Pescadores protestam em Guarujá contra regra que impede rede boieira: ‘Tradição caiçara’

Pelas águas, protesto deste sábado (22) começou no Guarujá e terminou em Santos

Por: Egle Cisterna e Thiago D'Almeida  -  22/05/21  -  18:23
   Pescadores do Litoral de SP protestam contra regra que impede rede boieira
Pescadores do Litoral de SP protestam contra regra que impede rede boieira   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Prestes a começar a temporada de pesca de inverno nas águas do Litoral de São Paulo, pescadores artesanais se mobilizaram na manhã deste sábado (22) contra uma regra que os impede de utilizar a técnica da rede boiadeira para o trabalho.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Os trabalhadores querem que os artigos 2º e 3º da Instrução Normativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de 2007, sejam revogados. Eles tratam da proibição do “uso de redes de emalhar, de superfície e de fundo, em profundidade menor que o dobro da altura do pano” e determinam ainda que a “tralha superior da rede de emalhar de superfície, durante a operação de pesca, deverá atuar em uma profundidade mínima de dois metros da superfície, com o cabo da boia (filame ou velame) não podendo ter comprimento inferior a esta medida”.


“Eles querem acabar com um tipo de pesca que é uma tradição caiçara. Pescadores artesanais trabalham diariamente para levar o sustento para suas famílias. Enquanto a pesca industrial pega entre 150 e 200 toneladas por vez, um pescador artesanal, com sorte, pesca entre 30 e 50 quilos por dia”, pondera o pescador profissional artesanal Rogério Rocha, da Colônia Z-1 de Pescadores Floriano Peixoto, de Santos.


Manifestação


   Protesto foi iniciado no Guarujá e terminou em Santos
Protesto foi iniciado no Guarujá e terminou em Santos   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Em barcos, o grupo saiu da Praia de Santa Cruz, em Guarujá, e veio até a Ponte Edgar Perdigão, em Santos. Dali, uma parte por terra e outra pelo mar, os manifestantes seguiram até o Deck do Pescador.


A mobilização aconteceu simultaneamente em outros pontos do litoral de São Paulo, como Ubatuba, Ilhabela e Itanhaém. “Vamos começar agora a safra da sardinha e da sororoca. São Paulo é o único estado que tem uma instrução normativa proibindo. No Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, todos pescam, respeitando a época correta que se inicia agora”, afirma o pescador.


Além de chamar a atenção da população para a situação, os trabalhadores da pesca contam com o apoio legislativo municipal para tentar alterar a norma. “Temos vereadores de Santos, Guarujá e Ilhabela que já vão enviar nossas reivindicações para a Assembleia Legislativa. E, se preciso, vamos até para Brasília para tentar mudar a lei, já que a competência pela pesca é do Estado e da União”, diz Rocha.


O pescador também criticou a maneira como são tomadas as decisões. "Não queremos que essas leis sejam criadas por pessoas que não tenham ligação com a pesca e que sequer perguntaram aos líderes locais sobre as necessidades do pescador. Simplesmente, proíbem, que é muito mais fácil do que pesquisar e ver as reivindicações de cada comunidade. É mais fácil proibir", desabafa.


Além dele, outro pescador que esteve presente no protesto, Leandro Alves da Rosa, que vive exclusivamente da profissão há 10 anos, também fez um desabafo para a reportagem.


“Hoje em dia, os materiais de pesca são caríssimos e muitas famílias estão sofrendo por conta da pandemia do coronavírus. Precisamos trabalhar! Já fizemos algumas reuniões com as os órgãos que fizeram as leis e, até o momento, não obtivemos resposta alguma. Estamos na safra da tainha e da sororoca, mas não podemos pescar e, consequentemente, trazer o sustento de nossas famílias”, explica Rosa.


“A safra da tainha é tradição, e a pesca vem sofrendo há muito tempo por conta de leis abusivas. Pesca é cultura, é tradição e meio de subsistência de toda a comunidade caiçara. Somos os maiores preservadores dos oceanos, afinal, nossas famílias dependem deles para sobreviver. Queremos direito ao trabalho digno, nada além do direito de trabalhar”, finaliza.


   Pescadores criticam tomada de decisões em profissão e clamam por mudanças
Pescadores criticam tomada de decisões em profissão e clamam por mudanças   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Logo A Tribuna
Newsletter