Pandemia força bares de Santos a fecharem as portas

Crise marca mais uma fase de instabilidade do rock de Santos

Por: Lucas Krempel  -  05/09/20  -  22:18
Boteco Valongo foi o 1º a fechar: “Trabalhar com rock no Brasil não é algo comercialmente viável
Boteco Valongo foi o 1º a fechar: “Trabalhar com rock no Brasil não é algo comercialmente viável"   Foto: Alexsander Ferraz/AT

O rock em Santos vive de safras ou ondas. Tem sido assim dos anos 1960 para cá. A instabilidade se transformou numa característica do cenário musical. O atual momento, fortemente impactado pelos efeitos da pandemia da covid-19, certamente é um dos mais dramáticos.


Após respirar a pujança de novos artistas, das mais variadas vertentes do gênero, o rock santista sofreu alguns golpes bem duros nos últimos meses. Boteco Valongo, WMusic, O Quinto e Lobo Estúdio fecharam as portas. O que eles têm em comum? Todos eram palcos para novas bandas independentes.


O Boteco Valongo foi o primeiro a encerrar as atividades. Fez o anúncio antes mesmo de pandemia, no dia 30 de dezembro de 2019. “Trabalhar com rock no Brasil não é algo comercialmente viável, mas é uma escolha de vida. Por isso se reinventar é preciso. O de sempre fica velho, se acomoda, e acreditamos que o rock é o inverso disso”, dizia nota de despedida do bar nas redes sociais.


O WMusic, no Gonzaga, deixou bem claro que a pandemia foi o golpe fatal. “Devido a todos estes meses de pandemia nos quais permanecemos impossibilitados de trabalhar, informamos, com muita tristeza, que encerramos nossas atividades”, declarou nas redes sociais, em 22 de julho.


Local referência na cidade, o Lobo Estúdio promoveu uma série de pequenos shows nos últimos anos, dando espaço para artistas autorais e apresentando nomes emergentes de outras cidades. Também citou, em nota, a pandemia para o golpe no negócio, há 18 anos em atividade: “Desde o começo da atual situação de pandemia, ficamos impossibilitados de arcar com todas as despesas que mantêm o espaço. Os proprietários do imóvel foram gentis ao segurar as cobranças na esperança da retomada das atividades, o que não aconteceu em tempo hábil e ainda sem horizonte. Fato este que gerou uma dívida e foi um dos motivos que nos levou a encerrar as atividades”.


Retomada


Respirando, o cenário ainda conta com algumas opções mais restritas: Bujas, Studio Rock, Mr Dantas e Arena Club. As três primeiras têm o foco maior em covers, deixando bandas autorais em segundo plano. Já o Arena Club fatia sua programação com os mais diversos gêneros, apesar de atenção ao rock, principalmente com nomes de alcance nacional.


“Vamos fazer testes a partir deste fim de semana, para ver se é possível manter o bar aberto, por enquanto, com as restrições. E também se o público terá interesse nesse momento”, afirma Oliver Kvitz, sócio do Studio Rock, no Gonzaga.


Por parte do poder público, o rock segue em compasso de espera. O Teatro Rosinha Mastrângelo, no Centro Cultural Patricia Galvão, segue como promessa. Sem previsão de reabertura, o equipamento tem forte relação com a cultura independente de Santos.


Rock na região central


Vale ressaltar que nos últimos anos, o rock autoral na região deixou de ter seus espaços cativos na região da Orla, muito em função da reclamação da vizinhança (ou de um seleto grupo) e preços extremamente caros para aluguel. Ficou cada vez mais concentrado em outras regiões, como Vila Mathias, Vila Nova e Valongo.


O rock santista está mais perto do que nunca das suas origens. Foi no Paquetá, entre as ruas João Otávio, Travessa Dona Adelina, Águiar de Andrade e General Câmara, bem próximo da atual Perimetral, que o som teve início. No auge da Boca, as bandas tocavam Stones, Who e Led Zeppelin com inglês macarrônico e muita disposição para um público formado por prostitutas e marinheiros.


Daniel Giancotti Baltazar, ex-proprietário do bar O Quinto, que fechou no início da pandemia, vê com bons olhos. “Localização perfeita para mim seria a revitalização total do centro da cidade. Mas teria que ser um projeto sério. Da outra vez os comerciantes foram para o Centro e ficaram abandonados depois”.


Será que esse é o caminho? Voltar às origens para retomar o crescimento e renovar a força de um gênero que já nos brindou com nomes de alcance nacional e internacional, como Charlie Brown Jr, Blow Up, Garage Fuzz, Vulcano, Harry, The Bombers, Zimbra, White Frogs, entre tantos outros? Área para revitalizar no bairro não falta.


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