Dia Internacional da Síndrome de Down: a oportunidade para ser igual

Fabrício e Rafael são a prova de que basta ter uma chance para se integrar à sociedade

Por: Maurício Martins & Da Redação &  -  21/03/19  -  14:50
  Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Não é apenas superação. Oportunidade e capacitação são fundamentais para quem tem Síndrome de Down (ou Trissomia 21, como alguns médicos preferem chamar essa alteração genética). Fabrício Rodrigues dos Santos, de 30 anos, teve chance de mostrar que não há diferenças entre ele e qualquer outro trabalhador. Há três anos é empacotador em um supermercado no Canal 1, em Santos.


“É ótimo trabalhar, me sinto capaz. Faço pacote, reposição de produtos e monto as entregas. Eu amo fazer tudo isso porque aprendi muito aqui. É bom também porque tenho muitos parceiros (colegas de trabalho). Precisamos trabalhar para viver melhor, melhorou minha cabeça”, conta Fabrício, que mora na Ponta da Praia e cumpre religiosamente o horário de serviço, das 9 às 17h20.


Ele aprendeu a ler e escrever na Apae de São Vicente. Além de ser muito prestativo, tem um senso de humor apurado, está sempre brincando e sorrindo. “Ele é atencioso, carinhoso e faz tudo o que pedimos”, diz a fiscal de caixa Luciane Araújo Santos, que trabalha no local.


A chefe, Cilene Nunes da Silva, afirma que Fabrício aprendeu rápido o trabalho e que nunca houve situação de preconceito por parte de clientes ou funcionários.“É uma experiência maravilhosa, ele tem um relacionamento muito bom com todos. Para nós, é um funcionário como os outros, não o colocamos como diferente. Faz a mesma função dos outros empacotadores e recebe o mesmo salário”.


Assistente de RH


Outra fundamental oportunidade foi dada a Rafael Moura de Oliveira, de 31 anos. Ele trabalha há um ano como assistente de recursos humanos em uma empresa de logística que atua no Porto de Santos. Cumpre uma jornada diária de 4 horas.


Rafael Moura de Oliveira trabalha como assistente de recursos humanos em uma empresa no Porto de Santos:
Rafael Moura de Oliveira trabalha como assistente de recursos humanos em uma empresa no Porto de Santos: "Trabalho sorrindo, sem tristeza. Pode tirar foto, eu gosto de aparecer"   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

“O ambiente é muito gostoso e faço uma série de coisas, como pegar as carteiras profissionais (de trabalho), tirar cópias, arrumar o arquivo, receber as pessoas. Se faço alguma coisa errada, atrapalhada, logo me orientam. Estou indo aos poucos até onde posso chegar, prosseguindo. Ficar parado, sem trabalhar, é muito ruim, não tinha como”, diz Rafa, como gosta de ser chamado.


O gerente de Gente e Gestão da empresa, Rodrigo Fernando da Silva, explica que o funcionário entrou após um trabalho de diversidade e inclusão feito no ano passado. “A vinda dele foi muito importante para todos. Participa de todas as reuniões e nos ajudou a ter um novo olhar, saber lidar com as diferenças. É ensinar e aprender todos os dias, com resultados para ele e para a companhia”.


Rafa, que ao saber da reportagem tratou de colocar uma camisa nova, fez questão de dizer que tem curso de teatro e que adora uma foto. “Trabalho sorrindo, sem tristeza. Pode tirar foto, eu gosto de aparecer, gosto mesmo”.


O que é


A Síndrome de Down é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células de um indivíduo. Isso ocorre na hora da concepção de uma criança. As pessoas com Síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população. As crianças, os jovens e os adultos com Síndrome de Down podem ter algumas características semelhantes e estar sujeitos a uma maior incidência de doenças. As pessoas com Síndrome de Down podem alcançar um bom desenvolvimento de suas capacidades pessoais e avançará com crescentes níveis de realização e autonomia. Ela é capaz de sentir, amar, aprender, se divertir e trabalhar. Poderá ler e escrever deverá ir à escola como qualquer outra criança e levar uma vida autônoma. A síndrome é a ocorrência genética mais comum que existe, acontecendo em cerca de um a cada 700 nascimentos, independentemente de raça, país, religião ou condição econômica da família.


FONTE: WWW.MOVIMENTODOWN.ORG.BR


Estímulos e capacitação são fundamentais


Desde a infância,acriança com Síndrome de Down deve ser estimulada, ter educação e nutrição de qualidade. Segregar ou evitar atividades só faz com que ela não se desenvolva corretamente.O pediatra e geneticista Zan Mustacchi, presidente do Departamento de Genética da Sociedade Brasileira de Pediatria, diz que já há conscientização social de que deve ser oferecida capacitação para a pessoa com trissomia 21.


“Primeiro, uma boa nutrição. Depois educação. Atingindo, dessa forma, um contexto de resultados para uma boa saúde. As pessoas com trissomia 21 aprendem de uma forma muito religiosa.Aqualidade de vida melhora e o custo com a saúde é muito reduzido”, diz Mustacchi, lembrando que a imunidade é menor em quem tem a mudança genética e o risco de infecção consequentemente maior.


Segundo ele, a detecção dos casos é cada vez maior no Brasil e decorre da gravidezna adolescência (óvulos imaturos) ou após 35 anos (óvulos envelhecidos). O médico ressalta que todas as oportunidades dadas às demais pessoas devem ser incluídas a quem tem Down.


Não há medicações indicadas para os casos. “Não há remédio nenhum específico. Infelizmente tem uma comunicação entre mães, via internet, que desvia a atitude de pessoas com emocional instável, dando medicamentos inapropriados”, diz o especialista.


A neurologista infantil Evangelina Vieira, que trabalha na Apae-SP, destaca a importância do acompanhamento dos casos desde a gravidez. 


“Podemos dar um aporte de vitaminas para que o cérebro tenha um amadurecimento melhor após o nascimento. E a criança precisa ter todo suporte multidisciplinar. A educação em casa também é fundamental: regras, limites”.


Segundo a médica, estimular a independência da criança com Down tem reflexos positivos na vida adulta. “Uma criança que não recebe estímulos fica muito infantilizada na fase adulta. Diferente de quem frequentou a escola, por exemplo”.


Evangelina detalha que o sistema público tembons centros para suporte aos casos, porém, as vagas são insuficientes hoje. “Por isso muitos perdem o início do tratamento, que é crucial”.


Segundo a especialista, a expectativa de vida desse público vem aumentando. Na década de 1950, a maioria vivia até a adolescência. Hoje chegam à terceira idade.


“Eles têm envelhecimento precoce e acabam tendo Alzheimer. Tanto que isso está sendo estudado, para os ajudar com um envelhecimento melhor”.


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