Dia Nacional do Café: em meio à pandemia, setor se mantém forte

Adaptação ao digital e aumento no consumo do produto impulsionaram mercado

Por: Lucas Krempel  -  24/05/20  -  13:15
  Foto: Matheus Tagé / AT

No Dia Nacional do Café - comemorado neste domingo (24) -, uma coisa é certa: o setor está suportando a pandemia do novo coronavírus. Enquanto vários setores têm registrado fortes quedas, o café consegue se manter firme. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), mesmo com o fechamento das cafeterias em março, o consumo em casa cresceu 35%.


“Com todas as barreiras que estamos tendo com o coronavírus, o setor do café está indo bem. Se adaptou rapidamente a trabalhar com a internet”, comenta o presidente da Câmara Setorial de Café do Estado de São Paulo, Eduardo Carvalhaes.


Diretor do Escritório Carvalhaes, um dos principais nomes entre corretores de café da região, o empresário ressalta, no entanto, que não é possível prever qual será o saldo até o fim do ano.


“As coisas mudam de um dia para o outro. Essa situação da pandemia é algo novo para todos nós. Todo ano o setor de café cresce um pouco. Este ano deve ficar zerado. Se crescer, vai crescer um pouco, mas se cair, cairá um pouco só”.


Um dos pontos que pode favorecer o setor é o início da safra do café arábica (o principal do Brasil, com representatividade acima de 70% do total da produção local), que acontece entre maio e setembro.


“Está entrando uma safra grande, a qual chamamos de safra alta, pois é o ano em que produz mais. O clima está correndo bem, a colheita está um pouco mais devagar por conta de todos os cuidados necessários em meio à pandemia”.


Outro fator que colabora para a redução do ritmo da colheita é a mão de obra não especializada. Minas Gerais, por exemplo, que representa 51% da produção total de café do Brasil, adotou uma medida para ajudar a economia local.


“Uns três quartos das cidades mineiras trabalham com café. Como muitas pessoas foram dispensadas do comércio, fechado durante esse período, eles estão contratando esse pessoal para trabalhar na colheita. É uma forma de injetar dinheiro na economia local, mas por outro lado você precisa treinar esse pessoal antes, eles trabalhavam em lojas. Porém, até aqui, as coisas estão indo bem”.


O dólar alto também tem contribuído para o setor. Maior produtor e exportador de café do mundo, o Brasil está conseguindo manter a exportação da commodity em dia.


“As vendas brasileiras continuaram altas. Havia muito temor na possibilidade de uma incidência grande do coronavírus no Porto, mas Santos seguiu como responsável por cerca de 82% das exportações do café no Brasil. O Porto segue operando 24 horas por dia, sete dias na semana. As exportações estão acontecendo normalmente. Às vezes temos dificuldade para conseguir um container, mas está rolando bem”.


Em março, foi divulgado que o Porto de Santos exportou mais de 5 milhões de sacas de 60 quilos de café nos dois primeiros meses do ano. Com isso, o cais santista respondeu pelo escoamento de 82,2% da commodity brasileira que segue para o mercado internacional.


Preservação da história
Carvalhaes, que também é fundador e conselheiro do Museu do Café, ressalta a importância de preservar a história do café no Brasil.


“Estamos nos trâmites finais para fazermos a restauração da fachada do Museu do Café. Levou mais de um ano para conseguir todos os carimbos, documentos, mas agora em breve vamos começar a restauração da fachada”, comenta o empresário, lembrando que o espaço segue aberto para visitação no modo online.


Para o presidente da Câmara Setorial de Café do Estado de São Paulo, a importância do café na economia nacional reduziu, apesar de ainda seguir muito forte.

“Nos anos 1960, mais de 50% da receita cambial do Brasil vinha do café. Hoje nós somos o quinto do agronegócio. A economia do País cresceu muito, então a relevância do café dentro da economia diminuiu”.
 


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