Santos é a 8ª cidade menos violenta de SP; Cubatão aparece na outra ponta da tabela

Atlas da Violência do Ipea traz município com a menor taxa de homicídios de sua história recente; estudo aponta o que faz a diferença

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  07/08/19  -  23:30
  Foto: Irandy Ribas/AT

Santos registra a menor taxa de homicídios de sua história recente: 7,8 assassinatos por 100 mil habitantes, conforme o Atlas da Violência 2019. O estudo, tendo como base o ano de 2017, colocou o município na 8ª posição entre os menos violentos do estado e 11º no país.  


O envelhecimento da população e o alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são fatores apontados para explicar a redução pela metade da quantidade de assassinatos em relação ao último levantamento, publicado em 2017 (14,3). O indicador santista é quase três vezes inferior ao de Cubatão.


Os números foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Consideram os dados de 310 cidades do país com população maior que 100 mil habitantes – a elaboração de taxas onde a população é muito pequena poderia levar a distorções.  


Dos 20 municípios com menores taxas estimadas de homicídios, 14 se situam em São Paulo. Santos é o único da região a aparecer na listagem. Jaú ocupa a primeira posição, com índice de 2,7 assassinatos por grupo de 100 mil pessoas.  


“Nos últimos dez anos, observamos crescimento da taxa de homicídios entre os estados brasileiros. Em Santos, por outro lado, estamos registrando queda na criminalidade, com real redução do número de homicídios”, avalia o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).


Ele cita investimentos em infraestrutura e na ampliação dos serviços à população como responsáveis pelo resultado.  


Conceito  


Segundo o Ipea, as cidades menos violentas, em geral, apresentam indicadores parecidos com os de países desenvolvidos. Já no outro extremo, municípios com maior quantidade de assassinatos têm os piores números no acesso à educação, desenvolvimento infantil e mercado de trabalho.  


Santos possui o terceiro melhor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) paulista, conforme estudo da Organização das Nações Unidas (ONU). Só perde para São Caetano do Sul e Águas de São Pedro no indicador que leva em conta dados de riqueza, alfabetização, educação, natalidade.


“A questão socioeconômica e de desenvolvimento humano são fundamentais. A proporção entre jovens que não estudam e não trabalham, mais vulneráveis à pobreza, é 300% maior que nos 20 municípios menos violentos em relação aos mais violentos”, resume o economista e coordenador do Atlas, Daniel Cerqueira.  


Outro fator apontado no estudo que contribui para a redução de assassinatos é a pirâmide etária. Cerqueira explica que localidades com menor concentração de jovens tendem a ser menos violentas. Projeções da Fundação Seade indicam que um em cinco santistas tem 60 anos ou mais.


“A literatura internacional indica que a cada 1% de crescimento entre a população jovem [15 a 29 anos], há o incremento de 2% na violência”.


Ele destaca que “uma boa política de redução da violência letal” deve ter articulação política com foco no jovem.


Cubatão vem na outra ponta da tabela 


Cubatão lidera o ranking das cidades mais violentas da Baixada Santista. O município registrou 21,5 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes. São Vicente (20,3), Praia Grande (19,4) e Guarujá (18,4) aparecem na sequência. 


Segundo a publicação, Cubatão teve um aumento de 14% em relação ao estudo anterior. Já São Vicente oscilou para baixo 10 pontos percentuais.  


Cerqueira pondera que a escalada do crime organizado e ausência do Poder Público em núcleos periféricos explicam a expansão dos números. “São condições que tornam os jovens mais suscetíveis ao recrutamento do tráfico de drogas”, diz, ao citar que o delito é o que mais provoca prisão de pessoas com idade entre 18 e 29 anos. 


Ele afirma que, se os jovens brasileiros formassem uma nação, as taxas de homicídio se assemelhariam aos países mais violentos no mundo. Mais da metade dos 65,6 mil assassinatos no Brasil foram de pessoas entre 15 a 29 anos.


Considerando-se a faixa etária mais jovem, a taxa brasileira de homicídios por 100 mil habitantes sobe para 69,9. É equivalente à do Haiti (70), país mais pobre das Américas. 


120 cidades concentram metade dos homicídios 


Apenas 120 municípios brasileiros (2,1% das 5.570 cidades) concentram a metade dos homicídios ocorridos no país em 2017, aponta o Atlas da Violência. Essas localidades registraram 32.801 dos 65.602 assassinatos, segundo o Ipea.  


O levantamento conclui que o Brasil é recordista mundial em violência letal. Oito municípios paulistas fazem parte desta lista – cinco na Grande São Paulo e três no Interior –, sendo nenhum da Baixada.  


Ao menos um em cada dois assassinatos nas cidades mais violentas ficou concentrado em 10% dos bairros daquelas localidades. Geralmente, núcleos periféricos dominados pelo crime organizado, indica o economista e coordenador do Atlas, Daniel Cerqueira. 


O município mais violento do Brasil em 2017 foi Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, no Ceará, com taxa de 145,7. 


Já a capital Fortaleza liderou em número absolutos de assassinatos: 2.145 (ou 87,9 por grupo de 100 mil). Altamira (PA) aparece na sequência, com taxa de 133,7 mortes a cada 100 mil habitantes. Foi lá que 62 detentos morreram na semana passada, durante e após uma rebelião em presídio local.  


Cerqueira sustenta que as regiões Norte e Nordeste apresentam os maiores índices de jovens entre 15 de 24 anos assassinatos. Das 20 cidades acima de 100 mil habitantes mais violentas do Brasil, 18 são dessas localidades. “O Brasil concentra 14% dos homicídios do mundo”.  


O que o poder Público responde 


Cubatão 


A Prefeitura diz utilizar como parâmetro os números divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP). Sem informar data, o secretário municipal da Segurança Pública e Cidadania, Jefferson Cansou, promete ampliação do videomonitoramento, com até 2 mil equipamentos.  


São Vicente 


Em nota, a prefeitura afirma acompanhar os indicadores de violência para adotar medidas visando à redução das ocorrências. Elabora um projeto para a implantação do sistema de monitoramento por câmera, a partir de 2020. Fala, ainda, em realização de concurso público para o aumento do efetivo da guarda civil municipal. 


Praia Grande 


A administração municipal pondera que o Atlas da Violência não leva em conta a população flutuante, que na cidade ultrapassa a marca de um milhão de pessoas. Aponta investimentos para diminuir os índices de violência, como ampliação de cobertura de câmeras de monitoramento e efetivo da guarda municipal.  


Guarujá 


Destaca que só Santos apresentou índices melhores que os da cidade. Afirma que dados do estudo “divergem, em muito, dos números” da SSP-SP, no qual o município teve uma taxa de 3,65 homicídios dolosos por 100 mil, em 2017.  


Governo do Estado 


Também por nota, a SSP-SP afirma desconhecer “a metodologia empregada na pesquisa”. Cita que os números mensais da pasta mostram a contínua redução de homicídios nos últimos anos. Reforça que os dados estaduais permitem o planejamento das políticas de segurança pública. 


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