Coronavírus avança para os bairros mais pobres da Baixada Santista

Com início na classe mais alta, epidemia agora avança em bairros carentes onde as pessoas têm dificuldades para cumprir medidas de prevenção

Por: Maurício Martins  -  07/06/20  -  11:25
Rádio Clube, na Zona Noroeste, está em terceiro lugar no número de casos em Santos
Rádio Clube, na Zona Noroeste, está em terceiro lugar no número de casos em Santos   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

O coronavírus está se espalhando pelos bairros de classe mais baixa das cidades da Baixada Santista, inclusive os que possuem favelas. Aos poucos, o perfil dos infectados no início da epidemia – que era principalmente de moradores de áreas mais ricas, próximas à praia - vai se modificando.  


Há uma dificuldade dos moradores de locais mais carentes, principalmente onde há grande adensamento populacional em moradias precárias, como em diques, cumprirem medidas de isolamento social, higiene rigorosa e uso de máscaras. Além disso, o poder público não é capaz de fiscalizar todos os pequenos comércios que existem nesses bairros.  


>> Confira a incidência de casos nos bairros das cidades da Baixada Santista


Em São Vicente a mudança é nítida. Há um mês, o Centro liderava com 22 confirmações. A Vila Margarida (onde fica a comunidade do México 70), que nem aparecia na contagem, agora está em primeiro, com 91 casos, contra 75 do Centro. Jóquei clube e Cidade Náutica, que possuem núcleos carentes, também tiveram alta nos números. Os dados da Reportagem foram apurados até 3 de junho.  


Segundo a Prefeitura, estão sendo desenvolvidas ações que serão levadas às comunidades mais vulneráveis. “O trabalho contará com campanhas educativas, divulgação por meio de material informativo e com atuação de agentes de saúde. Para todas essas comunidades, será intensificada a ideia de que o isolamento social é a principal forma de combater a doença”. 


Em Santos, chama a atenção o crescimento de casos na Zona Noroeste. O bairro Rádio Clube, onde estão as comunidades carentes do Dique da Vila Gilda, Caminho São Sebastião e Vila Telma, aparece em terceiro com mais casos na Cidade até o dia 3 de junho: 276. O número ainda é menor que a região da orla (veja arte), mas há um mês o Rádio Clube não constava nem entre os 10 com maior número de confirmados.  


“Temos preocupação com as populações de maior vulnerabilidade e estratégias importantes que já estão acontecendo, como a disponibilização do exame PCR (para detecção da covid-19) nas policíclicas”, diz o secretário de Saúde de Santos, Fábio Ferraz, que promete ações multisetoriais nessas áreas, incluindo orientação para higienização e uso de máscaras.  


Em Guarujá, a doença começou em bairros de maior poder aquisitivo, como Tombo, Astúrias e Guaiúba (bairro do primeiro caso), migrando para outros locais já a partir de abril. Pae Cará, em Vicente de Carvalho, lidera atualmente com 205 casos.  


“A dinâmica passou a ser de mais casos nos bairros de maior população. Para reforçar a importância do isolamento social, a Prefeitura tem reforçado ações, como distribuição de máscaras e fiscalização do comércio”, afirma a Administração Municipal. 


Cubatão mantém concentração de infectados na Vila Nova (117), bairro de classe média. Porém, na sequência aparece um bloco de bairros de reconhecida vulnerabilidade social: Vila Natal, Vila Esperança e Vila dos Pescadores. Os três reúnem 204 casos, praticamente 1 em cada 4 casos da cidade (25,24%). 


Poucas mudanças 


Em Praia Grande a doença também está concentrada hoje em bairros mais afastados da praia: Vila Sônia, Nova Mirim, Sitio do Campo e Anhanguera. A Prefeitura, porém, afirma que desde o início da pandemia essas regiões já apresentavam mais casos, até porque têm a maior quantidade de moradores fixos na cidade. Na orla, muitos apartamentos são de veraneio.  


Bertioga, Peruíbe, Mongaguá e Itanhaém não possuem números significativos para avaliação e afirmam que não perceberam mudanças por enquanto. Muitos bairros nessas cidades ainda não têm casos confirmados.  


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