Rede pública de saúde tem queda no atendimento na Baixada Santista

Redução de 11,4% foi registrada em 7 meses

Por: Da Redação  -  02/09/19  -  16:05
Três policlínicas de Santos não terão atendimento devido ao feriado de 12 de outubro
Três policlínicas de Santos não terão atendimento devido ao feriado de 12 de outubro   Foto: Alberto Marques/Arquivo/AT

O número de atendimentos na rede pública de saúde da Baixada Santista caiu 11,4% nos sete primeiros meses de 2019, na comparação com o mesmo período do ano passado.


Considerando os dados informados pela maioria das prefeituras (Santos, São Vicente, Guarujá, Praia Grande, Mongaguá e Peruíbe), entre janeiro e julho de 2018, foram 6,8 milhões de consultas, exames e procedimentos. No mesmo período deste ano, o total ficou em 6 milhões.


A cidade que mais registrou queda foi Praia Grande, passando de 1.019.274 para 685.456 (-32,7%). São Vicente vem em seguida, com baixa de 13,4%, de 643.805 para 557.207. Guarujá tem a terceira maior diminuição: 11,4%, caindo de 837.411 para 741.851.


Os números levam em conta todos os serviços, desde unidades básicas até prontos-socorros. Cubatão, Bertioga e Itanhaém não enviaram as informações solicitadas pela Reportagem.


A diminuição nos atendimentos vai em sentido contrário ao que aconteceu de 2017 para 2018, quando houve alta de 10,1% na procura pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A quantidade de serviços gratuitos naquele período subiu de 6,1 milhões para 6,8 milhões, também considerando as mesmas seis prefeituras e os mesmos sete meses.


Justificativas


O secretário de Saúde de Praia Grande, Cleber Suckow, diz que em 2018 os números foram elevados porque o município “zerou filas de espera em mutirões de consultas, exames e cirurgias, inclusive o que era de responsabilidade do Estado, com recursos próprios. Prova é que houve 2 mil cirurgias de catarata”.


Segundo ele, Praia Grande investe em saúde preventiva. “O objetivo é diminuir cada vez mais a necessidade de a população se consultar com médicos, especialistas e em prontos-socorros, aumentando a qualidade de vida”.


São Vicente diz que registrou evasão de médicos no município e atribui isso às mudanças do Programa Mais Médicos, do Governo Federal. Além disso, desde agosto de 2018, tem números elevados de solicitações de aposentadorias na Saúde, o que acredita ser por causa da proposta de reforma da Previdência.


“A Prefeitura tenta promover a adequação do quantitativo das equipes médicas e de apoio técnico e administrativo. Para isso, está em andamento a realização de concurso público previsto ainda para 2019”.


Já o secretário adjunto de Gestão em Saúde de Guarujá, Marcelo de Almeida César, afirma que a Administração Municipal faz um trabalho para que os pacientes procurem a rede quando realmente precisam.


Ele destaca ainda o serviço de busca ativa e de estratégia da família. “São ações que têm evitado o agravamento de dados crônicos. Por isso, temos esse impacto, da diminuição dos atendimentos de 2018 para cá”.


Investimento


Apesar da queda, a Prefeitura de Santos afirma que houve aumento de 14,3%, nos últimos três anos, nos atendimentos nas policlínicas municipais. “Estamos investindo na atenção básica, com a abertura de unidades aos sábados para ampliarmos o trabalho de prevenção”, explica o secretário de Saúde, Fábio Ferraz.


A Prefeitura de Mongaguá diz que mais de 90% da população da Cidade usam o sistema público de saúde, ou seja, não têm plano. E Peruíbe afirma que já aumentou a oferta de especialidades e exames na rede.


Corte de investimento traz consequências


Pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Isabela Soares Santos explica que um panorama sobre a diminuição do atendimento depende de vários fatores, como a análise dos orçamentos municipais para o setor, diminuição de profissionais ou horários de atendimento nas unidades. 


Porém, ela diz que quando há corte em recursos públicos, como acontece no Brasil, é esperada a diminuição do uso, mesmo que seja um momento em que as pessoas mais precisam. 


“Temos estudos na Europa onde se verificaram mudanças nesses indicadores a partir do momento em que houve uma austeridade fiscal. No Brasil, desde 2015, os recursos (federais) estão sendo cortados, (com essa diminuição no atendimento) teremos resultados como aumento da mortalidade infantil, doenças que começam a voltar...” 


Detalhamento


O infectologista santista Marcos Caseiro, que possui ampla experiência em saúde pública, acredita que é preciso estratificar os dados para saber qual foi a área que puxou os números para baixo. 


“A dificuldade de marcar atendimento ambulatorial é imensa. Eu mesmo encaminho meus pacientes para neurologistas e a expectativa de atendimento é de seis meses a um ano”. 


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