própria advogada. Ele deveria ter recebido mais de R$ 88 mil em 2013, ao ganhar uma causa movida para conseguir um reenquadramento de cargo, em 2006. No entanto, quem levantou a quantia foi a advogada que representava o médico, Lindinalva Cristina Marques. Ele só descobriu o ocorrido 12 anos depois da decisão.


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Na época, a ação foi movida contra a Prefeitura de Santos, sob a alegação que Caseiro cumpria uma função superior, mas não recebia para tal, por isso ele cobrou as diferenças nos valores recebidos no período trabalhado, e acabou ganhando a ação.


Em sua defesa, Lindinalva, a advogada, alegou que tentou localizar Caseiro, mas como não o encontrou, usou o dinheiro para comprar próteses de perna para a mãe e pagar os honorários de outra advogada que trabalhava junto com ela, Rosa Maria dos Passos.


A informação só veio à tona após 12 anos quando o médico recebeu uma mensagem por meio do WhatsApp no dia 30 de janeiro deste ano. Nela, uma mulher chamada Patrícia se apresentou como suposta secretaria de Rosa, dizendo que o pagamento havia sido liberado. No entanto, a mensagem era de cunho suspeito, pois dizia que para ter o valor, Caseiro deveria repassar um percentual.


Mensagem recebida por Caseiro depois de 12 anos da decisão, fez com que ele descobrisse o golpe
Mensagem recebida por Caseiro depois de 12 anos da decisão, fez com que ele descobrisse o golpe   Foto: Arquivo pessoal

Com a ajuda da atual advogada, Clécia Cabral da Rocha, o processo foi desarquivado e ao verificá-lo, ela descobriu que já havia uma decisão favorável ao cliente, que deveria ter recebido R$ 62 mil. No entanto, a Prefeitura depositou o valor junto com honorários advocatícios, elevando a quantia a R$ 84,9 mil, que, com os rendimentos, chegou a R$ 88,9 mil.


A reportagem de A Tribuna conversou com Caseiro, que disse que chegou a conferir a existência de contas bancárias judiciais em seu nome, mas nada foi localizado. “Eu não iria me esquecer de ter recebido 80 mil reais. Ninguém esquece”, ressalta.


Clécia conseguiu localizar as advogadas e realizou uma reunião com ambas no dia 27 de março deste ano. Na ocasião, Lindinalva teria confessado que ficou com o dinheiro, pois não conseguiu localizar Caseiro. Com a quantia, ela teria pagado os honorários de Rosa Maria e comprado próteses de pernas para a mãe, e que não teria condições de devolver o dinheiro.


No dia 11 de abril, uma nova reunião foi marcada, como forma de tentar um acordo entre as partes. No entanto, Rosa Maria disse que só pagaria judicialmente, enquanto Lindinalva disse que receberia precatórios e pagaria a quantia aos poucos. Porém, a proposta não foi aceita por Caseiro.


“Ela disse que foi atrás de mim na época e disseram que eu havia morrido, veja que barbaridade. Isso é totalmente absurdo. Como pode você entrar com o processo e o advogado pegar o dinheiro para ele sem te consultar? É admissível esse tipo de coisa. Agora eu só quero que ela seja punida conforme a lei, e devolva meu dinheiro”, declara.


Como o acordo não foi firmado, Clécia entrou com uma ação e representação cível sobre o caso. Porém, ainda existe a possibilidade de que uma ação criminal por apropriação indébita seja protocolada. Caso sejam julgadas culpadas, as advogadas correm o risco de ter o registro da Ordem do Advogados do Brasil (OAB) suspenso, assim como ter a perda de primariedade, a possibilidade de um a quatro anos de reclusão.


A reportagem entrou em contato com Lindinalva, e ela confirmou a versão de que teria procurado Caseiro no endereço residencial dele, mas foi informada que o médico havia falecido e que apenas tinha uma irmã que morava em São Paulo, mas não tinha o endereço dela.


"Eu usei para comprar uma prótese de perna para a minha mãe andar e tomar banho, e o restante ficou na conta. Eu ofereci parte do dinheiro e a garantia de precatórios, mas ele não aceitou. A minha manifestação é de tristeza e arrependimento, e estou pedindo forças a Deus para resolver isso", declara.


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