Jovens devem ser ouvidos nas escolas, dizem especialistas

Elas avaliam que traumas e outros problemas precisam emergir antes que situações limite se sobreponham

Por: Fernando Degaspari & Da Redação &  -  14/03/19  -  16:00
Liliane: é preciso saber as angústias deles
Liliane: é preciso saber as angústias deles   Foto: Nirley Sena/ AT

Ouvir o que os jovens têm a dizer e saber qual o sentimento deles é o melhor a ser feito nas escolas, um dia depois do massacre em Suzano, na Grande São Paulo. Essa é a opinião de especialistas ouvidos por A Tribuna.


“Tem que ouvir os alunos. Quais são os medos que eles têm? Como eles souberam? Porque uma das coisas mais perigosas é a gente não escutar os alunos. Como eu não sei lidar com isso, como causa sentimentos complicados também no professor, a gente acaba silenciando a questão. Silenciar o que cada um sente não resolve a situação”, diz a psicóloga Mônica Mumme, referência em Justiça Restaurativa no Brasil.


Na opinião da especialista, isso deve ser feito em rodas de conversa. O professor também deve falar do sentimento dele, afinal, uma coordenadora morreu durante o ataque.


Liliane de Rezende, coordenadora do projeto de Justiça Restaurativa na Rede Pública de Ensino de Santos, vai na mesma linha. A Cidade tem 170 profissionais que passaram por capacitação para trabalhar com essas técnicas.


“Sem entrar muito na polêmica, mas saber qual é a angústia dos nossos jovens. Trazer um vídeo ou um texto e trabalhar a questão da prevenção da violência. As questões do bullying, dos valores e do respeito. Sem fazer um alarde dessa questão e espalhar mais violência”, fala Liliane.


A pedagoga e diretora do Colégio do Carmo, em Santos, Renata Gaia, pondera, entretanto, que nem todas as crianças estão preparadas para tratar do assunto em sala de aula por causa da idade.


“Para o Fundamental 1 (do 1º ao 5º ano), esse papel é muito mais da família do que da escola. Acredito que os pais conversem com os filhos. Eles devem muito mais responder as dúvidas que as crianças têm do que ficar instigando o assunto”, afirma a educadora.


Ainda segundo ela, o tema deve ser debatido apenas se o assunto surgir.


Prevenção


Na opinião das especialistas, colégios públicos e particulares devem trabalhar diariamente na prevenção desse tipo de crime.


 “Quanto mais espaços forem criados nas escolas para poderem ouvir essas crianças e jovens, desde a mais tenra idade, mais eles conseguem esvaziar e a gente entende qual é o conflito. Dessa forma, a gente consegue prevenir o que aconteceu em Suzano”, conclui Liliane de Rezende.


Mônica Mumme afirma que colocar um segurança ou um policial na porta de cada escola é uma possibilidade, mas não impede que as pessoas sintam medo.


“O que se faz para a escola ser um espaço de não violência, diálogo e relações justas? Tem que virar um tema de conversa. Tem a segurança que é de entrar alguém, mas tem a do dia a dia, que a gente não está falando. A gente não está criando recursos internos para construir um ambiente menos violento”, finaliza.


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