Alunos de Santos preparam presentes para crianças que moram em campos de refugiados

Projeto, chamado de O tear de nossas histórias na construção do mundo, começou em 2018

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  22/12/19  -  10:40
Alunos confeccionaram brinquedos de pano para doação
Alunos confeccionaram brinquedos de pano para doação   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Agulha, linha, criatividade e muito amor rechearam os brinquedos feitos por alunos do 4º ano do Ensino Fundamental da UME Therezinha Pimentel, no Morro São Bento, em Santos. São bolas e bonecos confeccionados pelos estudantes, com idade entre 9 e 10 anos, ao longo do ano para serem destinados a crianças que vivem em campos de refugiados espalhados pelo mundo.


Cada presentinho chegará com uma carta escrita por eles. Nela, uma mensagem de carinho e esperança, como a da pequena Diana Saldanha Valentim de Oliveira, de 10 anos.


“Disse que admiro a coragem deles, porque deixaram tudo para trás para se salvar, e reforcei que estou do lado deles. É bom aprender que a gente pode ajudar, ao menos um pouco”.


Retalhos


O projeto, chamado de O tear de nossas histórias na construção do mundo, começou em 2018, quando a professora Renatta de Burgos Pimentel Fiori Dias Silva decidiu trabalhar com alunos do 3º ano do Ensino Fundamental o tema empatia. A ideia, no entanto, acabou ganhando uma dimensão inimaginável na época.


“Em um planeta que carece tanto de sentimentos básicos de respeito e valorização do outro, o projeto surgiu dessa necessidade de promover a empatia, começando dentro do espaço escolar pra fora. Para eles se enxergarem como cidadãos do mundo”, conta Renatta.


No final do ano passado, os alunos levaram 400 mimos para o Instituto Base Gênesis, em São Paulo, que abriga refugiados de vários países, inclusive da Síria - nação localizada no Oriente Médio que sofre por conta de conflitos internos.


Foi um dia inesquecível para Thiago Passos Fernandes, de 10 anos, que também participou da continuação do projeto em 2019. “Foi emocionante. Porque a gente sentia que estavam tristes. Aí fomos dar um abraço e carinho. Eles ficaram felizes e eu também. Brincamos. Foi como se eles virassem a gente e a gente virasse eles. Todo mundo igual”.


Wellynton Lima Pereira, de 10 anos, também esteve na Capital em 2018 e guarda na memória os momentos em que pôde dividir o giz com os novos amigos. “A gente não conseguia conversar muito, porque eles não falavam português muito bem. Ensinei a desenhar um boto com o giz e foi bem divertido”.


No começo do mês, os estudantes prepararam 500 brinquedos para serem doados
No começo do mês, os estudantes prepararam 500 brinquedos para serem doados   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Foco


No começo do mês, os estudantes prepararam 500 brinquedos, que serão doados a crianças que estão em campos de refugiados. As horas dedicadas à oficina de costura e decoração dos brinquedos se transformaram em um enorme aprendizado para o hoje e o futuro e não somente sobre empatia, mas sobre paz, cidadania, solidariedade e amor ao próximo.
Foi o que resumiu a pequena Raquel de Almeida Vila Nova, 9 anos, em suas palavras simples, porém de uma sabedoria de gente grande. “Vimos vídeos, ouvimos histórias de pessoas que sofreram e morreram na guerra. Deixaram suas casas e fugiram do seu país. É triste. Aí pensei: todos querem que mundo melhore, Mas você faz algo para isso? Vi que a gente podia ajudar a fazer a diferença”.


Sobre o projeto


O projeto O tear de nossas histórias na construção do mundoparticipou do Prêmio Educador Santista, promovido pela Secretaria de Educação de Santos, e acaba de ficar em primeiro lugar na categoria Educador. “Foi uma emoção sem igual. A ficha está caindo. O prêmio não é meu, é deles, é da comunidade, é da escola”, diz a professora Renatta de Burgos Pimental Fiori.


A proposta surgiu em 2018, quando ela decidiu trabalhar o tema empatia em sala de aula. “A ideia surgiu quando reportagens mostraram problemáticas mundiais, como a questão dos refugiados, e eu as trouxe para a sala de aula. Percebi ali que eles não se enxergavam como seres integrantes da sociedade”.


O conhecimento começou a ser construído em rodas de conversa, vídeos, desenhos e até em casa. Eles levaram para casa a chamada sacola do tear e tinham atividades para desenvolver com os familiares.


Havia ainda a arrecadação de retalho que retratasse uma memória afetiva para eles e a construção da árvore genealógica da família. “Queria mostrar que todos um dia viemos para cá. Também trabalhei com conceitos de migração e emigração”.


E os primeiros brinquedos, entregues ano passado no Instituto Base Gênesis, em São Paulo, surgiram desses retalhos. “Porque eles perguntaram: tia, eles brincam? Então, tudo isso foi ampliando a capacidade de perceberem o mundo”.


Em 2019, a proposta foi mantida e fizeram 500 mimos. “Esse ano doamos para a ONU para chegar diretamente aos refugiados”.


Projeto conquistou o prêmio Educador Santista neste ano
Projeto conquistou o prêmio Educador Santista neste ano   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Logo A Tribuna
Newsletter