Na contagem regressiva para a desocupação do imóvel, estudantes, arquitetos e historiadores organizam um ato de resistência no Mercado de Peixes de Santos, na Ponta da Praia. Um abraço simbólico, organizado pelas redes sociais, está marcado para a partir das 9h deste sábado (15), no tradicional ponto de venda na Praça Almirante Gago Coutinho. O plano da prefeitura é fazer a transferência dos atuais permissionários para novo espaço em até 60 dias.
Considerado um importante exemplar da arquitetura modernista, o Mercado de Peixes corre o risco de ser demolido para a continuidade das obras do projeto Nova Ponta da Praia. “Por ser uma referência arquitetônica, paisagística, cultural e histórica para Santos, a preservação do edifício como um espaço multiuso deve ser considerada”, resumem os organizadores, em breve manifesto.
A venda de pescado será transferida para novo imóvel, próximo das instalações atuais, cujas obras estão em fase de conclusão. Prefeitura e Grupo Mendes – responsável pela construção do equipamento – estimam finalizar as intervenções no local em março. A transferência dos permissionários deve ser finalizada antes da Semana Santa (5 a 11 de abril).
A etapa é complementar à instalação do Centro de Atividades Turísticas (CAT) de Santos, que tem previsão de entrega para julho. O projeto do complexo inclui parte da Praça Almirante Gago Coutinho. As duas obras são as mais robustas da repaginação da Ponta da Praia. “[Trata-se] de um imóvel público e em bom estado de conservação, que tem demolição planejada pela prefeitura”, continua o manifesto.
O atual imóvel do Mercado de Peixes é de autoria do arquiteto Antônio Carlos Quintas. O local foi inaugurado em 1982, considerado naquele momento uma das obras mais importantes da gestão do então prefeito Paulo Gomes Barbosa – pai de Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).
Quintas faleceu na véspera da inauguração do espaço. Radicada em Londres, a filha do arquiteto, Daniela Quintas, tem se mobilizado em defesa da preservação do imóvel. Em outubro do ano passado, o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa), por 7 votos a 3, indeferiu um pedido de tombamento do edifício.
No planejamento original, o espaço do atual Mercado de Peixes dará lugar a um espelho d’água, localizado à frente do futuro Centro de Convenções. Os organizadores dizem que o manifesto desse fim de semana é mais uma tentativa de sensibilizar o Poder Público pela manutenção do espaço, dando nova destinação ao local.
Em nota, a prefeitura afirma que, após a desativação do atual Mercado de Peixes, realizará uma análise da edificação a fim de avaliar possibilidades de adaptação. “Uma das propostas – exposta em um dos painéis que cercam a obra – é a utilização de parte da estrutura como um abrigo de proteção contra sol e chuva, em composição com os novos elementos da Praça Almirante Gago Coutinho”, diz.
A administração afirma que a reforma da Praça Almirante Gago Coutinho será a conclusão do projeto urbanístico, “que tem como principal objetivo consolidar a orla do bairro como um dos principais pontos turísticos de Santos”.