Demora para resultados de exames de coronavírus compromete análise do cenário

Sem saber como evolui a epidemia na região, ações ficam prejudicadas, dizem especialistas

Por: Maurício Martins  -  24/03/20  -  22:16
Testes são feitos em poucas pessoas, mesmo assim resultados demoram
Testes são feitos em poucas pessoas, mesmo assim resultados demoram   Foto: Carlos Nogueira/AT

A Baixada Santista já registra pelo menos sete mortes de pessoas com sintomas de infecção pelo coronavírus, mas os resultados dos exames enviados ao Instituto Adolfo Lutz (IAL), laboratório estadual de referência para o diagnóstico, não ficaram prontos, o que não permite confirmar a doença. Quase 500 pacientes doentes também aguardam os laudos na região, mais de 20 deles estão internados.  


ATribuna.com.br apurou com as prefeituras que a média de tempo passa dos 10 dias, quando o normal é de 2 a 5 dias. Mas já existem exames há 20 dias no IAL e nada de retorno. Os cinco testes positivos divulgados até agora, quatro em Santos e um em Peruíbe, não foram feitos no Adolfo Lutz e também precisam da contraprova do laboratório estadual para serem considerados oficiais.  


Prejuízo no enfrentamento 


Infectologista Evaldo Stanislau afirma que a demora por causa da insuficiência de testes não é só um problema para a Baixada Santista: é desestruturante para a assistência em todo o país. Segundo ele, o exame permite um isolamento mais condizente com a realidade. 


“Alemanha, Coréia do Sul, China, vários países fizeram essa estratégia. Uma vez que tem o  diagnóstico correto, em vez de mandar todo mundo ficar em casa, manda quem precisa. É uma maneira muito mais inteligente e proativa para controlar a epidemia”, diz Stanislau.  


Ele afirma ter certeza que há casos na Baixada Santista. “Não ter nenhum exame confirmado aqui (pelo Adolfo Lutz) simplesmente atesta a vergonha que é a sobrecarga do serviço de saúde e o Ministério da Saúde não ter provisionado o suficiente”. O infectologista condena o teste rápido e explica que o único confiável é o PCR com secreção respiratória.  


Para o infectologista Leonardo Weissmann, a demora no resultado dos exames dificulta a análise do panorama da infecção na região. Ele lembra, porém, que isso não interfere no tratamento, pois não existe medicamento específico contra o coronavírus. 


O infectologista Roberto Focaccia afirma que há falta de insumos para a realização dos testes porque a demanda é grande e cada exame demora entre 48 e 72 horas para ser feito. "Perde-se a possibilidade de sabermos quantos e onde estão os infectados. Como Baixada Santista ainda não tem um positivo, não é possível saber com certeza se há circulação do vírus”.  


Estado afirma que tem prioridades 


A Secretaria de Estado da Saúde não explicou a demora de até 20 dias para a Baixada. Diz que o Instituto Adolfo Lutz está priorizando o processamento das amostras de casos graves e óbitos. Afirma, ainda, que conforme definido pelo Ministério da Saúde, laboratórios públicos ou privados podem integrar a rede nacional, após validação de qualidade. 


A secretaria cita a rede de testes para o coronavírus em São Paulo, anunciada nesta segunda (23) pelo Governo Estadual, com 17 laboratórios ligados à USP e apoio do Instituto Butantan, visando para ampliar os testes no Estado. A capacidade será de dois mil por dia. 


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