Morador de Guarujá recorda mais de um século de vida e memórias
Alaerte Lima deixou Campina Grande ainda ‘jovem’, há 54 anos, para se fixar em Vicente de Carvalho. Hoje, aos 106 ele relembra tudo o que passou
Quando Alaerte nasceu, a Primeira Guerra Mundial não tinha começado, o presidente do Brasil era Hermes da Fonseca e a República tinha apenas 24 anos. Era 1913. Hoje, 106 anos depois, o pedreiro aposentado vive em um mundo cercado de tecnologia a um clique e uma realidade com que jamais ousou sonhar.
De Campina Grande, na Paraíba, Alaerte Araújo Lima deixou há 54 anos sua terra natal em busca de melhores condições de vida para sua família. Veio para Vicente de Carvalho, em Guarujá, com 15 filhos e a esposa. Viúvo há 19 anos e com seis filhos vivos, ainda cobra visitas dos 28 netos, 35 bisnetos e 6 tataranetos.
De tudo o que viveu, a saudade é do casamento que durou 60 anos. Até hoje, todas as noites, Alaerte dorme com o cachecol que ela deixou.
Na memória e no coração, carrega consigo muita história para contar, mas faz o tipo quieto e observador. Nos últimos anos, abandonou a cachaça que tomava todos os dias, mas a pimenta ainda é ingrediente obrigatório nas refeições, assim como o tradicional feijão com farinha.
Esbanja saúde
Se engana quem pensa que Alaerte tem restrições ou toma qualquer remédio. Consulta um médico, depois de anos sem preocupações com rotina ou exames, uma vez por mês. Tudo por cuidado dos filhos.
“Ele ouve mal e enxerga pouco, mas a médica disse que é por conta da idade. Mesmo assim, ele faz tudo sozinho. São os filhos que ficam de olho e têm cuidado com ele”, diz a filha caçula, Calina Ligia de Araújo Lima Vicente, de 53 anos.
Prova disso foi o que Alaerte disse quando os filhos reuniram-se para ajudá-lo a levantar-se durante visita de A Tribuna. “Sai, sai sai, pode sair. Me deixa que eu vou sozinho”, disparou.
No Jardim Boa Esperança, ele é conhecido por todos. Há quem pare para fazer fotos com o morador mais antigo. E ele adora.
Na Paraíba, estão ainda dois irmãos com 102 e 100 anos. O filho Ozimar Alves Lima, de 68 anos, até brinca que nasceu na família certa e que, se Deus quiser, também chegará lá.
Aniversário
Para comemorar os 107 anos, que serão completados em 10 de maio de 2020, os parentes planejam uma festa com tudo o que ele tem direito e muito mais.
Além da grande família e dos amigos, certamente haverá um bolo enorme (como é costume ter nas comemorações de Alaerte), alegria e muitas fotos.
“A gente faz muitos registros com ele. É especial para nós termos nosso pai ao lado. É uma bênção ver que ele está bem, cheio de saúde e lúcido. Não podemos fazer outra coisa que não seja agradecer por tudo até hoje. Vamos rezar para que venham muitos outros anos”, diz Ozimar.
