Conheça a dura rotina de motoboys e bikeboys na Baixada Santista

Com o lockdown e as restrições de funcionamento, categoria ganha mais projeção com quase 30 mil

Por: Júnior Batista  -  30/03/21  -  09:04
Após o surgimento dos aplicativos, o contingente aumentou
Após o surgimento dos aplicativos, o contingente aumentou   Foto: Vanessa Rodrigues

Com o movimento reduzido nas ruas devido ao lockdown, fica mais evidente prestar atenção a uma categoria que não parou sequer um dia durante esse ano de pandemia: os entregadores, sejam eles de moto ou bicicleta. Aliás, segundo eles próprios, aumentou o contingente de quem abraçou essa atividade para levar o sustento pra casa. Os motivos são vários, desde o desemprego até a complementação da renda.


Antes de sair para mais uma entrega, o santista Douglas Dias de Almeida, de 30 anos, disse que o movimento foi e voltou durante os períodos de pandemia. “Teve uma época mais fraca, no fim do ano passado, depois foi voltando”, diz ele, que trabalha há nove anos como motoboy. “O que mudou são as máscaras e os cuidados com álcool. De resto, as precauções são as mesmas, seja por causa do sol, com protetor de braços e no rosto, seja na chuva, com capas”, diz.


Para Bruno Almeida, de 35 anos, há um ano na profissão, a atividade poderia render mais se as taxas cobradas dos usuários pelo iFood, principal aplicativo de entregas, fossem mais altas. Almeida é comerciante. Tinha uma microempresa de confecção de pipas. “Aumentaram os preços, tive que fechar. É molecada, favela, não tem poder aquisitivo, mas eles gostam, é uma brincadeira que passou de geração em geração”.


Segundo ele, as entregas estavam compensando até novembro, quando o movimento baixou. Ele trabalha das 11 às 18 horas, todos os dias – o suficiente para conseguir pagar as contas. “Mas as coisas aumentam, as taxas precisam aumentar um pouco, dar mais promoções. Fica bom para todos”.


Muito e pouco


Derick de Oliveira, 22 anos, faz entregas há oito meses. Trabalhando cerca de 12 horas por dia, consegue receber uns R$ 2 mil ao mês. “Poderia haver mais incentivos para que a gente não precise ficar tanto tempo trabalhando por dia para valer a pena. Há muita manutenção que precisa ser feita na moto”, justifica.


O casal Jefferson Duarte, de 38 anos, e Patrícia Gioia, de 39, está junto nas entregas. Eles começaram há quatro dias porque o trabalho autônomo de segurança minguou durante a fase emergencial do Plano SP. Cada minuto importa. “Já ouvi histórias de pessoas que deixam o motoboy mais de 30 minutos esperando. Acho que tem que ter bom senso das duas partes, é um trabalhador como qualquer outro”, diz Patrícia. Questionada sobre gorjeta, o casal brinca. “Isso aí nem existe mais, muito raro alguém dar”, diz Duarte.


Raras


As mulheres, como Patrícia, são raras exceções. Durante a manhã, percorremos ao menos três regiões de grande movimentação de restaurantes em Santos para conseguir encontra-las. Foi no Boqueirão, encostada numa mureta do Canal 4, que falamos com a sergipana Franciele Nascimento, de 24 anos.


Ela faz entregas de bicicleta. Mora na Cidade há cinco anos e, há pouco mais de um, trabalha em uma rede de doces. “Estou fazendo um extra, e até que está valendo a pena”, conta.


A bike já é sua companheira no dia a dia, por isso foi mais fácil se adaptar. “Até que dá para sobreviver. Em dias de chuva que é bom, porque tem muitos pedidos. Com esse endurecimento da pandemia e do isolamento, aumentaram os pedidos”, contou. E emenda: “De modo geral, vale a pena. É só trabalhar bastante. Não tem o que fazer, tem que aproveitar as oportunidades”.


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