Os desafios do primeiro emprego

Três em cada dez paulistas de 18 a 24 anos não conseguem colocação profissional; inexperiência e concorrência alta pesam na balança

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  15/09/19  -  22:01
Fila com 3,5 mil pessoas, muitos deles jovens, em busca de 50 vagas em SV, evidenciou o drama
Fila com 3,5 mil pessoas, muitos deles jovens, em busca de 50 vagas em SV, evidenciou o drama   Foto: Carlos Nogueira/ AT

A poucos meses da formatura no Ensino Médio, o estudante Emanoel Ladislau Silva, de 18 anos, teme engrossar as estatísticas de desemprego. O jovem faz parte do grupo de três em cada dez paulistas de 18 a 24 anos que buscam colocação no mercado de trabalho – o índice de 30% é quase três vezes superior à média nacional, de 11,8%, verificada em agosto pelo IBGE.


Baixa experiência e excesso de mão de obra dificultam a vida dos mais novos na batalha pelo ingresso no mundo profissional. “Está difícil entrar no mercado de trabalho porque não tenho experiência. Temo não conseguir uma ocupação após o término das aulas”.


A falta de chances a jovens como Emanoel faz com que eles enfrentem uma maratona para furar o bloqueio do primeiro registro. Um exemplo foi a fila que reuniu 3,5 mil pessoas em busca de 50 vagas em uma rede de fast food, no começo do mês, em São Vicente.


Para especialistas em economia e mercado, esse problema é potencializado pela pouca oferta de cursos de formação profissional, que cria uma bomba relógio social prestes a explodir.


“Esses jovens crescem e chegam a uma situação de mercado em que não há emprego e qualificação. É urgente desarmar essa bomba”, analisa o professor do curso de Recursos Humanos da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), Márcio Colmenero.


Emanoel tem medo do futuro
Emanoel tem medo do futuro   Foto: Carlos Nogueira/ AT

Alerta


De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 4,2 milhões de brasileiros de 18 a 24 anos estão fora do mercado – o que representa um terço dessa população. “Está difícil. O que pesa é a pouca vivência”, diz a estudante Yasmin Gaspar, de 18 anos.


Com essa retração, recém-formados em graduações têm desistido de procurar vagas relacionadas à formação. Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) cita que o número de pessoas com Ensino Superior em ocupações atípicas para essa escolaridade mais do que dobrou no País.


O chefe de atendimento do Centro Público de Emprego de Santos, Antônio Vaz, confirma esse movimento. Com a escassez de vagas, os recrutadores optam pelos experientes. “Alguns jovens com Ensino Superior aceitam vagas sem exigência de tanta qualificação, como no comércio”.


Yasmin diz que cenário é difícil
Yasmin diz que cenário é difícil   Foto: Carlos Nogueira/ AT

Saída


Segundo o economista e professor universitário Jorge Manuel de Souza, a falta de oportunidades aos jovens é aguda na Baixada e força um movimento de saída da região em busca de chances.


Para Colmenero, outro fator que pesa neste cenário é o baixo investimento empresarial para a formação profissional. “Muitas empresas ainda têm a filosofia de que é caro capacitar a mão de obra”.


Jovens abocanham 14% do mercado


A participação de jovens no mercado de trabalho regional segue a média verificada no País. Um de cada sete funcionários registrados nas nove cidades da Baixada Santista tem entre 17 e 24 anos. Isso equivale a 52.188 trabalhadores (14%) dessa faixa etária, no universo de 372 mil postos formais.


No País, o percentual é de 14,1%, enquanto na média do Estado representa 14,5% da força de trabalho. Conforme o IBGE, os jovens de 17 a 24 anos compõem 13,15% da população nacional.


Os dados foram obtidos a partir de cruzamentos de informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia, e tabulados pelo consultor em finanças públicas Rodolfo Amaral, a pedido de A Tribuna.


As cidades do Litoral Sul (Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe), com 15%, e Bertioga, com 19%, apresentam a maior participação de jovens no mercado. “Isso se deve ao perfil das empresas, de pequeno e médio portes, cuja tendência é contratar mais jovens, pagando salários mais baixos”, avalia Amaral.


Na outra ponta, Cubatão registra a menor taxa regional: 10,37%. Amaral afirma que a explicação é o perfil industrial, que exige maior qualificação. Ainda conforme o Rais, 52% dos trabalhadores da região têm apenas Ensino Médio. “São pessoas que, com um empurrão, entrariam na faculdade e melhorariam a renda”.


Soluções


Para o economista e professor universitário Jorge Manuel de Souza, a solução para manter parte dos jovens na Baixada seria atrair empresas de tecnologia que demandam mão de obra qualificada. “Até financeiras de porte, que hoje ficam no Rio e em São Paulo”.


O professor Márcio Colmenero defende a intervenção do Poder Público, oferecendo cursos de capacitação. Cita ainda como alternativa o abatimento em tributos municipais para atrair atividades que deem preferência ao primeiro emprego.


Já Amaral defende a redução em 50% da contribuição previdenciária dos jovens. “Isso faria com que as empresas contratassem mais pessoas dessa faixa etária, para reduzir o custo da folha de pagamento”.


Capacitação profissional ajuda a virar o jogo


Um atalho para furar o bloqueio do primeiro emprego é o Centro de Aprendizagem e Mobilização Profissional e Social (Camps), que desenvolve competências e habilidades dos jovens para o mercado. 


Os selecionados passam por capacitação de três meses, com aprendizado sobre empreendedorismo, comércio e varejo, logística e rotinas administrativas. Depois, são encaminhados a entrevistas nas empresas. 


O presidente do Camps Santos, Elias Júnior, explica que a instituição oferece preparo “para os adolescentes irem em busca do sonhado primeiro emprego”. Tudo de forma gratuita. 


Por ano, são mais de 1,7 mil jovens atendidos. Boa parte é efetivada na empresa após os 15 meses de contrato. “Nosso objetivo é transformar o Camps em um grande centro de treinamento, qualificando esse pessoal para a revolução digital”.


Prefeituras lutam para minimizar os danos


Preocupadas, as prefeituras da região afirmam desenvolver projetos de qualificação profissional. A aposta mais robusta é de Santos, que tenta despontar no setor de tecnologia por meio do Parque Tecnológico, cuja sede deve ser finalizada no 1º semestre de 2020 e reunirá empresas, profissionais e universidades.


A chefe do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura, Claudia Sodero, diz que o futuro complexo deve manter na região a mão de obra qualificada que busca oportunidades na Capital.


Já São Vicente cita que, além da parceria com uma rede de fast food para priorizar a contratação de jovens, realiza encontros setoriais, como a Feira Virtual de Oportunidades, prevista para este mês. A estimativa é captar cerca de 500 vagas de emprego nesta edição.


Cubatão oferece incentivo fiscal às empresas que contratarem 1% de funcionários pelo programa Menor Aprendiz. Guarujá destaca novos convênios com o Estado para a realização de cursos profissionalizantes. 


Itanhaém detalha destaca ter iniciado a construção de espaço exclusivo a empresas e startups, que servirá para ampliar a geração de empregos. As demais cidades citam parcerias com o Estado para o programa Time do Emprego.


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