Clima de relaxamento durante a pandemia deixa especialistas em alerta

“Parece que está havendo uma negação por parte da sociedade. Um pensamento coletivo de que, se não está melhorando, então vou fazer o que tenho de fazer”, avalia a infectologista Lina Paola

Por: Da Redação  -  13/08/20  -  11:40
Santos passou dos 15 mil casos de coronavírus
Santos passou dos 15 mil casos de coronavírus   Foto: Matheus Tagé/AT

A retomada das atividades econômicas tem gerado um clima de “está tudo bem” nas cidades que reabriram comércios e serviços à população. Esse comportamento tem deixado os especialistas em alerta. Afinal, a pandemia do novo coronavírus não chegou ao fim e, ainda que o Governo Estadual e prefeituras cruzem os dedos para as regiões paulistas avançarem de fase no Plano São Paulo, os números mostram que o vírus se propaga pelo País e mundo afora, mata e não haverá vacina contra ele tão cedo.


“Todo mundo achou que fosse algo curto, durar dois, três meses e não foi. Então, as pessoas estão ficando cansadas de uma situação que não melhora”, diz a infectologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, Lina Paola. “Parece que está havendo uma negação por parte da sociedade. Um pensamento coletivo de que, se não está melhorando, então vou fazer o que tenho de fazer”.


Segundo ela, a retomada precisa ocorrer, mas com calma, e a população não pode deixar de lado as medidas de segurança. “A gente não pode esquecer que a epidemia continua. Os números ainda estão se sustentando no tempo. Então, se os números não estão caindo, significa que ninguém pode relaxar”.


No País, a média tem se mantido em cerca de 1 mil mortes diárias. Os idosos se mantêm entre os mais afetados. Na Baixada Santista, a média móvel de mortes por covid-19 variou entre 13 e 15 entre os dias 5 e 11 de agosto. 


“Na Baixada, não estamos nos patamares de meses como maio e junho, Mas quem acha que o pior já passou está enganado. As pessoas não podem baixar a guarda porque esse cenário é instável”, explica o infectologista Evaldo Stanislau.


Contágio


Baixar a guarda pode significar, entre outras coisas, evitar aglomerações. Para se ter uma ideia do nível de propagação do vírus, matéria publicada pela BBC News Mundo, na última segunda-feira, mostra o resultado de uma reunião em família, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, com dezenas de pessoas: 14 pessoas testaram positivo para covid-19. E, antes de saber que estavam contaminadas seguiram com suas atividades. Após 16 dias, 41 indivíduos de nove famílias diferentes e em oito locais de trabalho distintos estavam com coronavírus. 


“Nessas situações, as pessoas não tomam os devidos cuidados, como uso de máscara e distanciamento. E, um indivíduo assintomático ao falar, por exemplo, está soltando gotículas que são infectantes e acaba contaminando várias pessoas. A contaminação ocorre em progressão geométrica”, informa o infectologista Roberto Focaccia. 


Cuidados


Os médicos afirmam ainda que nada mudou em relação a adoção de cuidados na batalha para evitar a propagação do vírus. “As pessoas acham que o perigo já passou, mas estamos em plena epidemia”, diz Focaccia. 


Para a infectologista Lina Paolo, a população baixou a guarda nesses quesitos, deixando de lado rotinas adotadas no início da pandemia. É necessário ainda manter o isolamento social, usar máscara e manter os hábitos de higiene para tentar conter o avanço dos casos.


“No começo as pessoas adotaram essa rotina como um ritual. Agora você vê gente sem máscara ou com o acessório com máscara na bolsa. Elevadores cheios, porque as pessoas não mantêm tanto a distância. Não usam mais álcool em gel com frequência. Isso não pode ocorrer”.


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