Surfista sem braços do litoral de SP ganha prancha adaptada e comemora: 'Não vejo a hora de estrear'

Jovem já praticou diversos esportes e usa movimentos do jiu-jitsu para surfar; projeto da nova prancha está em processo de desenvolvimento

Por: Ágata Luz  -  01/04/21  -  10:53
Richard é treinado pelo professor Cae no projeto Surf Cibra, em Itanhaém
Richard é treinado pelo professor Cae no projeto Surf Cibra, em Itanhaém   Foto: Fotos: Arquivo Pessoal

As dificuldades de viver sem os dois braços se transformaram em inspiração para o morador de Itanhaém Richard Petterson Dias Barbosa, de 18 anos. Apesar dos desafios que precisou enfrentar desde que nasceu, o jovem não se deixou abalar e sempre foi apaixonado por esportes. Formado em jiu-jitsu, já praticou capoeira, judô e sua mais recente paixão é o surf.


Ao praticar o esporte aquático, portanto, Richard chamou atenção de amigos que pediram ajuda em patrocínios para o jovem participar de campeonatos. Por meio de um vídeo, ele ganhou mais repercussão do que esperava. Desta forma, uma vaquinha virtual reuniu dinheiro que resultou em um projeto de prancha adaptada para o surfista.


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“É gratificante ver o pessoal me apoiando nessa trajetória de surf. Só tenho que agradecer a todos. Fiquei empolgado, não vejo a hora da pandemia passar e estrear essa prancha”, destaca Richard.


Após a vaquinha, o shaper há 30 anos e professor de surf, Antônio Pierre Pugliese Musacchio, realizou o orçamento, se comoveu com a história e ficou responsável pela criação e desenvolvimento do projeto. “Estou me dedicando bastante a essa criação, pois é um desafio já que o surf exige muito da remada com os braços e do equilíbrio”, explica Pierre.


“Busquei na internet e não achei nada de uma pessoa que surfe sem os dois braços. Então Richard é um tesouro”, ressalta o shaper e professor. De acordo com Pierre, ele teve que analisar cada movimento para desenvoler o objeto.


“Eu queria ver como ele subia na prancha, então o convidei para vir na loja. Fiz umas pequenas filmagens e fui analisando os movimentos e entendendo o que eu como shaper, poderia ajudar o Richard dentro da água”, explica.


A primeira conclusão do professor foi a necessidade de uma prancha que tivesse um tamanho e largura para ser estável: “Então desenvolvi, mandei para ele e agora estou acabando de construí-la para que Richard possa pegar onda”. A prancha tem 7.0 x 29 de meio x 4,1/2 de flutuação com 95,8 litros.


“Procurei fazer curvas nessa prancha que facilitem a vida do Richard, também busquei dar estabilidade no equilíbrio dele e ainda estou desenvolvendo algumas alças para que ele tenha autonomia para arrastar a prancha para o fundo do mar e para sair da praia com ela”, conclui.


Projeto está em desenvolvimento pelo shaper Antônio Pierre.
Projeto está em desenvolvimento pelo shaper Antônio Pierre.   Foto: Arquivo Pessoal

Pierre ainda enfatiza que o surf do Richard é uma coisa única: “Ele está fazendo o impossível acontecer”.


“Será uma nave para mim, terei que treinar muito”, diz Richard.


Início no surf


“Sempre gostei de esporte. Já tinha surfado, mas nos primeiros dias, a prancha ganhava de mim. De repente eu fui vendo que eu queria voltar a surfar. Aí comecei a pegar firme e treinar bastante para tentar evoluir”, relata o jovem. Ele explica que se deu bem primeiro com o stand-up, mas que aos poucos foi aprendendo a surfar com outras pranchas.


Richard treina no projeto ‘Surf Cibra’, iniciativa apoiada pela Associação Atuantes, no Cibratel, em Itanhaém. Com o professor Carlos Eduardo Ribeiro, conhecido como Cae, o jovem surfista foi desenvolvendo a prática no surf. “Para mim foi um desafio. A primeira experiência dele foi com stand-up e ele se deu bem nas primeiras aulas, conseguiu ficar em pé usando o movimento ‘subida’, que é o mesmo que ele usa no jiu-jitsu”, comenta Cae.


De acordo com o professor, Richard chegou a participar de um campeonato, porém, ainda não existe a modalidade de surf adaptado: "Ele ganhou uma medalha de participação especial, mas estamos correndo atrás para a criação dessas competições".



Ainda segundo Cae, o jovem se adaptou ao esporte muito rápido. "Ele começou a evoluir bastante, estava ficando muito fácil para ele e nossa tendência é dificultar para o aluno evoluir", diz. Ele também explicou que o tratamento com Richard é da mesma forma que com os demais alunos: com muitos desafios.


“As atividades dele são feitas com os pés, colocar a cordinha na prancha, passar parafina na prancha, ele faz tudo sozinho. Nosso objetivo agora é que ele consiga levar a prancha para a água também”, conclui Cae.


Aos poucos, Richard foi ganhando intimidade com o surf.
Aos poucos, Richard foi ganhando intimidade com o surf.   Foto: Arquivo Pessoal

História do Richard


A mãe do jovem, a cuidadora de idosos Érica Dias, de 43 anos, explica que Richard nasceu com Amelia Bilateral Superior, ou seja, ausência dos membros superiores. “Na infância ele teve dificuldades para andar e se equilibrar. Foram muitas quedas até conseguir ficar em pé e dar os primeiros passos”, diz.


Érica se assume mãe ‘coruja’: “Sou muito orgulhosa do talento dele no esporte, pois fora do jiu-jitsu e do surf, ele já praticou capoeira, futebol e sempre se supera”.


Segundo ela, Richard se esforça e corre atrás dos sonhos. “Nunca disse que não poderia fazer, sempre se destacando e se superando. Como mãe, sou muito orgulhosa por ter um filho guerreiro. Como pessoa, me tornei melhor com o nascimento do Richard, ele veio para me ensinar a enxergar o mundo com outros olhos”, finaliza.


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