A confirmação de quatro casos de varíola dos macacos na Baixada Santista acendeu o alerta. São dois infectados em Praia Grande, um em Santos e um em Itanhaém. Além disso, há quatro suspeitas em Santos, uma em São Vicente e outra em Cubatão, que estão sob investigação. Para esclarecer dúvidas sobre a doença provocada pelo vírus Monkeypox, A Tribuna ouviu os infectologistas Elisabeth Dotti e Leonardo Weissmann. Confira.
Como acontece a transmissão da varíola dos macacos?
A transmissão da varíola dos macacos ocorre, em geral, pelo contato entre humanos, seja com sangue contaminado, secreções, lesões de pele e relações sexuais, e com gotículas de pessoas infectadas.
Quais são os sintomas?
O principal sintoma é a presença de lesões semelhantes a bolhas em diversas partes do corpo, que apresentam coceira e ardência. A pessoa infectada pelo Monkeypox também pode ter febre e dor de cabeça.
"Se a pessoa tiver lesões parecidas com uma espinha ou bolhas no rosto, na boca, região genital e região perianal, febre, aumento de gânglios e dor no corpo, deve procurar assistência médica para que seja feito o diagnóstico o mais rapidamente possível. Durante o período de doença, o indivíduo deve permanecer em isolamento", explica Weissmann, que é diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
É possível ser infectado e ficar assintomático?
Para Elisabeth Dotti, a situação é muito difícil, já que as bolhas pelo corpo são bem evidentes. Ainda assim, ela destaca que as lesões só costumam aparecer a partir do terceiro dia em que a pessoa está infectada.
"É difícil a pessoa estar infectada e não mostrar. O que pode acontecer é ela estar na fase inicial, antes de fazer as bolhas. Nessa fase, ela já está transmitindo na tosse e no sangue, mas nem a pessoa sabe ainda, por não aparecer as bolhas. Nesse intervalo, a pessoa pode transmitir sem saber que tem".
A varíola dos macacos é transmitida sexualmente?
A relação sexual é uma das formas de transmissão da varíola dos macacos, mas não a única. Sendo assim, ela não pode ser considerada uma Doença Sexualmente Transmissível (DST), como a aids, a sífilis e a herpes.
Há risco de transmissão para quem utiliza transporte público?
A médica reforça a situação de que uma pessoa infectada pode não saber que está com a varíola dos macacos caso o vírus ainda esteja na fase inicial, sem apresentar bolhas pelo corpo.
"O problema do transporte público é que as vezes a pessoa está no segundo ou terceiro dia e nem sabe que está com a doença. Aí ela pode estar transmitindo, mas sem saber. Ela está tendo sintomas, como febre e dor no corpo, mas a pessoa pode achar que é uma gripe. Nesse momento, você pode contaminar outras pessoas sem saber".
Quem foi vacinado contra a varíola quando era criança está protegido?
Segundo a infectologista, de 80% a 85% das pessoas que se vacinaram contra a varíola humana também estão protegidas contra o Monkeypox. Ainda assim, questões como imunidade e contato com outros infectados são levadas em consideração.
Weissmann destaca que existe vacina específica contra a varíola dos macacos, que é produzida na Dinamarca, mas que ainda não está disponível no Brasil.
"O País está na fila aguardando (pela vacina), juntamente com Estados Unidos e países da União Europeia. Não há tratamento específico para a doença. Utilizam-se medicamentos com o objetivo de aliviar os sintomas".
Quais são os cuidados necessários para se proteger contra a doença?
Os médicos reforçam a necessidade de manter o distanciamento social, evitar tossir e espirrar próximo a outras pessoas, usar máscaras de proteção facial, manter as mãos higienizadas e manter atenção para o surgimento de qualquer sintoma ligado à varíola dos macacos, em especial às bolhas pelo corpo.
Qual é o índice de letalidade da varíola dos macacos?
Os médicos explicam que o Monkeypox é bem menos contagioso que a varíola humana (Smallpox), erradicada no mundo desde 1980. Elisabeth afirma que o índice de letalidade deve circular entre 1% e 3%.
"A varíola dos macacos tem baixa letalidade. Morre pouca gente. Temos duas variantes, da África Central e Ocidental. A nossa é da África Ocidental, que é ainda mais suave que a outra. Não deve passar de 3%. Essa que está circulando no mundo é a mais tranquila. O que pode acontecer é você ter uma doença secundária, uma infecção hospitalar, que pode levar a óbito", comenta.
O diretor da SBI explica que os dois vírus são da mesma família, mas apresentam diferença no contágio e nas características.
"São dois vírus da mesma família, porém, diferentes. O Monkeypox é muito mais brando e menos contagioso do que a varíola humana, que matava até 30% dos infectados", afirma Weissmann.